BD Crónicas da Comic Con

BD Crónicas da Comic Con

cccComo já se tinha anunciadoCrónicas da Comic Con é um livro de banda desenhada da IN Edições, uma chancela da Zero a Oito, composto por diferentes BD curtas de autores nacionais, tendo como temática a Comic Con.

Para concretizar esta ideia, a editora contou com Bruno Caetano como organizador desta obra, o qual teve a ideia de se incluir material adicional sobre o processo criativo da mesma. A presença deste material enriqueceu o livro, uma vez que em Portugal não é um procedimento padrão e permitirá aos leitores – em especial os mais jovens, atraídos pelo design do livro – descobrir um pouco sobre os bastidores da elaboração das 5 bandas desenhadas a preto e branco. Deste modo, cada BD é acompanhada de um generoso espaço para apresentação dos seus autores, bem como de  um conjunto de esboços e uma memória descritiva.

A primeira BD é da autoria de Miguel Montenegro e intitula-se Comic Asylum. Trata-se de uma BD que introduz perfeitamente o conceito de uma Comic Con, sendo, das diferentes propostas, a mais americanizada – ou não tivesse a Comic Con nascido nos EUA – e sem grandes referências à Comic Con Portugal (CCPT). No entanto, foi precisamente na CCPT que o autor se baseou para um elemento vital da sua história. “Foi na Comic Con Portugal que tomei consciência da presença cada vez maior dentro da cultura Pop do fenómeno Cosplay.“, diz Miguel Montenegro. “Esse mesmo espanto manifesta-se no personagem principal da minha história quando ele se depara com um mundo próprio repleto de pessoas que assumem as mais variadas identidades. A influência torna-se evidente numa cena particular em que há precisamente um concurso de Cosplay, epítome máximo do lema be whatever you want.” Com argumento e desenho herdeiros da comics norte-americanos, os leitores certamente se deterão em cada vinheta, qual voyeurs,  a apreciar as dezenas e dezenas de personagens representados sob a forma de cosplay e procurando onde 2 grandes ícones da BD norte-americana se estão a beijar na boca.

Segue-se Dia da Caça, a primeira BD colaborativa do volume, com argumento de Pedro Moura e desenhos de Marta Teives. Trata-se de uma banda desenhada em que os visitantes das edições passadas da CCPT certamente reconhecerão o evento. “Há elementos comuns a todas as Comic Cons, como o Cosplay, o Artists’ Alley, etc. Apenas se tratou de os contextualizar na Exponor e de incluir alguns cameos e easter eggs.“, diz Marta Teives. “O Pedro diria algo como «Exponor. Vista exterior.» ou «estamos agora numa zona com mesas de artistas». Como estive lá no ano passado, lembrava-me de algumas coisas mas houve uma ou outra liberdade criativa, impostas pelo argumento. O contexto português será mais visível num ou outro dos cameos que referi, que passarão despercebidos a pessoas de fora.” Para o protagonista Ben-Euron, a ilustradora esculpiu um busto, o qual pode ser visualizado numa fotografia constante do material extra. Esta e a outra – já lá iremos – banda desenhada escritas por Pedro Moura encontram-se repleta de trocadilhos às franchises cinematográficas e televisivas, além da própria BD – da mais maistream aos fanzines.

Patrícia Furtado, em Lucas e Lia, utiliza alguns momentos presenciados na Comic Con Portugal para elaborar uma banda desenhada crítica ao mau profissionalismo. Quem nunca foi entrevistado ou assistiu a uma entrevista conduzida por um profissional mal preparado? À medida que a narrativa vai decorrendo, a jornalista vai aumentando a quantidade de disparates até ao divertido final. Para ilustrar esta BD, a autora optou por uma solução digital. “Escolhi o Procreate porque é um excelente software.“, diz Patrícia Furtado. “Comprei o iPad este verão, por questões de mobilidade. E descobri que o Apple Pencil é incrível, melhor ainda do que a Cintiq. E que o Procreate substitui na perfeição o Photoshop. Dispensa muita coisa que torna o programa pesado e mantém o essencial. Neste momento estou a fazer todo o meu trabalho de ilustração no iPad.

A segunda BD escrita por Pedro Moura conta com as ilustrações de Nuno Rodrigues. Partindo de uma premissa inversa – que Comic Con seria organizada num universo onde a magia e o que entendemos por ficção científica são reais? -, a BD vai desenvolvendo e escalando este aparente absurdo. Ainda com poucas bandas desenhadas no currículo, Nuno Rodrigues mantém a temática dos monstros. “Toda a ação passa-se num universo fantástico e, como tal, tive toda a liberdade para introduzir monstros nesta BD.”, diz o ilustrador.

O volume encerra com uma banda desenhada pós-apocalíptica de Carlos Pedro, que se inicia na Comic Con Portugal. Esta BD tem a particularidade de ser muda, isto é, não apresentar nenhuma legenda ou balão. Tal escolha não dificultou ao autor a elaboração da BD. “Não facilitou nem dificultou porque normalmente o processo que utilizo para as minhas histórias passa sempre por criar uma narrativa visual primeiro e mais tarde complementar com os diálogos” diz Carlos Pedro. “O Solomon também foi pensado assim.

Para além do entretenimento explícito nestas bandas desenhadas, existem apontamentos não tão evidentes. Não nos referimos apenas a trocadilhos, cameos e easter eggs… Os leitores atentos encontrarão laivos de crítica sociopolítica, desde Donald Trump à relação do IMI com a exposição solar. E também irão descobrir neste livro o sentido da vida? Nuno Markl, responsável pela introdução, diz que sim…

As capas de Carlos Pedro e Miguel Montenegro
As capas de Carlos Pedro e Miguel Montenegro

nota 1: agradecemos aos autores as declarações prestadas.
nota 2: podem ser visionados previews da obra aqui.
nota 3: fotografia cedida por Nuno Rodrigues.

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