A BD ignorada nas bancas

A BD ignorada nas bancas

Muitas são as publicações disponíveis nas bancas que têm no seu interior uma pequena percentagem do seu miolo dedicada à nona arte, a qual será descoberta apenas aquando do seu folhear e/ou leitura. Não será a estas publicações que me referirei com este artigo, mas sim àquelas que dificilmente a visão esconderá do leitor que se dirige a uma banca, mas que o bedéfilo dificilmente processará como BD ou se interessará pela mesma enquanto tal.

É verdade que a BD infantil Disney, atualmente editada pela Goody, não é lida apenas por crianças. Mas quantos jovens e adultos se interessarão pela revista Carros, editada pela mesma editora há muito mais tempo que as revistas Disney do universo dos Ratos e dos Patos, incluindo BD em todos os números (o que torna exagerado o anúncio do regresso da BD Disney quando se iniciou a publicação da Disney Comix)?

No final de setembro, foi publicado o n.º 41 de Carros (o que significa que a revista mensal está quase com 3 anos e meio de idade) – já nos referimos ao n.º 40 aqui. O n.º 41 da revista oficial destas personagens da Disney / Pixar, traz um brinde, o 17.º carrinho da coleção, desta feita dedicado à visita britânica do segundo filme, personificada pelo autocarro londrino Topper Deckington III. Esta revista de atividades, com direito a 15000 exemplares, tem como público-alvo os meninos dos 3 a 8 anos e, das suas 36 páginas, constam sempre 3 histórias de BD, que, neste número, ocupam 9 páginas:
Corrida Normal (Argumento: Christopher Meyer & Charlie Price; Desenho: Andrea Greppi; Arte-final: Michela Frare);
– O melhor emprego (Argumento: Gabriele Panini; Desenho: Andrea Greppi; Arte-final: Michela Frare);
– Evasão Noturna (Argumento: Gabriele Panini; Desenho: Gianfranco Florio; Arte-final: Michela Frare).

This slideshow requires JavaScript.

Já a revista Phineas e Ferb, editada pela Zero a Oito, tem como brinde um trompete. Das 34 páginas desta revista com uma tiragem de 15000 exemplares e um disco como brinde, 16 são de banda desenhada:

Contos de Drusselstein
Argumento: Scott Peterson |  Desenho: Eric Jones  |  Arte-final: Mike DeCarlo

Na hamburgueria
Argumento:  Scott Peterson  |  Desenho: Eric Jones  |  Arte-final: Mike DeCarlo

Está Vivo!
Argumento: Scott Peterson  |  Desenho: John Green  |  Arte-final: Mike DeCarlo

Phineas e Ferb Salvam a América
Argumento: Jim Bernstein  | Desenho: John Green | Arte-final: Mike DeCarlo

No início do mês, a revista oficial Disney Junior n.º 2, editada pela Zero a Oito, oferecia material escolar (régua, borracha e lápis com ilustrações do Mickey). Este segundo número, com uma tiragem de 15000 exemplares, apresentava uma banda desenhada de 5 páginas baseada na série televisiva A Casa de Mickey Mouse, denominada As Cores do Arco-Íris, sem crédito aos seus autores. Igualmente anónima é a BD de 7 páginas Um Tesouro Barulhento, baseada na série televisiva Jake e os Piratas da Terra do Nunca, publicada no n.º 3 da revista (com um aumento da tiragem para 21000 exemplares e um trompete como brinde). Quer num quer noutro número, existem duas histórias, cada uma com 2 páginas (Princesa Sofia: A Aula de Dança e Little Einsteins: A Máquina da Música) ilustradas com linguagem contemporânea da BD (balões). Ou, se considerarmos as BD do início do século passado, onde inferiormente a cada imagem se colocava o texto da narrativa, então, teríamos mais dois exemplos.

Mas, se considerássemos essas histórias como exemplos de BD, também teríamos de incluir, por analogia, A Aventura no Lago, protagonizada pela Aurora na revista Disney Princesas 22, editada pela Goody (dado ser bimestral, conta já com mais de 3 anos e meio de longevidade). Registe-se que este título, com uma tiragem de 11000 exemplares, dirigido às meninas entre os 3 os 7 anos (cujas leituras foram presenteadas neste número com 2 pulseiras de Princesas Disney), tem, por vezes, veras histórias de BD no seu interior.

A revista portuguesa de banda desenhada mais antiga, daquelas que são atualmente publicadas no nosso país, atingiu o n.º 97. Tendo celebrado os 8 anos no mês passado, a revista Winx de setembro, editada pela Zero a Oito, mantém uma tiragem de 15000 exemplares e tem um copo para canetas como brinde. A BD, baseada na série de desenhos animados homónima dos estúdios Rainbow, criada por Iginio Straffi, ocupa 25 das 44 páginas da revista:

A boca do abismo
(Winx Club italiana #105 – Le fauci degli abissi; dezembro de 2012)
Argumento: Alessandro Bilotta
Desenho: Federico Franzò
Arte-final: Sonia Matrone & Santa Zangari

O título do artigo refere-se ao desinteresse das próprias editoras e promotores de nona arte em divulgar a BD destas revistas, bem como ao da comunidade bedéfila adulta no seu consumo.

nota: as imagens referentes à revista Carros 41 foram gentilmente cedidas pela Goody, as quais se agradecem e ilustram o texto.

4 comentários em “A BD ignorada nas bancas

  1. Olá Enanenes.
    Discordo! (lol)
    Em minha casa quem lê as Comix é a minha filha, eu apenas leio alguns Hiper, as histórias são infantis demais para mim. E pelo menos em minha casa nenhuma dessas revistas foi alguma vez ignorada. Existem muitas Winx e Princesas aqui (assim como as W.I.T.C.H. já cancelada). As outras revistas são vocacionadas para rapazes, e os meus já não têm idade para ler Carros, por exemplo. Mas tenho aqui alguns Tom & Jerry antigos do meu filho do meio!
    😉

    1. Caro Nuno:
      Ou muito me engano ou não estamos em desacordo 🙂
      Que as revistas são compradas pelos jovens leitores e suas famílias está patente nas tiragens que me dei ao cuidado de transmitir em cada uma das revistas e na longevidade de algumas delas (como escrevi, Winx é a revista portuguesa de BD mais antiga atualmente em publicação, tendo atingido os 8 anos o mês passado).
      Abraço,
      Nuno

    1. Caro Optimus:
      Essa revista portuguesa, produzida em Espanha, publicava histórias retiradas da revista britânica Spectacular Spiderman, distinta da norte-americana e com produção própria, dirigida a um público mais jovem que as BD norte-americanas. Os brindes eram também uma constante nesta revista. Estreada em abril de 2010, com periodicidade bimestral, desconheço em que número foi cancelada. No entanto, tenho conhecimento da existência do número 7, o qual anunciava o número 8 para abril de 2011 (o que não é sinónimo de o #8 ter sido realmente lançado). Se bem me recordo, o seu desaparecimento das bancas portuguesas coincidiu com um anúncio da Marvel norte-americana a encerrar a produção da Marvel UK. A revista britânica continua a existir, mas, na ausência de inéditos, à custa de reimpressões.
      Abraço,
      Nuno

Deixa um comentário