3.ª Mostra do Clube Tex Portugal

3.ª Mostra do Clube Tex Portugal

Cartaz de Massimo RotundoEntre os dias 23 e 24 de abril, decorre a 3.ª Mostra do Clube Tex Portugal no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia. Pelo terceiro ano consecutivo, o Clube expõe obras de desenhadores italianos da famosa personagem de BD do género western, desta feita de Massimo Rotundo e Maurizio Dotti, garantindo ainda a presença dos dois artistas no evento.

Eis a divulgação da organização (clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão):
O Clube Tex Portugal, único Clube em Portugal dedicado exclusivamente a um herói da Banda Desenhada e o primeiro Clube oficial de Tex no mundo, trará este ano novamente dois conceituados desenhadores italianos a Portugal.
O evento a realizar em 23 e 24 de Abril em plena capital da Bairrada (Anadia), para além da presença dos consagrados desenhadores italianos Massimo Rotundo (desenhador do mais recente Tex Gigante: “Tempestade em Galveston“) e Maurizio Dotti (após uma longa militância no staff de desenhadores de Zagor e de Dampyr, recentemente pôs-se à disposição do Ranger, onde é já um dos autores mais aclamados pelos fãs de Tex) contará também com duas mostras pessoais dos próprios autores com a exposição de várias pranchas das suas histórias de Tex.
Depois dos estrondosos sucessos ocorridos com a 1.ª Mostra do Clube Tex Portugal, realizada em Agosto de 2014 e que contou com a presença do consagrado desenhador italiano Pasquale Del Vecchio e da 2.ª Mostra ocorrida em Maio do ano passado com as ilustres participações dos desenhadores Pasquale Frisenda e Stefano Biglia, ambas as Mostras ocorridas no Museu do Vinho Bairrada localizado na capital bairradina, a direção do Clube Tex Portugal dá a conhecer a todos os fãs e colecionadores da personagem Tex, assim como aos amantes da banda desenhada e ao público em geral que a 3ª Mostra do Clube Tex Portugal, irá realizar-se novamente na cidade de Anadia, no próximo mês de Abril, mais precisamente no fim de semana de 23 e 24 de Abril.
Pelo terceiro ano consecutivo a Mostra vai realizar-se em Anadia, devido ao interesse e apoio da autarquia bairradina, disponibilizando novamente Museu para a realização de mais esta Exposição Texiana. Cada um dos autores italianos, como forma de agradecimento por este convite português fez uma magnífica ilustração a cores exclusiva para o evento de Anadia, numa tradição já habitual e que ocorre sempre que um autor de Tex nos visita de modo a registar a sua passagem por Portugal!


Massimo Rotundo2MASSIMO ROTUNDO
Nascido em Roma em 1955, Rotundo é um dos fundadores e docentes da Scuola Romana dei Fumetti e trabalha também para o cinema e teatro, onde já colaborou com nomes como Martin Scorcese ou Paul Verhoeven. Na banda desenhada conta com uma vasta e larga experiência, fruto de uma carreira eclética iniciada no já longínquo ano de 1978. Para além de muitos outros trabalhos, destaque para a sua participação em revistas como L’Eternauta, Comic Art, Orient Express, Heavy Metal e L’Ècho des Savanes, assim como trabalhos para as editoras francesas Delcourt, Glénat e Albin Michel. Na Sergio Bonelli Editore vai desenhar para as séries Brendon, incluindo as respetivas capas a partir do nº 45, Volto Nascosto e Shanghai Devil, sendo também o autor de todas as capas destas duas mini séries escritas por Manfredi. Já foi distinguido por várias vezes, com destaque para o prémio Yellow Kid de 1990 como melhor desenhador italiano e o Gran Guinigi em Lucca. E ainda hoje cultiva uma paixão pela criação pictórica, assinando sob o nome de Max Grecoriaz. Artista de grande exuberância criativa, Rotundo vai alternando a sua atividade pelos vários campos da arte, uma exigência pessoal que não lhe permite especializar-se em determinado setor. Necessitado de estímulos constantes, a possibilidade de desenhar para Tex vai permitir-lhe enfrentar um género ainda pouco frequentado pelo autor, o western.

Clube Tex Portugal: Caro Massimo, você estará presente em Portugal, numa exposição do Clube Tex Portugal, na cidade de Anadia. O que representa para si esse acontecimento que contará com a sua presença em um País estrangeiro?
Massimo Rotundo: Esse convite representa a chance de conhecer pessoas e lugares, além de viver situações para mim inesperadas, visto que, desde que comecei a desenhar Tex, conheci um mundo de aficionados, uma coisa incrível que jamais aconteceu na minha carreira, pelo fascínio de uma personagem que contagiou milhares de pessoas e que parece imortal. Nos últimos anos eu não frequentei muitos eventos deste tipo, um pouco por preguiça e um pouco pelos muitos compromissos de trabalho, por isso essa viagem é uma oportunidade para respirar e sentir ao vivo o entusiasmo de quem ama a BD e a sustenta.

Tex na região vitivinicola de Anadia. Arte de Massimo RotundoCTP: O que convenceu Masimo Rotundo, autor de fama mundial, a aceitar um convite tão incomum?
MR: A curiosidade de ver Portugal, onde nunca estive. Apesar de ter viajado muito, nunca tive a oportunidade de visitá-lo. E chamou-me a atenção o facto da mostra acontecer no museu do vinho, que é uma das minhas paixões, e inspirou-me a desenhar o cartaz com Tex entre as parreiras. E também a convicção de que, junto com Pasquale Ruju, eu fiz um ótimo trabalho, um dos meus melhores no que diz respeito ao género aventuroso.

CTP: Quais são as suas expectativas em relação à 3ª Mostra do Clube Tex Portugal?
MR: Eu espero conversar de desenho, de roteiros, de BD e de Tex, espero desenhar ao vivo, provar produtos locais e admirar paisagens jamais vistas. Aficionados por quadradinhos são ótimos condutores de encontros, sejam culturais ou não, e isso porque a BD tem muitos pontos em comum com o mundo da imagem, o que inclui o cinema e a literatura.

Pig! Pig! Pig!CTP: Você tem algum contacto com a BD feita em Portugal? Conhece algum autor como, por exemplo, E. T. Coelho, que inclusive morou e trabalhou por muito tempo na Itália, considerado por muitos como o melhor desenhador de quadradinhos português de todos os tempos?
MR: Nos anos 1990 eu tive um livro publicado em Portugal, Pasolini, escrito por Jean Dufaux, que saiu pela Bertrand, mas não conheci ninguém da Editora, porque tudo foi feito pelo meu agente Aurelio Staletti e pela Glénat Editions. Eu recordo-me de E. T. Coelho quando ele trabalhava para o mercado francês em séries como Vaillant, mas não tenho mais as minhas coleções daquela época. Se não me engano, ele recebeu vários prémios como desenhador e ilustrador.

CTP: Alargando um pouco o horizonte da entrevista, o que o convenceu a entrar para a indústria da banda desenhada?
MR: Depois de tantos anos, agora tenho bem claro o motivo: na BD concentram-se todas as disciplinas artísticas e isso satisfaz a minha exigência constante de trabalhar em 360 graus. Além disso, a BD permite poder construir um projeto com poucos recursos e sem filtros. E, detalhe não secundário, há a possibilidade de ter um trabalho continuado que permite manter a família. Jamais devemos esquecer que nós, profissionais da BD, fazemos um trabalho digno desse nome e que merece grande respeito.

CTP: Como analisa a evolução da sua carreira?
MR: Eu comecei com sátira política, depois passei à chamada BD de autor e agora trabalho com BD seriada. Geralmente diferenciar essas duas últimas categorias não faz muito sentido, é só para dar uma ideia da passagem do tempo. De todo o modo, eu sempre mantive um bom nível, e daria a mim mesmo uma nota oito ou oito e meio (numa escala até dez), mas espero chegar a nove com os próximos trabalhos.

CTP: No que você está a trabalhar atualmente?
MR: Estou a fazer um especial que será publicado a cores e dedicado a Brendon, uma personagem de Claudio Chiaverotti e que foi a primeira que desenhei para a Sergio Bonelli Editore. Nesse material eu busco trabalhar muito nos enquadramentos para torná-lo mais dinâmico.

Aventura de Tex na arte de Massimo RotundoCTP: O que sentiu quando recebeu o convite para desenhar o Tex Gigante?
MR: Francamente, primeiro eu senti-me lisonjeado e depois aterrorizado. Eu disse a mim mesmo: isto é difícil, se você conhece o ofício, chegou a hora de lançar mão desse conhecimento.

CTP: Para si o que representa e qual a importância de Tex na sua vida?
MR: No fundo, Tex representa a minha juventude, as longas tardes de Verão a ler as suas histórias. E creio que, assim como para muitos outros, é um ícone que tem uma filosofia de vida própria e que dela partilho com frequência. Por exemplo, Tex é uma das primeiras personagens de faroeste que tratou com dignidade os índios, e isso antes que virasse moda.

CTP: Para encerrar, gostaria de deixar uma mensagem aos seus admiradores que estarão presentes em Anadia?
MR: Será um prazer encontrá-los e trocar as nossas experiências. Até breve em Anadia.

CTP: Massimo, agradecemos muitíssimo pelo tempo que nos dedicou.


Maurizio Dotti2

MAURIZIO DOTTI
Na história de Tex, não são muitos os desenhadores que entram na série de modo pujante e sem deixar grandes dúvidas das suas reais capacidades. Com El Supremo, Maurizio Dotti chegou, viu e venceu, agarrando personagens e ambientes com um sucesso só ao alcance dos dotados. Nascido em 10 de outubro de 1958 em Limbiate (na região da Lombardia), Dotti começa na banda desenhada em 1976, colaborando no estúdio de Giancarlo Tenenti. Em 1982 o teatro colhe as suas atenções, mantendo uma intensa atividade com uma importante companhia milanesa de marionetas, a Carlo Colla & Figli, onde terá oportunidade de ser cenógrafo, ator e figurinista. Em 1983 abandona o teatro e opta por regressar ao desenho, alternando trabalhos publicitários com uma colaboração com Il Giornalino, onde terá oportunidade de adaptar em 1995 Os Sete Magníficos, para a série 100 Anos de Cinema, e trabalhar em séries como Lassie e Águia Azul. Ainda em 1995, realiza os esboços de Glorieta Pass para Alarico Gattia, aventura de Tex que foi publicada no Almanacco del West 1998, passando então a colaborar mais ativamente com a Sergio Bonelli Editore, desenhando dois episódios para Zagor, até chegar a Dampyr, onde terá oportunidade de revelar toda a sua capacidade ao serviço de um género muito específico, fantástico e de terror, onde predomina o escuro e as atmosferas inquietantes. Talvez por isso, a sua entrada na série normal de Tex em 2013, com El Supremo, tenha colhido ainda mais o elogio unânime, porque ao passar para um género completamente diferente, Dotti revela ser um desenhador pleno, seguro e muito habilitado. Pela sua densidade, pelos seus diversos ambientes, pela constante alternância de cenários e situações, El Supremo afigurava-se como um desafio extremamente difícil para um autor que se estreava na série. Mas Dotti revelou-se um desenhador multifacetado, compondo ambientes perfeitos, seja o velho oeste como montanhas, pradarias, o deserto, assim como urbanos (São Francisco) e até marítimos, jogando plenamente com efeitos, com movimentos e com enquadramentos, sempre em busca de uma monumentalidade cinematográfica, influenciada por autores como Giraud e Ticci, de quem o autor é admirador. Rio Quemado e Carovana di Audaci são os seus trabalhos seguintes em Tex, encontrando-se atualmente a desenhar uma nova aventura escrita por Mauro Boselli e que recuperará a personagem do Mestre.

Clube Tex Portugal: Caro Maurizio, você será protagonista no nosso país de uma exposição do Clube Tex Portugal, na cidade de Anadia. O que representa para si esse evento que contará com a sua presença em um país estrangeiro?
Maurizio Dotti: Inicialmente, agradeço muito pelo gentil convite para participar dessa iniciativa. É uma ocasião muito importante, não só para mim como também para a personagem que tenho a sorte de desenhar e por tudo o que ela representa. Eu sempre considerei que a notoriedade de Tex seria um facto exclusivamente italiano, e descobrir que é um fenómeno que ultrapassa as fronteiras do meu país é uma coisa que muito me impressiona.

Tex no Paço da Graciosa, Anadia. Arte de Maurizio DottiCTP: O que convenceu Maurizio Dotti, autor de reconhecimento mundial, a aceitar um convite tão incomum?
MD: Eu aprecio muito o contacto com os leitores, sejam italianos, portugueses ou de outros países, e eu reconheço-me nessa paixão porque sei que nasce do antigo fascínio pela aventura.

CTP: Você tem algum contacto com a BD feita em Portugal? Conhece algum autor como, por exemplo, E. T. Coelho, que por muito tempo morou e trabalhou na Itália, e que é considerado por muitos como o melhor desenhador de quadradinhos portugueses de todos os tempos?
MD: Devo confessar que não conheço autores portugueses de BD. Eu pesquisei sobre E. T. Coelho e descobri um autor de talento, influenciado, como a maior parte de seus colegas, contemporâneos ou não, pelo estilo americano de Alex Raymond. Como não lhe dar razão?

CTP: Alargando um pouco o horizonte da entrevista, o que o convenceu a entrar para a indústria dos comics?
MD: Desde a mais tenra idade eu sempre desejei desenhar quadradinhos. No final da década de 1960 eu tinha dez, onze anos e não fazia ideia do que fazer para tornar-me um autor, mas tinha a mais absoluta certeza de que realmente queria. Na época ainda não havia todas as escolas para aspirantes a desenhadores que existem hoje. O aprendizado da profissão acontecia ao se frequentar o estúdio de um desenhador profissional, quando se tinha a sorte de poder fazer isso, e era ele quem decidia se o candidato tinha o perfil da profissão. Eu passei intermináveis horas, meses, anos a desenhar com a cabeça mergulhada em folhas de desenho, a copiar de modo insistente o trabalho dos meus autores preferidos.

CTP: Como analisa a evolução da sua carreira?
MD: A evolução da minha carreira não foi linear. Os meus interesses juvenis eram o teatro e a BD e, embora pareça estranho, foi assim, afinal em ambos os casos tratava-se de contar histórias. Até os trinta e quatro anos de idade eu consegui cultivar os dois e, desde 1995, eu sou um profissional dos quadradinhos em tempo integral, para minha grande satisfação – e espero que também o seja para os meus leitores. Com muita alegria eu retornei ao faroeste, um género que desenhei muito no início da minha carreira. Eu sinto-me um grande privilegiado, faço um trabalho belíssimo que sempre desejei fazer e ainda hoje com o mesmo entusiasmo do início.

CTP: No que você está a trabalhar atualmente?
MD: Em uma história de Tex escrita por Mauro Boselli que retoma uma velha personagem proposta em mais de uma história da série, Andrew Liddel, vulgo Mestre. Eu não sei quantos volumes a trama ocupará, só sei que pela primeira vez levará Tex a viver uma aventura na Nova York do século 19. Até o presente desenhei quarenta páginas.

Aventura de Tex na arte de Maurizio DottiCTP: O que sentiu quando recebeu o convite para desenhar Tex?
MD: Fazia tempo que se falava nisso, mas quando Boselli deu-me a notícia, eu senti muito entusiasmo. Eu senti-me carregado de carga criativa, animado por uma grande vontade de desenhar, mas também ciente da grande responsabilidade que eu assumia. Dar vida a uma personagem como Tex é um feito de fazer tremer os pulsos. Como não sentir o peso do facto de que grandes autores o desenharam antes de mim, que consolidaram a merecida e indiscutível fama que todos lhe reconhecem? Eu fui e sou muito grato a Mauro Boselli, com quem trabalho em absoluta sintonia há vinte anos, por ter-me dado essa grande oportunidade.

CTP: O que Tex representa para si e qual a importância dele na sua vida?
MD: Tex representa sobretudo a grande paixão da adolescência que se transformou e se perpetuou na profissão. Eu confesso que fui contaminado pela Síndrome de Peter Pan: o adolescente e o adulto que coexistem em mim encontram no mundo da BD, e no de Tex em particular, a possibilidade, agora como artífice, de continuar a fantasiar e permitir, dentro das minhas possibilidades, que os leitores também o façam. Tex representa tudo o que todos gostaríamos de ser: vingador de injustiças, inflexível com os vilões mas capaz de muita magnanimidade. Ele encarna o destacado senso de justiça que, de forma instintiva, nós partilhamos, ainda que seja aplicado de forma rude e rápida, e talvez gostemos justamente por isso. De resto, no mundo da fantasia isso funciona muito bem.

CTP: Para concluir, gostaria de deixar uma mensagem aos seus admiradores que irão a Anadia?
MD: Eu tenho muito afeto por todos os meus leitores, mais ainda pelos que encontrarei em Anadia, tão distantes porém aficionados. São os leitores que, com a sua fidelidade, dão-me a possibilidade de desenvolver esta bela profissão, e sem eles não me seria possível ter o privilégio de trabalhar e viver sempre a me divertir.

Cartaz de Maurizio Dotti

nota: imagens cedidas pela organização.

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