Blacksad: Amarillo

Blacksad: Amarillo

John Blacksad é o felino antropomorfizado criado pelos espanhóis Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido para o mercado de banda desenhada franco-belga. O policial negro do gato preto com gabardina e propensão para colocar em perigo as suas sete vidas tem vindo a receber inúmeros prémios internacionais, entre os quais um Harvey Award para o melhor álbum em 2005, o Prémio Melhor Série de Banda Desenhada no Festival de BD de Angoulême 2006 (antecedido por dois galardões em 2004) e dois Eisner Awards em 2013 para o melhor artista plástico e melhor álbum estrangeiro publicado dos Estados Unidos. Com o álbum Amarillo, os autores receberam o Premio Nacional de Cómic 2014 em novembro, altura em que as vendas mundiais já eram superiores a um milhão e meio de exemplares e com direito a cerca de uma vintena de traduções. Trata-se do galardão espanhol mais importante em BD, tendo o júri sublinhado se tratar de uma BD sem fronteiras, carregada de referências culturais e com uma ótima execução.

Tendo esta série se iniciado em 2000 com a aposta da editora francesa Dargaud, foi um dos pilares para que se desse a emigração criativa espanhola para o mercado francófono neste milénio. Em Blacksad, os animais evocavam as fábulas de Esopo e o movimento da animação Disney mas seguiam a prosa de Woolrich, Chandler ou Hammett, o guião e a fotografia dos filmes noir protagonizados por Bogart, Bacall e Hayworth e ostentavam uma caracterização realista, socorrida por aguarelas detalhadas e locais ou cidades reconhecíveis.

Ambientada nos EUA, em plena década de 50 do século passado, a série tem uma estética muito própria, característica da época e local, procurando a moderna narração realizar uma ponte entre o que aconteceu então e a atualidade. Se a crítica considerou simples o argumento do primeiro volume, Algures Entre as Sombras, dedicado a estabelecer o género e o público-alvo (a tentativa de não se confundir com uma publicação infantil através da violência e nudez ocasional) e repleto de referências ao policial noir, os volumes seguintes sofreram duas importantes alterações: a introdução da personagem Weekly como contraponto cómico e a abordagem de grandes temáticas, como a segregação racial em Artic Nation, a caça às bruxas durante a Guerra Fria em Alma Vermelha ou a dependência de substâncias em O Inferno, o Silêncio.

Amarillo é uma homenagem dos autores aos road-movies norte-americanos, numa BD descendente do espírito da beat generation e do livro Pela Estrada Fora de Jack Kerouac. A viatura escolhida para uma porção do trajeto sinuoso entre Nova Orleães  e Nova Iorque foi um Cadillac Eldorado amarelo, ilustrado na capa do livro.  Paralelamente à boémia e egoísmo hedonista de alguns personagens, Blacksad deixa de ser apenas um detetive americano, veterano da Segunda Guerra Mundial, para se tornar uma personagem menos estereotipada, conferindo os autores ao leitor o privilégio de conhecer alguns dos seus familiares e aguçar-lhe a curiosidade sobre o seu pai, o qual não surge na trama, mas a quem se alude.

Após os primeiros 4 tomos editados pela Asa (bem como o fora-de-série Os Bastidores do Inquérito), o quinto tomo desta popular série surge agora no nosso país via o selo editorial Arcádia do grupo Babel.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão e com dimensões mais generosas:

nota: as imagens foram gentilmente cedidas pela editora.

2 comentários em “Blacksad: Amarillo

  1. Pena que essa coleção nem sonhe em vir ao Brasil.
    Ainda bem que quando estive em Madri, comprei o primeiro Blacksad e este, Amarillo.

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