Eduardo Risso: entrevista

Eduardo Risso: entrevista

Eduardo Risso

Eduardo Risso é um dos convidados da Comic Con Portugal 2015. Tendo iniciado a sua carreira em banda desenhada na Argentina, foi também publicado no mercado europeu e norte-americano, em especial para a DC Comics. Se a BD 100 Balas será um dos seus trabalhos mais conhecidos mundialmente e através da qual foi galardoado com os prémios Eisner e Harvey, neste evento será lançado o álbum Logan que ilustrou para a Marvel.

Nuno Pereira de Sousa: Como começou a sua colaboração com o diário La Nación e as revistas Satiricón e Eroticón? O que o levou na altura a querer ser autor de banda desenhada?
Eduardo Risso: Iniciei primeiro a minha colaboração com o diário La Nación mas não eram bandas desenhadas mas sim artigos ilustrados para a revista infantil dominical. Satiricón e Eroticón foram a minha segunda oportunidade e com a possibilidade real de fazer algumas histórias curtas. A BD cativou-me em tenra idade, antes de aprender a ler. Foi a intenção de querer imitar aqueles desenhos que via naquela altura que me levou primeiro a copiá-los, depois a pretender fazer as minhas próprias histórias e finalmente a dar-me conta que era aquilo o que mais gostava, sem estar demasiado consciente do que tudo aquilo significava.

NPS: O início dos anos 80 pareciam ser particularmente difíceis para se ser autor de BD, após uma época de uma grande produção de bandas desenhadas argentinas?
ER: Do meu ponto de vista, penso que é difícil para qualquer jovem começar uma profissão. Os anos 80 não foram tão difíceis  como foram os anos 90, pelo menos para mim. Existiam duas grandes editoras e surgiu a revista Fierro com um renovado ar fresco.

NPS: O que nos pode contar sobra as bandas desenhadas que escreveu a Editorial Columba?
ER: Columba era uma daquelas grandes editoras que existiam no país há várias décadas. Tinha a particularidade de abrir as portas a jovens entusiastas como eu, pelo que lhe devo muito daquilo que sou. Trabalhava-se comodamente, apesar de serem tempos de crise económica; no entanto, eu percebia que, artisticamente, havia uma barreira. Se a minha intenção era continuar a crescer tinha de sair de ali e foi o que fui.

NPS: Em 1984, nasceu a revista Fierro, que já mencionou, publicada pelas Ediciones de la Urraca. Qual foi a importância desta revista na BD argentina?
ER: A revista Fierro rompeu com as tradições de então. Começaram a ver-se outro tipo de histórias e outra estética. Um lufada de ar fresco… e eu queria estar lá.

NPS: Como conheceu e começou a trabalhar com Carlos Trillo?
ER: O Carlos convidou-me a desenvolver um projeto para o mercado italiano. Já muitos de nós estavam vinculados ao mesmo através de agentes mas este projeto era por nossa conta, o que o tornava duplamente interessante para mim. Primeiro, trabalhar com ele, e, segundo, fazê-lo sem intermediário e retendo todos os direitos. Esse projeto foi Fulú e foi somente o princípio de uma longa colaboração entre ambos.

NPS: Nos anos 90, as suas bandas desenhadas começaram a ser publicadas na Europa. Como tal aconteceu?
ER: Salvo erro, a primeira a ser publicada foi Parque Chas, em Espanha, mas logo se sucederam muitos trabalhos feitos inicialmente para Itália, os quais rapidamente foram publicados noutros países.

NPS: Quando sentiu que o seu trabalho começava a ser reconhecidos nos EUA? Com Johnny Double? Ou somente com 100 Balas?
ER: Johnny Double foi somente um passo necessário para chegar a 100 Balas. Con esta BD, penso que obtive um reconhecimento de que não me tinha apercebido até então.

NPS: Se pudesse escolher apenas uma palavra para definir Brian Azzarello, qual seria?
ER: Astuto.

NPS: Quando se aperceberam do grande sucesso de 100 Balas, uma BD que permite que, 15 anos após a sua estreia ainda sejam publicadas minisséries desse universo?
ER: Humildemente, penso que o êxito era uma questão de tempo, não apenas pelo tempo de presença, mas poeque tem algo que considere fundamental – um argumento excecional. Isso torna todo o seu desenvolvimento muito simples e fácil.

NPS: Logan vai ser lançado na Comic Con Portugal 2015. O que nos pode contar sobre esta minissérie?
ER: Foi um desafio interessante para mim, tendo em conta que não estou inclinado a envolver-me com super-heróis. São os leitores quem poderá dizer se o produto é aproveitável ou não.

NPS: Em 2013, fez uma ilustração da Mônica para Mauricio de Sousa. Como conhecia a personagem?
ER: Conhecia-a em adulto, ao visitar assiduamente o Brasil.

NPS: Em que bandas desenhadas está atualmente a trabalhar?
ER: Estou a iniciar um novo projeto independente com Azzarello.

NPS: Acredita que, se tivesse continuado apenas a trabalhar para o mercado de banda desenhada argentino ou o europeu, o amadurecimento gráfico do seu trabalho teria tomado outras direções? Porquê?
ER: É difícil ter certeza. Continuo numa demanda artiística que permita que não me entedie com o que vejo apenas quando a página está terminada. Isso pode significar um grau de imaturidade ou a capacidade de manter a chama artística acesa que me permita continuar evoluir ou involuir mas sempre num movimento contínuo.

NPS: Daqui a 20 anos, como imagina que será a BD publicada?
ER: Não tenho tanta imaginação quanto isso. Só espero que continue a ser uma alternativa de entretenimento para muita gente.

NPS: Para que serve atualmente a banda desenhada? Quais os valores que lhe estão inerentes?
ER: A banda desenhada pode servir para muitas coisas, desde entreter até educar, se assim se quiser. Preserva um valor importante face a outros enretenimento, tal como os contos e romances – o leitor “ainda” tem de se envolver na história. É um meio que sugere mais do que aquilo que mostra. O cinema e a televisão são desfrutados por mais pessoas, de pipoca na mão, mas sem esse compromisso.

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