Recentemente, referi-me a uma obra da Libri Impressi que apenas foi editada em castelhano, Cisco Kid. Os leitores certamente se aperceberam que, mesmo para quem nunca estudou a língua, a mesma não é um entrave para a compreensão total das aventuras e desventuras do western desenhado pelo mestre Salinas.
O que talvez nem todos saibam é que uma editora uruguaia, a La Imprenta, tem editado livros do Príncipe Valente de Hal Foster, restaurados pelo português Manuel Caldas. Ao todo já foram publicados dois livros, estando o terceiro previsto para novembro.
As boas notícias para os bedéfilos portugueses que interromperam a sua coleção após o lançamento do 6.º volume da série, é a de que os volumes uruguaios a que me referirei correspondem ao que seria o volume 7 e seguintes.
O primeiro intitula-se La Reina y el Escudero e abarca o biénio 1949-1950 (clique-se nas imagens para visualizá-las com maior tamanho):
Nestas imagens do volume publicado em setembro de 2011 está patente o laborioso trabalho de restauração de Caldas.
O volume seguinte foi lançado em março deste ano e intitula-se Los Hijos de Odín, onde estão reunidas as pranchas do biénio 1951-1952. Registe-se que a prancha 828, datada de 21 de dezembro de 1952, com a visão de Valhalla, a que me referi quando abordei a obra El rescate emocional de un clásico: ‘Prince Valliant’, la obra cumbre de Hal Foster de Eduardo Martínez-Pinna, se encontra colorida, de modo a ser possível apreciar na totalidade a terceira vinheta e o seu jogo de cores. Clique nas imagens para as visualizar com maiores dimensões (apesar dos textos destes previews se encontrarem em inglês, na obra encontram-se em espanhol).
Pode realizar as encomendas no site da editora uruguaia, aqui. A continuação das boas notícias é que os volumes são impressos em Portugal, pelo que o valor dos portes não afugentará os bedéfilos nacionais.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.
Com todo o meu respeito ao trabalho do Caldas, se ele não vai fazer uma edição em portuguiês, que faça uma edição maltesa (língua oficial: Inglês) e publique em inglês. Não vou comprar uma edição de uma obra cuja língua original eu domino perfeitamente em uma língua que eu não domino tão bem, ainda mais quando ela é editada e impressa no meu país natal!
Caro Pedro:
Eu tenho algumas obras de BD em línguas que não domino minimamente devido à obra não estar disponível em línguas que me sejam mais familiares ou por estar interessado numa particularidade da edição em causa. Neste livro, o que está em causa é o magnífico restauro realizado, independentemente da língua. Felizmente, ler em espanhol não é difícil. Mas entendo perfeitamente o teu ponto de vista, dado o original ser em inglês.
Abraço,
Nuno
A arte que vem d’além-mar
quinta-feira, 10 outubro 2013 06:49
por Célio Heitor Guimarães
Ele é um perfeccionista. E apaixonado pelos quadrinhos (banda desenhada ou BD, em terras lusitanas) desde antes de completar seis anos de idade, quando passou a colecionar o suplemento Pim-Pam-Pum do jornal O Século, editado em Lisboa, Portugal. Aos 11 anos, o pai apresentou-lhe o Príncipe Valente e a arte de Hal Foster. Ficou fascinado. “Fulminado”, melhor dizendo.
– Além dos desenhos, a história também era magistral e havia na série uma unidade sublime – confessaria mais tarde.
Pois foi com essa série quadrinizada medieval, obra-prima da era dourada dos comics norte-americanos, que o português Manuel Caldas decidiu que, um dia, seria editor, mas um editor de qualidade e para editar clássicos, como o sublime trabalho de Foster.
O sonho de Caldas realizou-se alguns anos depois, em 2005, quando ele criou, de modo caseiro, a editora Livros de Papel, hoje Libri Impressi, em sua cidade-natal, Póvoa de Varzim. Edição inaugural: Príncipe Valente, de Hal Foster. O sucesso foi imediato, abrindo as portas para outros lançamentos: Ferd’nand, Hagar, Krazy Ket, Lance e Tarzan, igualmente de Foster. Que ultrapassou a fronteira de Portugal com a Espanha e conquistou o mercado espanhol.
Qual o segredo de Manuel Caldas? A qualidade do trabalho. Coisa de artesão. Sua editora é pequena, mas oferece produtos da maior qualidade, com acabamento primoroso. Caldas faz questão de manter a fidelidade aos originais e a isso junta um talento pessoal: a paciência. Mais do que isso: tem verdadeira obsessão pela qualidade. Às vezes, é capaz de dedicar 20 ou 30 horas na restauração de uma única página! Ao que se saiba, não existe caso similar no mundo.
– O meu objetivo é devolver às imagens a pureza do original e, se possível, melhorá-lo ainda mais, corrigindo pormenores capazes de se ver apenas com lupa – confessa.
Na impossibilidade de contar com as pranchas originais das histórias, Manuel recorre às páginas dos jornais da época, compradas pela internet, emprestadas de colecionadores ou digitalizadas. Em seguida, ele trabalha obstinadamente sobre elas, limpa dos defeitos, remove as cores (quando a edição é um preto e branco) ou restaura-as, “até conseguir atingir o traço original”.
Uma das mais recentes ocupações de Manuel Caldas foi com o caubói Cisco Kid, excelente criação do escritor Rod Reed e do desenhista José Luis Salinas. Os três primeiros episódios da série foram reunidos, em um volume de 88 páginas, em preto e branco, com introdução a cores, tamanho 23,4 x 28 cm e preço de 16,50 euros. A versão é em espanhol.
Vale acrescentar para os recém chegados ao mundo das HQs que Cisco Kid, publicado no Brasil inicialmente pela Ebal, do pioneiro Adolfo Aizen, nos anos 50 (em 1972, passou pela GEA; em 1974, integrou o elenco de Eureka, da Vecchi; em 1975, saiu pela Rio Gráfica; e em 1987 compôs a coleção Quadrinhos da gaúcha L&PM), figura no rol dos grandes heróis do faroeste, particularmente pelos roteiros bem construídos por Rod Reed e pela belíssima arte do argentino José Luis Salinas (1908-1985). É um justiceiro galanteador e bem humorado, sempre metido em encrencas, ao lado do parceiro, o gorducho Pancho (óbvia referência a Sancho Pança, de Dom Quixote), e do belo corcel Diablo. Criação literária do norte-americano William Sydney Porter (1862-1910), que se assinava O. Henry, chegou aos quadrinhos em 15 de janeiro de 1951, lançado pelo King Feature Syndicate, permanecendo em atividade até 1968. O herói ganhou notoriedade, também, no cinema e na televisão, vivido por Duncan Ronald, Gilbert Roland, Cesar Romero e Jimmy Smits.
Aos eventuais interessados, o endereço eletrônico do editor Manuel Caldas é mcaldas59@sapo.pt. A página dele na internet é http://www.manuelcaldas.com.
Com as despesas de postagem, o volume de Cisco Kid fica em 21 euros.
(Texto publicado nesta quinta-feira 10.10 no blog do jornalista Zé Beto, de Curitiba, PR – http://www.jornalenoticias.com.br/zebeto)
Caro Célio:
Obrigado por republicar o seu texto sob a forma de comentário neste espaço, uma vez que poderá dar informações valiosas aos visitantes brasileiros e não só.
Abraço,
Nuno