O dinamarquês Peter Snejbjerg é um dos autores de banda desenhada que estará presente na Comic Con Portugal 2015. Recentemente, os leitores portugueses puderam ler o seu trabalho enquanto ilustrador na obra Esquadrão da Luz. Snejbjerg tem desenhado diversas séries para o mercado norte-americano (especialmente, na DC Comics e Dark Horse) e europeu. É ainda um dos argumentistas das bandas desenhadas Disney dinamarquesas da Egmont, tendo já ultrapassado a meia centena de histórias.
Nuno Pereira de Sousa: A banda desenhada Esquadrão da Luz foi publicada em novembro em Portugal. Como é que se envolveu neste projecto, originalmente publicado pela DC Comics?
Peter Snejbjerg: Começou da forma habitual – com um telefonema ou um e-mail. Há já algum tempo que eu estava a trabalhar com o Peter Tomasi, enquanto meu editor na DC Comics, e um dia ele mencionou que tinha um argumento que me queria mostrar. Eu recebi o extracto com a cena em que o cemitério está a ser bombardeado e os cadáveres estão a voar pelo ar e pensei “oh, yeah!”
NPS: Fale-nos um pouco sobre o seu trabalho em Esquadrão da Luz.
PS: Trabalhar em banda desenhada é extremamente recompensado mas falar sobre o seu processo é incrivelmente aborrecido. Sentei-me no meu estirador durante cerca de 1500 horas. O melhor é que pude assistir a muitos filmes clássicos sobre a Segunda Guerra Mundial e ler muita banda desenhada de ficção militar da EC Comics e chamar-lhe trabalho. E joguei Medal of Honor.
NPS: Como foi trabalhar com Peter Tomasi?
PS: Foi excelente. Tínhamos uma relação muito boa.
NPS: Dez anos depois, a Dark Horse publicou uma edição em capa dura. Como tal aconteceu?
PS: Bem… A DC não queria renovar o contrato e o Tomasi é uma pessoa extremamente atenta. Nós pensámos que seria mau se deixasse de ser impressa, pelo que ele conseguiu que o fosse através da Dark Horse.
NPS: Se pudesse escolher apenas uma das suas bandas desenhadas norte-americanas para ser publicada em Portugal, para além de Esquadrão da Luz, qual seria e porquê?
PS: Todas! Mas, a sério, deviam ter uma edição portuguesa de A God Somewhere.
NPS: E uma obra que não fosse norte-americana?
PS: Fiz algumas bandas desenhadas para editoras francesas mas atualmente estou muito entusiasmado com um projeto que estou a elaborar para a editora alemã Cross Cult. É uma série de fantasia denominada Die Orks. Espero que venha a ganhar uma grande audiência internacional porque merece-o, sem sombra de dúvidas.
NPS: Quais julga que são os géneros de banda desenhada mais lidos na Dinamarca?
PS: Atualmente, presumo que sejam os graphic novels modernos, mas não sou um editor.
NPS: Como é a indústria/mercado de banda desenhada na Dinamarca? Os autores de BD que o desejassem conseguiriam viver exclusivamente da BD na Dinamarca ou a internacionalização é mandatória?
PS: A Dinamarca é um país com 5 milhões e meio de pessoas, pelo que muito poucos autores de BD podem sustentar-se somente nesse mercado. A maioria ou trabalha também noutras áreas ou procura trabalho no estrangeiro.
NPS: Fale-nos do seu trabalho na BD Disney.
PS: É um pequeno trabalho paralelo. Apenas faço o argumento, pois não consigo desenhar naquele estilo. É divertido escrever algo que outra pessoa tem que desenhar. Coloco muitas cenas com cavalos e multidões… e rio.
NPS: Quais são as principais diferenças entre a BD Disney produzida na Dinamarca e em Itália?
PS: Acho que a diferença é pouca. Penso que a maioria é publicada nas mesmas revistas.
NPS: Tem ideia de qual será a idade dos leitores de BD Disney na Dinamarca?
PS: Diria que são crianças. Talvez entre os 5 e os 12 anos? Pelo menos, esse é o segmento que tenho em mente quando as escrevo.
NPS: Em que bandas desenhadas está actualmente a trabalhar? Fale-nos um pouco de cada uma.
PS: Só estou a trabalhar no livro dos Orks. É um trabalho maravilhoso, uma adaptação de uma série de livros alemães escritos por Michael Peinkofer. É sobre dois irmãos Orks muito pouco inteligentes, Balbok e Rammer, que se vêem envolvidos numa história com anões, feiticeiros, princesas elfas e um presumível tesouro. É uma mistura d’ O Bucha e Estica com O Senhor dos Anéis, com muita violência e humor grosseiro. Exatamente o meu estilo.
NPS: Como imagina que será a banda desenhada daqui a 20 anos?
PS: Espero que seja mais ou menos o que é atualmente – um subgénero vital, embora menor, da cultura popular.
NPS: Qual é a importância da banda desenhada? Quais são os valores que lhe estão inerentes?
PS: Manter vivas as artes nobres da narrativa e do desenho no nosso mundo. E o facto de que pode ser feito por uma única pessoa, desde que tenha 1500 horas.
nota: imagens gentilmente cedidas pelo autor.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.