Paco Roca na Splaft!

Paco Roca na Splaft!

pacorocafoto

Podemos considerar 2013 como um ano fundamental para os portugueses tomarem contacto com Paco Roca (n. 1969, em Valência, Espanha). Foi em 2013 que a Bertrand editou o seu livro Rugas, edição esta que antecedeu em alguns meses a estreia da sua adaptação em animação nas salas de cinema nacionais.

O livro de 2007 e a sua transposição para o cinema em 2011 tinham tardado a chegar ao nosso país, mas as suas preocupações com os idosos e a patologia mental nos mesmos permaneciam – e permanecem – actuais. Misto de experiências com familiares e amigos, de pesquisa e de ficção, o multipremiado livro de BD Rugas expõe não só o que é viver com demência, mas também o quão difícil é lidar com a mesma quando atinge quem tão bem conhecemos, ao vermos desaparecer aquilo que identificamos como sendo o outro, reconhecendo-lhe, por vezes, apenas o exterior. Atendendo à universalidade da temática e à sua habilidade narrativa, um pouco por todos os países onde foi publicada, Rugas conseguiu vencer as compartimentações da leitura, sendo elogiada por quem não lê habitualmente banda desenhada.

O sucesso crítico de Rugas não viria, contudo, a originar a edição portuguesa de mais obras. Atente-se então no material que a maioria dos leitores portugueses desconhece. Dos 13 anos, prévios a Rugas, de bandas desenhadas editadas em Espanha e/ou França, salienta-se a sua obra ficcional dedicada a Salvador Dalí, mentalmente gerada quando o autor esteve horas a fio dentro de um comboio devido a uma avaria eléctrica (El juego lúgubre; La Cúpula, 2001), bem como a abordagem da temática da Guerra Civil Espanhola em El Faro (Astiberri, 2005).

Desde Rugas, muitas outras questões têm sido levantadas pelas suas bandas desenhadas. A sociedade em que vivemos é absurda (Las Calles de Arena, 2009)? Uma carta de amor à banda desenhada pode conviver com uma Espanha franquista (El invierno del dibujante, 2010)? O que vivenciou La Nueve, uma divisão do Exército da França Livre, formada por espanhóis durante a 2.ª Guerra Mundial (Los Surcos del Azar, 2013)? E as casas… Sobrevivem aos seus habitantes (La Casa, 2015)?

Paco Roca dedica-se ainda à ilustração publicitária. Quanto à ilustração de livros, conferiu a sua interpretação de A Metamorfose de Franz Kafka à editora Astiberri em 2015.

Paralelamente ao seu trabalho dedicado a álbuns de banda desenhada, Memorias de un hombre en pijama foi originalmente publicado sob a forma de 1 página por domingo no periódico Las Provincias, ao longo de 63 semanas, sendo em 2011 reunido em livro. Para 2017, está planeada a sua transposição para o grande ecrã.

Roca fez um longo caminho desde as suas primeiras BD eróticas para a Kiss Comix (1994-1995) e as histórias curtas com o escritor de ficção científica Juan Miguel Aguilera para a mítica El Víbora (1998). Anseia-se por descobrir os novos trilhos que percorrerá antes que o branco / a ausência retratada em Rugas nos atinja a todos.

IMG_8050

nota: artigo publicado em Splaft! #12 (Bedeteca de Beja, 2016)

Deixa um comentário