O calçado e a BD (parte 1): da constatação

O calçado e a BD (parte 1): da constatação

Parte 1: Da constatação

Ser pai tem destas coisas. Apercebemo-nos de que existem mundos para além do nosso conhecimento sem termos de fazer nenhuma pesquisa. No ano passado, o meu filho, aquando da compra de umas sapatilhas Geox, tinha reclamado das mesmas não virem acompanhadas de uma revista de BD. Afinal, um colega seu tinha tido direito a uma… Mas nem sempre os factos que as crianças de 6 anos referem… são factos.

Somente meses mais tarde, aquando da compra de umas sapatilhas Geox para a sua irmã, vislumbrei num cantinho da loja o primeiro volume da revista Geox, com direito a uma aventura do super-herói Geox Boy de um lado e da super-heroína Geox Girl do outro (flip book). Devidamente traduzidas para português, cada história de 12 páginas mostrava a origem dos poderes destas personagens, inclusivamente com direito a um crossover. Com arte apelativa aos mais novos, este magazine impresso em Itália em papel de boa qualidade e datado de março de 2012, peca no… argumento, com direito a lugares-comuns e também a um sem-fim de frivolidades do suposto mundo adolescente feminino. Os autores são anónimos.

Os colecionadores terão de testar a sua sorte ao se deslocarem às lojas da Geox. Quanto aos curiosos em ler este material, este está disponível para download no site da marca, bem como os #2 quer das aventuras do Geox Boy, quer da Geox Girl.

Entretanto, realizei uma pesquisa rápida e constatei que esta não é a primeira incursão da Geox na banda desenhada, tendo em 2004 iniciado uma série intitulada Magic Geox

Com o regresso às aulas de 2012, eram necessárias umas novas sapatilhas. Curiosamente, a escolha do meu filho recaiu sobre umas sapatilhas Skechers, cuja caixa tinha ilustrados os super-heróis de uma série de desenhos animados que gostava de ver no Canal Panda, os Zevo-3. O curioso é que as novas sapatilhas ofereciam também uma revista de banda desenhada, a Ka-Pow! Comics #1, desta vez em inglês, impressa na China e datada de 2011, com uma história daqueles personagens (com continuação) e outras duas, uma dos Luminators e outra dos Hot Lights. Na verdade, todas estas personagens foram criadas para anúncios televisivos de publicidade às sapatilhas Skechers por John Massé – incluindo os Zevo-3, que viriam a ter direito mais tarde à série televisiva homónima.

Os autores estão devidamente identificados, com argumentos de David & Jenniffer Skelly e arte de Chris Copeland na primeira história e Dan Almanzar nas duas seguintes. É estranho ser a mesma equipa criativa que está por trás da aventura dos Luminators e dos Hot Lights, pois a banda desenhada destes últimos é extremamente fraca a nível de argumento e disposição gráfica. As restantes duas, apesar dos clichés, são provavelmente mais interessantes que as da revista Geox.

Na altura, a Skechers tinha também publicadas, segundo pesquisei, pelo menos mais 2 revistas, uma dedicada às meninas (Twirl! Comics) e outra com uma aventura a solo de Keewl Breeze, um dos elementos do Zevo-3.

Com estes pequenos exemplos, apercebemo-nos da importância da conceção de personagens e a sua utilização em publicidade televisiva, banda desenhada e séries animadas. O marketing da indústria de sapatilhas parece estar em grande forma…

nota 1: este artigo é o primeiro de uma série de 3.
nota 2: versão revista de artigo publicado no blog 100mural, em 17 de setembro de 2012.

Deixa um comentário