Daytripper

Daytripper

Este romance gráfico foi publicado inicialmente nos EUA como uma minissérie de 10 números pelo famoso selo Vertigo da DC Comics. Reunido num único volume, foi um êxito comercial e ganhou alguns dos mais invejados prémios da nona arte (Eisner, Harvey e Eagle, entre outros).

Ou não fossem os gémeos Fábio Moon e Gabriel Bá brasileiros, a obra viria a ser publicada no Brasil pela Panini. Foi graças a esse feito que a versão brochada (e não a cartonada) foi distribuída em março nos quiosques portugueses com um papel cuidado.

Quando nos deparamos com elogios de autores consagrados como Jeff Smith, Paul Pope e Terry Moore impressos na edição e uma introdução ilustrada por Craig Thompson, rapidamente nos apercebemos que Moon e Bá já não se limitam a ter um pequeno nicho de seguidores. De facto, já se passaram mais de 15 anos desde o primeiro número do fanzine 10 Pãezinhos. Há mais de uma década, eu aproveitava as minhas idas ao Brasil para encontrar as suas publicações mais underground e as edições publicadas pela Via Lettera. Só mais tarde, com a Devir portuguesa a funcionar em pleno, começaram a chegar a Portugal, via importação, algumas edições de Moon e Bá editadas na congénere brasileira…

Mas os jovens foram-se tornando trintões e a maturidade como autores não demorou a chegar. Este é, sem dúvida, o seu trabalho mais interessante publicado nos EUA – após algumas edições na Image e Dark Horse. É difícil lê-lo e ir ficando indiferente com a leitura. Provoca sentimentos – nem sempre agradáveis – ao leitor. Não é pretensão que se leia sobre a vida mas sim que se viva a vida… e a morte. Somos visceralmente obrigados a engolir o efémero, enquanto percorremos uma montanha-russa. Se algures adivinhamos o que acontecerá na próxima página, duas depois rumamos num sentido completamente diferente, mantendo a descoberta permanente, sem que percebamos se realmente estamos a palmilhar o terreno do realismo mágico ou não.

Influenciados, entre outros, pelas obras de Machado de Assis (e o delicioso Memórias Póstumas de Brás Cubas) e José Saramago (Ensaio sobre a CegueiraIntermitência da Morte), o livro causa inquietude. Acredito que muitos leitores se vão questionar sobre o que poderiam ou deveriam estar a fazer; creio também que muitos tentarão se aperceber em que ponto o seu percurso divergiu dos seus sonhos e, mais importante, se ainda vão a tempo de alcançar algumas ambições. A ler, antes de morrer.

Clique nas imagens da antevisão para apreciar as imagens em toda a sua extensão:

nota: republicação revista do artigo publicado no 100mural, em 28 de março de 2013; na altura, a edição brasileira da Panini estava a ser distribuída nas bancas portuguesas.

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