Oh, miúdas!

Oh, miúdas!

Depois de Muchacho – que teve inclusivamente direito a exposição no Festival Internacional de BD da Amadora em 2009, após lhe ter sido feita a atribuição de melhor álbum estrangeiro na edição do festival do ano anterior -, a Asa publicou mais uma obra de Emmanuel Lepage, intitulada Oh, Miúdas!

Eis a sinopse:
Este álbum é composto por duas partes e dá-nos a conhecer o quotidiano de Chloé, Leila e Agnès, três raparigas da mesma idade, que pertencem a meios sociais bastante diferentes, mas cujos caminhos acabam por se cruzar. Chloé sonha ser bailarina e a sua mãe trabalha arduamente para conseguir pagar–lhe as aulas de dança; Leila, oriunda de uma família de imigrantes marroquinos, é confrontada com o racismo a que a sua família por vezes é sujeita; Agnès, nascida no seio de uma família burguesa, pode ter tudo menos a atenção dos pais. Apesar das suas origens díspares, tornam-se amigas e juntas vão descobrir que crescer pode ser complicado…

Datada originalmente de 2008 e 2009 e publicada pela Futuropolis em dois volumes, a edição editada entre nós é aquela que compila os dois álbuns. E, para que dúvidas não haja, na capa está bem explícito tratar-se da edição completa (récit complet), decisão que se elogia em detrimento da separação em dois tomos. Distribuída em abril de 2013, os leitores poderão constatar que na ficha técnica consta a data de outubro de 2012 para 1.ª edição, momento eventualmente previsto mas não cumprido para a sua publicação. Quanto à capa escolhida pela Asa, corresponde à do primeiro tomo original e não à da edição integral original, lançada em fevereiro deste ano.

No primeiro livro de Lepage editado pela Futuropolis, a história é novamente da autoria de Sophie Michel, tal como na obra inédita em Portugal Les voyages d’Anna (Éditions Daniel Maghen, 2005). Ao contrário dessa obra, passada no final do século XIX e início do século XX, Oh, Miúdas! é um registo mais atual, apesar da narração ocorrer ao longo de um período superior a 20 anos.

Apesar de lamentar o pequeno formato com que foi lançado, quando comparado com a dos 2 tomos originais, há que confessar que, apesar de não ser o ideal, o mesmo não prejudica muito a leitura da obra. É possível observar, sem dificuldade, a mestria de cores e do traço que nos presenteia com as expressões e movimentos das personagens na cidade de Paris.

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Se a arte maravilha os olhos, o retrato duro e cru do argumento mantém-nos presos a uma realidade que bem conhecemos. O resultado é uma mistura agridoce, à medida que acompanhamos as personagens desde o seu nascimento até à entrada na idade adulta, No entanto, os truques narrativos (as diferenças sociais entre as amigas, a parentalidade e a orfandade, o ciclo da vida), bem como alguns dos temas escolhidos (por exemplo, descoberta do sexo e do amor, racismo, depressão), são alinhados num fluxo onde os estereótipos teimam em surgir.

Num registo que não procura ser documental e que na maioria dos casos consegue fugir a esse elefante branco, um fantasma quase obrigatório quando se pretende explorar mais de 20 anos em 123 pranchas, Lepage revela-se hábil ao privilegiar a história e as suas personagens através da sua composição gráfica. Graças a ele, somos condescendentes com as falhas no argumento e ficamos com a estranha sensação de que, afinal, o livro retrata a vida como a conhecemos.

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