Numa altura em que Mauricio de Sousa se encontra a celebrar os 50 anos de Mônica, proponho um passo atrás do tamanho de 20 anos para apreciar a edição comemorativa de então – Mônica 30 Anos.
As contas são fáceis: se a personagem Mônica de Mauricio de Sousa foi criada em 1963, em 1993 tinha 30 anos. De modo a festejar tal ocasião, a editora Globo lançou a Edição de Aniversário Mônica 30 Anos, um álbum de capa mole com um formato deveras generoso (cerca de 19 x 27,5 cm).
O livro começa com os extras: uma introdução de Mauricio sobre a génese da personagem, fotos das suas filhas em tenra idade (que inspiraram a Mônica, Magali e Maria Cebolinha), algumas capas da revista Mônica, desde 1970, ainda na editora Abril, à data da publicação, a sua transposição para o cinema, teatro, televisão e parques temáticos, as edições de revistas noutros países, uma entrevista fictícia com a personagem Mônica e uma entrevista real com a homónima filha do Maurício, entre outras curiosidades.
Interessantes são também os pin-ups desenhados por autores como Will Eisner (com o Spirit), Guido Crepax (com Valentina), Claudio Villa (com o Tex e seus pards), Nicola Mari (com Nathan Never), Gallieno Ferri (com Zagor e Chico), Corrado Roi (com Dylan Dog e Max), Giancarlo Alessandri (com Nathan Never e Java), Roberto Diso (com Mister No, onde além da Mônica, surgem muitos elementos da Turma), Silver (com Lupo Alberto e os seus amigos), Álvaro de Moya, André Le Blanc, Hugo Pratt (com Rasputin), Joe Kubert, Luis Zé, Ziraldo, Miguel Paiva, Milo Manara e Jim Davis (com o Garfield).
Entretanto, surgem as estórias. Começa-se com a primeira aparição da Mónica na tira cómica do Cebolinha, na altura publicada nos jornais. Do ponto de vista visual, as personagens eram bastante diferentes, podendo-se assistir ao longo do livro à evolução gráfica daquelas. E também a um desenvolvimento da personalidade de cada personagem. Não deixa de ser curioso notar que a Mônica surge como irmã do Zé Luiz, algo que é apagado posteriormente da história das personagens (como se vê, a alteração retroativa da continuidade não é exclusiva dos norte-americanos).
Após as tiras cómicas, temos direito ainda a algumas pranchas semanais do Cebolinha, sempre com a participação da Mônica. Posteriormente, chegam as histórias a cores, as primeiras das quais ainda com um grafismo diferente do arredondado final.
Na segunda metade do álbum, é publicada a história que batiza o coelho da Mônica com o nome de Sansão. Apesar do argumento não ser o mais forte, do ponto de vista artístico é interessante ver as personagens Tarzan e Jane, Fantasma, Hulk, Batman e Robin, Super-Homem e Madrake e Lothar transmutados nos traços do universo da Mônica.
A temática das histórias é bastante variada, havendo um pouco de quase tudo para todos os gostos (crossover com a Turma da Mata – mais propriamente com Jotalhão -, extraterrestres, bruxas, autómatos, sonhos fantásticos e outros assuntos mais terra-a-terra).
A última história, avança 30 anos no futuro para nos mostrar a vida das personagens. Ao contrário da história publicada em Cebolinha #99 da editora Abril, O Calendário do Tempo (1981), o Cebolinha não se encontra casado com uma prima da Mônica – com a qual tinha um filho, o Cebolinha Júnior -, nem as personagens usam um foguete nas costas e um capacete de vidro nas cabeças. Desta feita, o futuro mostra um Cebolinha casado com a Mônica, com 4 filhos (Monique, Asparguinho, Cenourinha e Jónica) e 4 cães (Floquinho III, Folipo, Tufa e Felpudo). Mas é verdade que o Franjinha continua a surgir com bigode…
Apesar da Mônica ter feito 50 anos em 2013, tal em nada prejudica a leitura desta obra!
Mônica 30 Anos: Edição de Aniversário (1993)
(vários autores)
Globo, 1993 (Brasil)
256 pp, brochado
nota: republicação revista do artigo publicado em bedê, em 4 de junho de 2006.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.