Da última vez que retirei algo do baú – ou seja, que apresentei neste site um livro publicado há alguns anos e que estivesse presente na minha biblioteca – optei pelos 6 volumes iniciais da obra completa de Peanuts. Tratava-se da edição norte-americana de uma tira de BD norte-americana de um autor norte-americano. Desta vez, optei por algo diferente: um livro de poesia de um autor-norte-americano, com edição nacional e ilustrado por um autor português.
Aquando da comemoração do bicentenário do nascimento de Edgar Allan Poe, a editora Tinta da China, com o apoio da Fundação Luso-Americana, publicou a Obra Poética Completa de Edgar Allan Poe, autor internacionalmente famoso pelos seus contos com componentes de mistério e do macabro.
Uma preferência pessoal quando adquiro obras de poesia traduzidas e editadas em Portugal é que sejam bilingues. É um exercício deveras interessante comparar, lado a lado, o original com a genialidade a que muitas vezes obriga a tradução. Apesar dos originais de Poe não estarem presentes neste volume, o conhecimento de que a tradução, bem como a introdução e notas, fora realizado por Margarida Vale de Gato, era um sinónimo de qualidade suficiente para a ausência da língua inglesa não impedir a aquisição deste volume de capa dura.
Escuso-me a tecer comentários à poesia de Poe, dado não ser esse o âmbito deste espaço. A razão da escolha prende-se com as ilustrações do livro, da autoria de Filipe Abranches.
Não deixa de ser curioso que este volume tenha tido direito a divulgação junto de alguns canais especializados em banda desenhada. A razão é simples. Abranches é também um reconhecido autor de banda desenhada – não abordaremos hoje os seus interessantes percursos na realização de curtas-metragens. Não é incomum leitores, divulgadores e críticos de BD portuguesa acompanharem o percurso dos autores noutros registos.
No entanto, desengane-se quem aqui procura a linguagem da banda desenhada, pois ela encontra-se completamente ausente – e bem. Designar de gótica a criatividade que Abranches foi descobrindo seria redutor. No final, temos um conjunto de ilustrações com vida própria, sendo deveras interessante a análise na ausência e na companhia dos poemas que as inspiraram.
Curiosamente, dado ter sido um trabalho longo, Abranches teve oportunidade de rever algumas da suas imagens e de arquitectá-las novamente antes da publicação do livro. Ambas as versões foram alvo de exposição.
Em nota de rodapé, um elogio à sóbria composição do volume realizada por Vera Tavares, um nome também conhecido no mundo da ilustração e da BD.

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.
Caro Enanenes
Considerando o teu interesse por obras de poesia em textos bilingues, ilustradas por grandes artistas, aconselho-te a adquirires a obra trilingue “O Poema do Velho Marujo” / “The Rime of the Ancient Marine” / “El Poema del Viejo Marino”, de Samuel Taylor Coleridge, com ilustrações (e que ilustrações!) de Gustave Doré,numa edição de “Libri Impressi”, que écomo quem diz Manuel Caldas, uma garantia de qualidade indiscutível.
Abraço,
GL
Caro Geraldes:
Da Libri Impressi (com o selo de qualidade de Manuel Caldas), tenho a tradução do Fernando Pessoa de “O Corvo” de Poe, ilustrado por Gustave Doré.
De memória, outra obra presente na minha biblioteca pessoal com ilustrações de Doré são as Fábulas de La Fontaine. Tomei a devida nota para ambas as obras surgirem na rubrica de ilustração deste espaço 🙂 Muito obrigado! Abraço,