Zoom

Zoom

No início do mês de março, encontrava-se distribuída pelas livrarias nacionais a obra Zoom do húngaro radicado nos EUA Istvan Banyai, datada de fevereiro na ficha técnica. Publicado originalmente em 1995 pela Penguin Random House Company, mais concretamente pela Viking’s Children Group, uma chancela editorial do PenguinYoung Readers Group, o livro foi considerado o Melhor Livro Infantil de 1995 pelo New York Times e pela Publisher’s Weekly National Children’s Choice.

Ao folhear este livro visual, sem texto, numa livraria, encontrei rapidamente pontos comuns no que toca à forma com outra obra recentemente abordada neste espaço, Sombras da portuguesa Maria Monteiro. Na altura, invocando a intersecção de linguagens estéticas entre a banda desenhada, o livro ilustrado e outras apresentações narrativas, coloquei a hipótese de que Sombras poderia ser considerada uma obra de BD, sem recurso à palavra (frequentemente designada por muda).

Esse argumento permanece igualmente válido em Zoom. Existe uma apresentação de arte sequencial, inicialmente apenas espacial – do particular ao geral –  que num dado momento, quando o nosso olhar finalmente se afasta do selo colado no envelope da carta, se torna também temporal.

A justaposição de imagens está frequentemente patente em diferentes definições de banda desenhada. No entanto, é elástica q.b. para permitir que esta justaposição não tenha de ocorrer na mesma página / prancha. Quando toda a página / prancha é constituída por uma única vinheta, a sequência continua a estar imperiosamente garantida pela estrutura do livro / revista. Existem exemplos célebres de revistas norte-americanas mainstream em que tal aconteceu, como o comic book da Marvel The Mighty Thor (vol.1) #380, que retrata a batalha entre o deus nórdico e a serpente de Midgard, Jormungand, e o comic da DC Superman (vol. 2) #75, com a morte do Super-Homem pelas mãos de Doomsday, sem que nenhuma das revistas fosse desconsiderada como banda desenhada. Aliás, neste último caso, existiu uma contagem decrescente gráfica a nível da grelha nas histórias anteriores do Homem de Aço, com 4 vinhetas por página em Adventures of Superman#497, 3 vinhetas por páginas em Action Comics #684 e 2 vinhetas por página em Superman: The Man of Steel #19.

Independentemente do leitor classificar a obra como BD ou não, eventualmente mais interessante é que esta permite ser lida em qualquer sentido, sendo curioso verificar se se dilui ou, pelo contrário, se intensifica a sequência temporal em relação à espacial na leitura reversa, bem como a própria interpretação que se faz da narrativa.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão e com dimensões mais generosas:

Eis a sinopse da editora:
Trata-se de uma viagem sem palavras através de múltiplas perspetivas, umas quotidianas, outras impossíveis. Cada imagem vai ficando cada vez mais longínqua, página a página, para dar lugar a novos e não menos surpreendentes pontos de vista. As personagens desta breve história estão encurraladas numa espiral interminável que pode ler-se da primeira à última página, mas onde também se pode inverter a ordem da leitura convencional.

Ficam-se a aguardar novas obras de Istvan Banyai, como  Re-ZOOM e REM: Rapid Eye, onde o autor continua a explorar estes e outros conceitos, transportando sempre o leitor até paisagens oníricas de formas versáteis e com conexões para outros mundos.

nota: as imagens foram gentilmente cedidas pela editora, as quais se agradecem.

 

Deixa um comentário