O Amor Infinito que te tenho

O Amor Infinito que te tenho

2 - Segunda edição portuguesa, da PolvoPaulo Monteiro e Susa Monteiro têm patente uma exposição na Mundo Fantasma até ao próximo dia 5 de janeiro (pormenores nos destaques presentes na coluna direita deste espaço).

Para grande pena minha, nunca folheei nenhum número do premiado fanzine galego Barsowia (2003-2009) do extinto coletivo Polaqia, no qual foram publicados alguns autores espanhóis cujo trabalho muito admiro, bem como autores de outras nacionalidades, incluindo os portugueses Paulo e Susa Monteiro. Deste modo, nunca tive contacto em primeira mão com a maioria das obras presentes no livro de Paulo Monteiro O Amor Infinito que te tenho e outras histórias. No entanto, os fanzines bejenses Café e Cigarros e Venham +5 encarregaram-se de suprimir essa falta (ou, a um nível bastante diferente, fui exposto também ao trabalho de Paulo Monteiro através das colaborações nos fanzines Efemérides de Geraldes Lino).

Mas em 2006, quando visitei o 2.ª Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, ainda estava em plena descoberta do Paulo Monteiro enquanto autor. E, provavelmente, toda a comunidade bedéfila também… Atualmente, o livro supracitado do Paulo Monteiro tem um historial multipremiado (Prémio Nacional de Banda Desenhada 2011 para melhor álbum nacional e troféu Central Comics 2011 para melhor publicação independente) e encontra-se publicado em vários países. Podem clicar nas imagens seguintes para visionar com maiores dimensões a 1.ª edição portuguesa (editada em 2010 pela chancela Polvo da Rui Brito edições), bem como as edições polaca (Nieskończona miłość, którą do ciebie czuję i inne historie, Timof Comics, março de 2013), francesa (L’Amour Infini que j’ai pour toi, 6 Pieds Sous Terre, junho de 2013) e espanhola (El Amor Infinito que te tengo y otras historias, Edicions de Ponent, junho de 2013):

As capas, todas elas diferentes, têm sido ilustradas por Paulo Monteiro. Em dezembro deste ano, a obra será publicada no Brasil (pela Balão Editorial), em janeiro de 2014 no Reino Unido (The Infinite Love I have for you and other stories, Blank Slate Books) e em maio de 2014 na Sérvia (Komiko), motivo mais do que suficiente para a obra ser abordada neste espaço.

No entanto, a razão não será essa… Eu tenho uma relação emotiva com o livro que possuo. Permitam-me mais uma analepse. Durante a minha licença sabática no que se refere à BD, quando me apercebi que tinha sido editada em livro uma antologia do trabalho do Paulo Monteiro, rapidamente me dirigi às livrarias, sem sucesso, mesmo naquelas que a prática nos diz que ainda têm alguns exemplares dos títulos difíceis de encontrar. Era tarde demais. A obra estava esgotada. Em junho de 2011, altura em que  a obra ainda não tinha sido premiada, contactei autor e editor, que me confirmaram a inexistência de exemplares à venda. No  entanto, havia esperança: no mês seguinte deveria sair uma 2.ª edição (o que se veio a concretizar em janeiro de 2012). Foi a poção mágica que sarou a tristeza que sentia… E como o que sara não dói, o tempo foi passando, e somente em setembro deste ano, após não a ter vislumbrado à venda, me informei se a segunda edição tinha sido ou não uma realidade e adquiri o fruto tão desejado após a confirmação. Entretanto, as expectativas relativas a uma obra que a certo momento me parecia inatingível tinham vindo a crescer, a crescer, a crescer…

Parece-me importante partilhar este percurso, pois a leitura do livro foi feita enquanto bedéfilo, enquanto admirador do trabalho de Paulo Monteiro e enquanto um colecionador que finalmente obtém uma obra que há muito desejava possuir, dada o elevador valor que lhe atribuiu. Estas atribuições imaginárias criam frequentemente desapontamentos… Felizmente, o livro de Paulo Monteiro é obra para corresponder às expectativas criadas. Rapidamente foram reconhecidos os traços, as histórias, as temáticas, sendo o meu ser frequentemente transposto para um Alentejo imaginário baseado num misto de vivências raramente coincidentes do autor e do leitor.

Duas das histórias não inéditas foram ou adaptadas à edição em livro ou redesenhadas e ampliadas, opção em que encontramos um paralelismo com a metodologia narrada pelo autor nos excertos do seu diário de trabalho publicados no final do livro. Nesse espaço, somos convidados a, sem máscaras, partilharmos a intimidade do autor, enquanto assistimos à sua procura incessante pela transposição exata da ideia em imagem e as frustrações de quando a mesma não resulta na(s) primeira(s) tentativa(s).

Tenho de confessar que não estou familiarizado com o passado poético de Paulo Monteiro, nunca tendo lido nenhum dos fanzines de poesia que escreveu e editou (Poemas – 1988; Poemas a andar de carro – 2003 e Poemas Japoneses – 2005). Mas sinto que o deveria. O percurso de vida de Paulo Monteiro, com base no que as suas minibiografias nos deixam descobrir, revela-nos experiências múltiplas e díspares que têm em comum – mais do que uma procura – um vivenciar, um viver… uma vida! E uma ligação à poesia e ilustração deste tenra idade, sem que provavelmente tenham caminhado lado a lado.

A poesia está omnipresente na dezena de propostas narrativas desta antologia. Será, aliada ao amor do título, o denominador comum de uma obra introspetiva e, por vezes catártica, de uma honestidade singular. Mais importante do que a maturidade relacional entre o texto e a imagem em cada vinheta, são as emoções que cada história – frequentemente, um pedaço de vida – despertam. Pessoalmente, é-me impossível ler Porque Este é o Meu Ofício sem um aperto extremo no peito (eventualmente por razões que explicitei anteriormente; e a data do final da exposição a que me refiro no início do presente texto, a isso também potencia, dado ser o dia em que celebraria com o meu pai o seu aniversário se fosse vivo). Mas não é um momento único de identificação. A obra prima por muitos desses momentos, por eventos de vida importantes o suficiente para marcá-la, sejam eles de celebração, sejam de luto. Acredito ser essa a razão da falsa noção paradoxal que se possa ter sobre o livro: a sua leitura é uma descoberta pessoal, um percurso íntimo, onde identificamos pontes com a nossa própria existência. Por outro lado, os leitores procuram-no e prezam-no e os editores de outros países apostam nele para configurar no seu catálogo, existindo um acesso cada vez mais global e cada vez menos uma obra de de culto desconhecida do público. Quando espelhamos na arte a vida, ela prega-nos essa partida…

nota: as imagens foram gentilmente cedidas pelo autor, as quais se agradecem e ilustram o texto. Cliquem nas mesmas para as visionar em toda a expansão e com maiores dimensões.

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