Amadora BD 2016: o tema Espaço e Tempo

Amadora BD 2016: o tema Espaço e Tempo

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O tema escolhido para o festival internacional de banda desenhada Amadora BD 2016 foi Espaço e Tempo. Deste modo, os visitantes podem apreciar a exposição do núcleo central do Fórum Luís de Camões, O Espaço e o Tempo na Banda Desenhada, comissariada por Eduardo Corte-Real, Susana Oliveira e José Neves, com cenografia de Henrique Ralheta.

Eis a divulgação da organização:

Introdução:
Esta exposição parte da premissa que a Banda Desenhada é o campo de experimentação sobre as noções de Espaço e de Tempo. Este campo é partilhado em especial com a Arquitetura e o Cinema. No entanto, para a Arquitetura existe um primado do espaço. Para o Cinema existe um primado do tempo. Na Arquitetura, desenhos, modelos e construções definem um espaço a que não é possível fugir na sua definição. No Cinema, o tempo da filmagem e especialmente o tempo da projeção são também constituintes indestrutíveis da sua existência.

Na Banda Desenhada, embora sujeita ao espaço bidimensional da prancha ou banda, existe desde logo um ritmo temporal, uma cadência imposta pela sequência das vinhetas que colocam em paralelo conceptual o espaço e o tempo. Notamos sobretudo que existe uma relação entre a literatura e a arquitectura como aquela existente entre o cinema e a música, que se manifestam totalmente como se a Banda Desenhada fosse a meta-linguagem destas relações.

Como sistemas de conceitos propõe-se a agregação das seguintes mundo-visões sobre espaço e tempo como Clássica, Moderna e Contemporânea (às quais se juntam a Pré-Histórica e a Hiper-Contemporânea.

Esta organização decorre de uma divisão, em primeira instância, do tempo histórico humano correspondente a períodos de uma certa constância nos paradigmas existenciais.

Assim, associada ao período Clássico, tomam-se noções de tempo e espaço formuladas por Aristóteles e Euclides. No período Moderno, essas noções alargaram-se e foram confirmadas com Newton e Monge. No período Contemporâneo, esta continuidade foi definitivamente perturbada por Einstein e Heisenberg, entre outros.

Nas atividades artísticas, embora nem sempre coincidindo com os momentos da Ciência, também encontramos períodos de classicismo, de modernismo e de contemporaneidade.

Mas é interessante notar que historicamente a BD se desenvolve no período contemporâneo e que revisita estas grandes categorias. Notamos em particular que existe uma relação a explorar entre BD e a literatura como a que existe entre cinema e música, do ponto de vista dos estilos artísticos ou da sua estrutura intrínseca considerando sobretudo a questão do Tempo. De uma forma muito direta e quase simplista, centraremos estas mudanças através de três autores de referência (sem que estes temas se esgotem neles):
Classicismo: Hergé;
Modernismo: Hugo Pratt;
Contemporâneo: Jean Giraud/Moebius

A exposição desenvolver-se-à nos seguintes núcleos temáticos (sempre apresentando visões clássicas, modernas e contemporâneas, Tintins, Cortos e Moebius e muitos outros):
1. O Começo
2. O Lar
3. O Lugar
4. O Mundo
5. O Fim

Resumo dos núcleos:
1 – O Começo: Onde/Quando tudo se inicia. Quadrinhos de início de história
“Era uma vez” – Once upon a time… Este espaço procura explicar ao visitante que existem processos de iniciar as narrativas que vão da nossa ideia do universo à produção musical. O início posiciona-nos no tempo e no espaço de modo a que o envolvimento com a narrativa se estabeleça. Os diversos modos de iniciar narrativas e as afinidades entre estes devem ser evidentes para o visitante.

O visitante deve também assimilar que a BD faz parte de um universo de narratividade que só existe porque as histórias necessitam sempre de uma ignição, de um momento catalisador que, em muitos casos, depende da apresentação de um tempo e de um espaço (sendo que a origem do tempo e do espaço é o mito fundador de todos os inícios). Muitas vezes o início é um pseudo clímax, um choque, uma aceleração.

2 – Home/Lar
O visitante deve tomar contacto com a noção de Lar/Casa como âncora espacial que situa e marca a atividade dos heróis.

O lar pode ser uma mansão como Moulinsart, uma cidade como Veneza, um universo estranho como em Moebius. O visitante também deve tomar conhecimento do papel da “casa” na história da arquitetura e relacionar os seus desenhos com os desenhos de BD. Numa última perspetiva, deve tomar conhecimento da analogia visual e formal entre “quadrinhos” e “divisões” da casa e/ou edifício.

3 – O Lugar, as Elipses e os Episódios
3.1. Numa primeira fase, o visitante deve tomar conhecimento das unidades narrativas essenciais que relacionam espaço e tempo: a Elipse. Elipses dentro do mesmo espaço, elipses de transição de espaço, elipses de transição de lugar.

3.2. As Elipses como “caixa das máquinas” dos episódios
Nesta segunda fase, ou sub-grupo, o visitante deve entender a natureza do episódio como unidade narrativa da história/álbum. Depois deve reconhecer a ligação espacio-temporal entre episódio e lugar. Deve compreender como a mudança de lugar implica quase sempre a mudança de episódio e de como estas convenções se foram desfazendo e refazendo na história da BD.

Como se desenrola o tempo de uma história; situações radicais: suspensão do tempo, tempo ininterrupto, todo o tempo numa só página: Parado, Lento, Veloz, Velocíssimo, Para cima, Para baixo, Aproximar, Afastar, Mudar de Lugar/Mudar de Tempo .

4 – A história, o Álbum, O Mundo, as Viagens e a Utopia
A Geografia e a história em Tintim, Corto e Moebius e outros.

O visitante deve compreender que as histórias completas comportam sempre uma viagem, tanto geográfica como narrativa. Deve ser percetível que o herói europeu viaja e regressa enquanto que o norte-americano se fixa na sua cidade e o japonês cria o seu próprio mundo. Tintin, Spirou, Asterix, Blueberry, Blake e Mortimer e Alix deslocam-se para viverem aventuras enquanto que Super Homem, Batman, Homem Aranha vivem nas suas cidades. O herói japonês vive, transforma e recria o seu mundo.

Também deve compreender que a criação de mundos tem uma raiz em Utopia e em Hypnerotomachia Polifilo, Sforzinda e outras criações utópico/político/arquitetónicas.

4.1. A Aventura com…
Ilíada – Hypnerotomachia – Utopia – Swift – Distopia

4.1.1. O Tema especial: Utopias
(500 anos da Utopia de More)
Clássica: Atlântida (Platão), e Edgar Pierre Jacobs
Moderna: Utopia, Hypnerotomachia Poliphilo, Bacon’s New Atlantis
Contemporânea: Distopias, 1984, Admirável Mundo Novo, Philip K. Dick, Ballard, Ray Bradbury

4.2. A Vida “Eterna” dos heróis
Tintim – Um espaço que pode mudar, histórias que são redesenhadas, um Tintim que não envelhece.
Corto – Uma vida que teria sido possível (?) – Uma consciência contemporânea há um século.
Moebius – O autor passa a ser o herói.

5 – O FIM, The End
Este último núcleo procura explicar ao visitante que existem processos de terminar todas formas narrativas, que vão da nossa ideia de fim de Mundo, do Apocalipse à música pop. O FIM posiciona-nos no tempo e no espaço de modo a que o envolvimento lógico e emocional com a narrativa se conclua e, por vezes, se abra a possibilidade de uma continuação. O visitante deve estabelecer um paralelo entre estes vários modos de terminar narrativas

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