O Livro dos Dias

O Livro dos Dias

O novo álbum de banda desenhada de Diniz Conefrey é coeditado pela Quarto de Jade e a Pianola Editores (uma das editoras da associação Landscapes d’Antanho/O Homem do Saco). O Livro dos Dias é uma reflexão sobre os rituais mexicanos pré-colombianos.

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Eis a sinopse da editora:
O Livro dos Dias é uma narrativa gráfica, da autoria de Diniz Conefrey, baseando-se em vários textos que fizeram chegar até nós o conhecimento e o sentido poético que caracterizaram os povos indígenas da região da antiga Cidade do México. Este livro propõe uma formulação que tenta espelhar o ritmo interior destas sociedades pré-colombianas.
«Tendo como base vários textos que fizeram chegar até nós o conhecimento e o sentido poético que caracterizaram os povos indígenas da região da antiga Cidade do México, conjuga-se nesta narrativa gráfica uma formulação que tenta espelhar, na interpretação entre a palavra e a imagem, o ritmo interior de uma sociedade. Nesta perspectiva, poder-se-á afirmar que os espectáculos urbanos dos mexica assumiam-se como gigantescos códices abertos. O ritual mexicano pode ser considerado como uma técnica de apropriação ou uma tentativa de regularizar a natureza, porém o objectivo principal não era instrumental, mas antes estético, expressivo, interrogativo e criativo.»

Escreve o autor:
Os mexica-colhua consideravam que as imagens eram mais do que apenas uma representação ou figuração de coisas existentes num outro lugar, num outro tempo. As imagens mexicanas eram designadas para apresentar certos aspectos do mundo divino fisicamente presente e palpável; ultrapassavam uma barreira que os sentidos europeus normalmente não conseguem atravessar. O marcar da pincelada e a disposição das formas e das cores trazia literalmente o universo dos deuses à vida. Existe agora um largo consenso de que a noção de “personagem fixa” das entidades mexicanas tem uma apreensão errada, e de que os mexica e a Mesoamérica em geral, pensavam mais em termos de forças sagradas, com qualidades associadas e graus de manifestação, movendo-se constantemente em completa interacção: maiores grupos de possibilidades invocados por uma gama de nomes do que entidades específicas, com zonas de influencias particulares.

Apesar dos firmes contornos pretos, detalhes iconográficos e cores, gestos veementes e aparentemente balanceadas oposições das entidades nos códices, estas migravam constantemente e intermudavam. Neste sentido as técnicas praticadas pelos tlacuilos eram mais um caminho para o divino do que um meio de expressão. Os cânones pré-hispanicos de selecção e arranjo eram desenhados para ajudar a compreender e extrair o Essencial. Uma imagem tornava “visível” a própria essência das coisas porque era uma extensão dessa essência. É por isso que a instrução religiosa dada aos tlacuilos nas escolas era uma parte indispensável na sua formação artística. Complemento espiritual andava de mão dada com a mestria técnica, como é sugestionado pela dualidade do termo “tinta vermelha-tinta preta”.

A participação em massa dos mexica durante os “excessivos rituais públicos” não reforçava apenas a coesão social e cultural, mas reafirmava também a existência de uma sociedade que constantemente se colocava em espectáculo. Os grandes rituais representavam completamente um meio extrovertido de reproduzir o ciclo cósmico e temporal na superfície da terra, debaixo das esferas celestes. A convicção de que efectivamente regulavam o universo galvanizava estes espectáculos urbanos como sendo gigantescos códices abertos através da larga praça cerimonial de México-Tenochtitlan, que ocupava o centro da cidade dividida em quatro bairros, numa clara imitação do cosmos.

Esta praça era dominada pelo Templo Maior, o monte divino, o pilar vertical, no qual as forças cósmicas convergiam. As várias sociedades mexicanas – civilizações de espectáculo e ostentação – aparecem totalmente dedicadas à encenação e performance dos rituais e pompa litúrgica que era indissociável das pinturas dos códices e dos frescos incluídos nos templos. Enquanto o ritual mexicano pode ser considerado como uma técnica de apropriação ou uma tentativa de regularizar a “natureza”, o objectivo principal não era instrumental, mas antes estético, expressivo, interrogativo e criativo.

Capa cartonada com badanas, 128 páginas a cores.
Formato 21,5 X 30,4 cm.
PVP 22.00€.
Impresso na Europress em Setembro de 2014, numa tiragem de 300 exemplares

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