Janeiro de 2017 em BD

Janeiro de 2017 em BD

Janeiro tem por hábito ser um mês tímido no que toca à quantidade de publicações nacionais de banda desenhada, o que não significa que não seja um mês a seguir anualmente com atenção.

Em 2017, tal não foi diferente, com várias das editoras que se dedicam (quase) exclusivamente à banda desenhada a não editar BD, ausência esta também manifestada por editores generalistas (de maiores ou menores dimensões) que com alguma frequência também o realizam.

PUBLICAÇÕES

O Bandas Desenhadas identificou os seguintes números de novidades de banda desenhada (publicações com BD em mais de 50% das suas páginas), segundo o canal de distribuição:
– Pontos de venda de periódicos: 11
– Livrarias: 4
– Distribuição alternativa: 8

A nível de formato, as 23 publicações podem ser divididas em;
– Revistas: 5
– Livros: 12
– Outros (brochuras, etc): 6

Dos 6 lançamentos em livro nos pontos de venda de periódicos, a totalidade pertence a séries autolimitadas:
– Associados a jornal: 4
– Não associados a periódico: 2

Destas 23 publicações, 8 são de autores portugueses. As restantes publicações têm como país de origem:
– Bélgica: 4
– EUA: 4
– Itália: 4
– Itália + Brasil: 1
– Japão: 1
– Reino Unido: 1

No que toca à originalidade das obras sob o formato de papel no nosso país, das 21 publicações verifica-se a existência de:
– Inéditos mundiais: 5
– Inéditos em Portugal: 12
– Reedições: 5
– Material parcialmente reeditado (e restante inédito): 1
Dos 12 inéditos em Portugal, 1 tinha conhecido prévia distribuição nos pontos de vendas de periódicos via publicações brasileiras.

Eis as editoras das publicações identificadas:
– Abysmo: 1
– Asa: 4
– Câmara Municipal de Lousada: 1
– Chili Com Carne + Mundo Fantasma: 1
– Devir: 2
– Goody: 4
– José Pires: 4
– Manuscrito (Presença): 1
– Salvat: 2
– Stolen Books: 1
– Tiago da Bernarda: 1
– Zero a Oito: 1

Janeiro foi também o mês em que algumas publicações estritamente disponíveis via distribuição alternativa em 2016, conheceram distribuição nacional (Devir, G. Floy, Libri Impressi), sendo a Libri Impressi a única em que tal sucedeu com uma obra de autores nacionais e não estrangeiros.

BD PORTUGUESA EM DESTAQUE

Apesar do número aparentemente reduzido de publicações de autores nacionais em janeiro, o ano de 2017 começa da melhor forma. Por um lado, foram publicadas obras de 3 autores portugueses contemporâneos incontornáveis – Francisco Sousa Lobo, António Jorge Gonçalves e André Carrilho. O livro de BD de Francisco Sousa Lobo (It’s no Longer I that Liveth, Mundo Fantasma/Chili Com Carne) tem a particularidade de conhecer apenas distribuição alternativa. Por seu turno, o livro de António Jorge Gonçalves (A Minha Casa Não Tem Dentro, Abysmo) tem distribuição nas livrarias, apesar de presumirmos que, ao contrário de nós, nem todos o considerem de banda desenhada. Por último, o zine de pequena tiragem de André Carrilho (Uppercut, Stolen Books) é dedicado ao cartoon editorial (havendo também quem, academicamente, defenda incluir ou não os trabalhos em cartoon na banda desenhada) e, dado o reduzido número de páginas, cria o desejo de uma nova antologia futura com mais espaço para expor os trabalhos do autor.

Por outro lado, os apreciadores da BD nacional da década de 40 do século passado, certamente se encantaram com a publicação dos 2 zines dedicados às obras de Vítor Péon, faneditados em janeiro por José Pires, em especial atendendo a 2 particularidades – Três Balas nunca tinha sido publicado na sua totalidade e O Juramento de Dick Storm nunca tinha conhecido republicação.

Registem-se ainda três situações. Tiago da Bernarda continua a cumprir o ritual anual de lançar em janeiro um zine de BD melómana intitulado O Gato Mariano Não Fez Listas…, revelando um planeamento rigoroso e eficaz, nem sempre verificado quando se aborda a edição independente seriada.

Quanto a Agá: A Cura, tem 2 particularidades. Não se trata apenas do livro de estreia de Vítor Oliveira, com direito a 60 páginas, mas também integra uma iniciativa do Município de Lousada em promover o interesse dos adolescentes pela literatura em geral e, neste caso em concreto, a banda desenhada em particular, através da oferta e discussão da obra em sala de aula.

Por fim, registe-se o fenómeno mediático do youtuber e gamer Wuant, aka Paulo Borges. O livro Wuant: O Início, com desenhos de Luís Valente, marca a estreia da chancela Manuscrito da Editorial Presença na BD. Lançado no dia 17, uma semana depois teve direito a segunda edição, com longas filas de autógrafos em veras invasões de fãs do youtuber nas apresentações que foram realizadas.

Perante um mês com tantas propostas diferentes – e sem que algumas editoras que por norma se dedicam à banda desenhada portuguesa tenham ainda iniciado a sua atividade – reforçamos a nossa recomendação de banda desenhada portuguesa aos leitores portugueses (e internacionais). Descubram as obras e autores que vos interessam e apoiem os autores nacionais e editoras que os publicam. E sejam proativos na pesquisa pois, por exemplo, das 8 obras assinaladas em janeiro, apenas 2 têm distribuição no canal livreiro.

EVENTOS

Entre as exposições inauguradas nos meses anteriores que persistiriam em janeiro e os eventos decorridos ou inaugurados naquele mês, foram 31 dias extremamente ricos no que toca a propostas.

Deste modo, foram realizados ou inaugurados eventos dedicados a um número considerável de autores, com diferentes experiências na área da banda desenhada, entre os quais André Coelho, Fernando Relvas, Filipe Felizardo, João Paulo Cotrim, Jorge Coelho, Miguel Rocha, Mosi, Rodolfo, Rui Zink, Sérgio Marques ou Vítor Oliveira, conforme noticiámos na nossa agenda.

Entre outros eventos, realizou-se ainda em terras nacionais mais um Seminário Banda Desenhada e Pensamento Político da FCSH/UNL, UAc e FLUL e mais uma Feira Morta, enquanto vários autores, editores e leitores nacionais rumaram para o 44.º Festival Internacional de BD de Angoulême.

AUTORES NACIONAIS PUBLICADOS NOUTROS PAÍSES

Existem alguns autores nacionais que se encontram a trabalhar periodicamente para o mercado norte-americano e a sua ausência num ou noutro mês prende-se frequentemente mais com a calendarização das editoras do que o seu trabalho contínuo para aquele mercado. Outros há em que a edição noutro país é um evento excecional. De qualquer modo, esta listagem não tem por fim uma análise estatística, mas sim uma aglomeração de informação dispersa pelo nosso site, disposta de uma forma simples, para futura referência.

Eis os autores que identificámos, dispostos alfabeticamente, com publicações de banda desenhada noutros países, durante o mês janeiro:
– Daniel Henriques (Justice League vs Suicide Squad #5, DC Comics, EUA – arte-final parcial)
– Daniel Lima (mini kuš! #47: Sutrama, kuš!, Letónia – autoria completa)
– Hetamoé (Spookytongue, Ediciones Valientes, Espanha – autoria completa)
– Jorge Coelho (Rocket Raccon #2 vol. 3, Marvel, EUA – desenho e arte-final)
– Miguel Mendonça (Green Lanterns #15, DC Comics, EUA – desenho)

BD ESTRANGEIRA EDITADA EM PORTUGAL

Este ponto revelou-se praticamente ausente de grandes novidades. Basicamente, seja nas bancas (Asa, Goody, Salvat, Zero a Oito), seja nas livrarias (Devir), prosseguiram-se as séries em continuação. Entre estas, a única vera novidade foi o facto da revista antológica Hiper Disney passar a publicar periodicamente banda desenhada brasileira, além da italiana.


IMPORTAÇÃO NAS BANCAS

Para além do mercado editorial de banda desenhada em Portugal, existem outros pontos que são alvo do nosso Observatório. Um deles é a importação de revistas de, com ou sobre banda desenhada distribuídas nas pontos de venda dos periódicos.

Como nota de rodapé, verifica-se então que as revistas brasileiras distribuídas nas bancas ultrapassam em número a totalidade das publicações nacionais. Em janeiro, foram distribuídas:
– Mythos: 4 títulos
– Panini Brasil: 27 títulos

Estes 31 títulos têm como editora original:
– Bonelli (Itália): 4
– DC (EUA): 6
– Marvel (EUA): 6
– Mauricio de Sousa (Brasil): 15

No que toca às publicações francesas de, com ou sobre BD, foram distribuídas 12 publicações.

nota: considerem-se os números apresentados neste artigo como pré-definitivos até à publicação do artigo referente ao ano de 2017.

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