O Menino Quadradinho

O Menino Quadradinho

No primeiro quadrimestre do mês, a editora Booksmile publicou  a obra O Menino Quadradinho da autoria do brasileiro Ziraldo. Este importante autor de banda desenhada brasileira não será completamente estranho aos portugueses, uma vez que algum do seu material foi distribuído em Portugal por importação.

Por outro lado, como nos recorda Leonardo de Sá (cf. secção de comentários), “vários álbuns do Ziraldo já tinham sido publicados em Lisboa pela Melhoramentos de Portugal – Editora Lda., um quarto de século antes, no início dos anos 90. E também publicaram em 1991 o álbum O Menino Quadradinho, todos na altura com adaptação para português europeu por António Avelar de Pinho”.

A criação mais popular de Ziraldo é O Menino Maluquinho, personagem que nasceu num livro ilustrado em 1980 e teve direito a outras publicações em prosa, banda desenhada e adaptações a diferentes meios como cinema, televisão e teatro.

Em 1989, Ziraldo publica O Menino Quadradinho, uma obra que começa com uma banda desenhada para terminar em prosa. Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:

A premissa da obra é a de um menino que adora tanto ler banda desenhada que se transporta para dentro das vinhetas, de modo a também ele viver os acontecimentos das suas leituras. Essa é a razão do protagonista se denominar Menino Quadradinho, uma analogia com a BD que curiosamente funciona melhor em Portugal (a denominação antiga “histórias aos quadradinhos”) do que no Brasil, onde o diminutivo de quadrado escolhido para denominar as HQ foi “quadrinho”.

Ao longo das vinhetas, o leitor rapidamente se apercebe pelo teor das onomatopeias constantes das mesmas que as suas revistas de BD preferidas são as de aventuras e fantasia de teor infantojuvenil. Estão representados o Super-Homem, Batman, Spirit, a Turma do Pererê (BD infantil do próprio Ziraldo, criada em 1959), Horácio (criado por Mauricio de Sousa), Capitão América, Tarzan, Mickey, Fantasma e o Homem-Aranha, que aqui apresentamos pela ordem cronológica na obra, um testemunho de que durante a infância a leitura do protagonista misturava quase aleatoriamente o subgénero de super-heróis e de outros vigilantes com a BD que se destinava a um público recém-alfabetizado.

Seguem-se duas páginas com tons e desenhos mais realistas do menino no espaço, à medida que o Menino Quadradinho vai diversificando os seus interesses dentro e fora da BD, seja o seu interesse pela ficção científica ou as brincadeiras com os amigos e a solo, enquanto explora o mundo além dos livros, sem esquecer a leitura do livro ilustrado O Menino Maluquinho.

E, com o crescimento, vem a procura pela prosa não ilustrada. A porção de BD no livro termina e, página a página, as gigantes letras vão diminuindo o seu tamanho num texto corrido sem parágrafos, até chegar a uma última página com um tamanho de letra próximo daquele em que a maioria dos livros de prosa são publicados.

Após o final do livro, escreve o autor:
Agora que tu, leitor, também chegaste até aqui, estou certo de que me vais dizer: «Espera aí, isto não é um livro para crianças.» E eu responderei: «Não. Não é. Este é um livro como a vida. Só é para crianças no começo.»

Este livro de promoção e incentivo à leitura, confere então um papel de relevo à BD, se não como introdução à mesma, como um dos tipos de leitura que facilmente permitiria gerar prazer aos jovens leitores. Atualmente, apesar da BD ter ganho um estatuto diferente daquele que tinha em 1989, haverá uma percentagem significativa de jovens leitores portugueses que leem banda desenhada? Ou os educadores e encarregados de educação incentivam mais a leitura do livro ilustrado que a BD? Ressalve-se que o livro ilustrado e a BD não são hábitos de leitura mutuamente exclusivos, mas arriscar-me-ia a apostar que serão mais os jovens leitores quase exclusivos de livros ilustrados do que aqueles que também leem frequentemente BD no nosso país.

E faço um pequeno parêntesis para referir que nos livros do 1.º ciclo do ensino básico é frequente que os exemplos de BD reproduzidos sejam pranchas produzidas há mais de meio século, por autores defuntos e uma estética forçosamente demodé, com personagens desconhecidas dos mais novos.

Quanto ao desaparecimento da BD com o crescimento e com a revelação do prazer na leitura da prosa não ilustrada, mais uma vez não terá de ser mutuamente exclusiva se acompanhada da descoberta de obras de BD próprias para adultos, um mercado ainda muito exíguo nas livrarias do nosso país mas que começa a ter alguns frutos.

Eis a sinopse da editora:
O Menino Quadradinho conta a história de um rapaz que se apaixona pelas histórias aos quadradinhos e é totalmente absorvido pelas cores, mistérios, personagens e heróis. Saltando para dentro da história e de quadradinho em quadradinho, o rapaz vive feliz até que um dia descobre o valor e o mistério da palavra, algo que lhe vai abrir portas para outros mundos. A descoberta e o conhecimento dessa ferramenta, a palavra, levam o menino a crescer, a mudar de etapa de crescimento, despertando-o para outros prazeres e experiências fantásticas que a vida lhe preparou. Uma narrativa que revela metaforicamente a passagem da infância para a adolescência.

nota 1: imagens gentilmente cedidas pela editora.
nota 2: início de texto alterado após informações prestadas por Leonardo de Sá sobre a publicação de obras de Ziraldo em Portugal.

2 comentários em “O Menino Quadradinho

  1. Calhei agora nesta página. A afirmação de que a editora “publicou pela primeira vez em Portugal o brasileiro Ziraldo” não corresponde à realidade. Vários álbuns do Ziraldo já tinham sido publicados em Lisboa pela Melhoramentos de Portugal – Editora Lda., um quarto de século antes, no início dos anos 90. E também publicaram em 1991 o álbum O Menino Quadradinho, todos na altura com adaptação para português europeu por António Avelar de Pinho.

  2. A Melhoramentos de Portugal também publicou pelo menos um álbum infantil do Ziraldo com adaptação do texto para português europeu do António Torrado.

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