A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença

A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença

Os visitantes deste espaço já certamente contactaram com o livro A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença de Sara-a-Dias, através da entrevista concedida ao programa radiofónico Bandas e do vídeo com o primeiro trailer do álbum.

Editado pela Ideia-Fixa, chancela da Alêtheia, o livro divide as suas cerca de 200 páginas em 4 capítulos: Como cheguei aqui, Vivência no pires, Pretendentes e como me risquei da lista e Desenharei até que o medo me doa, dependendo da temática abordada pela autora.

Sendo uma obra que não foi concebida em particular para os leitores de banda desenhada, mas para os leitores em geral, foi batizada com o termo “novela gráfica” (termo que não subscrevo academicamente – nem sequer a tradução correta romance gráfico – mas isso não será alvo de análise neste texto). No entanto, aqui o termo é utilizado com um sentido duplo, de modo a fazer o trocadilho com o livro ser “digno de uma telenovela venezuelana”.

Atente-se então na sinopse da editora:
Estão perante um livro. Uma biografia. Um diário. Uma novela gráfica. Algo digno de uma telenovela venezuelana. Isto não é a história da menina pobre que toma banho no mar salgado e se apaixona por um menino rico. Não. Até porque nos mantemos todos na precariedade (sem excepção). É sim um rewind à infância, à escola, às paixões e às horas extraordinárias. Sara-a-dias enfia as luvas e põe mãos à obra para escancarar todos os seus segredos. Descubram-nos sem pudor.

É este o texto que se encontra na contracapa do livro, no qual surge ainda a mãe de Sara-a-Dias a questionar se é este o título do livro e a garantir-nos que a filha não sabe o que diz. Se dúvidas houvesse, está-se perante uma obra onde o humor será um elemento continuamente presente.

O nascimento de Sara-a-Dias, o alter ego de Sara Dias, não ocorreu neste volume. A autora deu vida a esta personagem no dia 5 de março de 2012, após o seu tupperware ter ido parar a um poça de água em frente a uma paragem de autocarro, tendo a vintena de futuros passageiros observado-a a recuperar os alimentos e o dito tupperware a boiar na poça de água. Ao transpor este episódio para o papel, Sara Dias não mais parou de partilhar os pormenores mais caricatos do seu quotidiano através da personagem, tendo criado uma página de facebook.

Apesar de terem tido trajetos diferentes, A Criada Malcriada de autor anónimo (Objectiva, 2013), Psicopatos de Miguel Montenegro (ISPA, 2014) e As Crianças São Muito Infantis de Fernando Caeiro e Filipa da Rocha Marques (Bertrand, 2015), tratam-se de projetos facebookianos que, tal como o recente A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença, vieram a conhecer uma versão em papel.

Contudo, uma diferença de A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença com os demais é o material impresso ser totalmente inédito do que se encontra disponibilizado online.

No início da leitura, os leitores aperceberão que as vinhetas não se encontram delimitadas (para ser  mais preciso, são-no raramente) pelas habituais linhas que individualizam os quadradinhos. A sua delimitação é feita através da composição gráfica da página, mostrando a autora um domínio do sentido de leitura de uma banda desenhada, sem que o leitor tenha alguma dificuldade durante a mesma. Esta aparente ausência de delimitações permite à autora explorar diferentes soluções gráficas ao longo do livro, revitalizando-o ao longo das duas centenas de páginas, onde o espaço intervinhetal funde a prancha aos cenários retratados.

Fruto do contexto social em que vivemos, a crítica implícita e explícita ao mercado de trabalho é um dos temas abordados, nos quais são narradas algumas experiências que infelizmente são sofridas por milhares de jovens adultos (e não tão jovens) no dia-a-dia. Talvez seja este a ponte com as futuras aparições de Sara-a-Dias, uma vez que os três primeiros capítulos provavelmente esgotam o tema do seu nascimento e vivência enquanto infante e jovem. Terminada a leitura, ficamos a aguardar mais vivências adultas, reias e surreais, de Sara-a-Dias, em que o seu quotidiano retrate não só a vida de Sara mas a nossa.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão e com maiores dimensões:

Em nota de rodapé, refira-se que apesar do livro ter começado a ser encontrado nas livrarias desde o passado dia 6, o seu lançamento oficial ocorrerá na Alêtheia, em Lisboa, no dia 17 de março.

Até lá, fiquem com o último teaser:

nota: as imagens foram gentilmente cedidas pela autora.

Deixa um comentário