Finda a Comic Con Portugal 2017, apresentamos as nossas últimas reflexões sobre a edição deste ano bem como a última fotorreportagem.
Como escrevemos em anos anteriores, não é novidade que o modelo norte-americano da Comic Con há muito que deixou de estar exclusivamente focado na banda desenhada. O cinema, as séries televisivas e o gaming tornaram-se áreas fortíssimas da Comic Con, não sendo no entanto descuradas as raízes deste evento ou não fosse a indústria norte-americana de comics uma das mais poderosas no mundo da banda desenhada. E a transmedialização permite que os personagens dos comics estejam presentes nos mais diferentes produtos, o que é inclusivamente um elemento facilitador do forte componente de merchandising que lhes está associado. Prova viva de tal foi o divertido painel com Clark Gregg, o ator que interpreta o Agente Coulson da S.H.I.E.L.D., quase no final do evento.
Nesse sentido, não foi surpresa que a Comic Con Portugal, desde a sua primeira edição, destaque o seu componente na área do cinema e televisão, sendo um dos fatores mais importantes na promoção do evento no que toca ao conteúdo anunciado. Outra área que mostrou ao longo dos 4 anos, per se, originar visitas é o cosplay. A oportunidade dos cosplayers terem (mais) um espaço para se expressar livremente ou participarem nos concursos é outro importante factor nas vendas de bilhetes, competindo-lhes a função informal de animar e colorir todas as áreas do evento.
Parece-nos também que, ao longo dos 4 anos, a aposta no gaming tem sido crescente e, a par dos torneios e demais competições, são cada vez mais procuradas pelos visitantes as possibilidades de experimentar os mais recentes videojogos, consolas e/ou componentes específicos, como a realidade virtual.
Inversamente, as atividades na Comic Con Kids, frequentemente aquém das demais áreas nos restantes anos, tiveram em 2017 um decréscimo de atividades planeadas para os mais novos.
A aposta na música pelo segundo ano consecutivo, mostrou-se uma aposta ganha, permitindo à Lisbon Film Orchestra demonstrar todo o potencial acústico do Auditório B, apesar da irrequieta plateia, mais centrada em que franchises iriam ser apresentadas do que propriamente na execução musical das mesmas.
A nível geral, atendendo à pouca afluência dos 2 primeiros dias, parece-nos que o formato de 4 dias iniciado o ano passado possa ser excessivo, com a agravante de em 2017 metade dos dias terem sido úteis (e ainda em época escolar, como habitual).
Os habituais problemas gerados pela grande afluência de público regressaram no sábado, com as filas para as poucas caixas de multibanco e a fraca rede de telemóvel.
Ao contrário de anos anteriores, os visitantes foram surpreendidos com várias zonas vazias, provavelmente resultantes dos anunciados cancelamentos a poucos dias antes do evento decorrer, sem possibilidade para a organização encontrar outras soluções.
No que toca à área da banda desenhada, a mesma encontrava-se retalhada, ao contrário de outras áreas bem delineadas no evento. O Auditório Comics & Literatura, apesar de improvisado para o efeito, estava bem desenhado e era confortável, tornando novamente o espaço digno, algo que já não ocorria desde a primeira edição, quando se localizou no Auditório B da Exponor. No entanto, a ausência de isolamento acústico tornava-o um desafio para os convidados, moderadores e audiência quando os cosplayers se encontravam no átrio para fotos de grupo ou no caso de desfile de cosplayers.
Dos 3 painéis que o Bandas Desenhadas foi convidado a moderar na pessoa de Nuno Pereira de Sousa – Giorgio Cavazzano, Osvaldo Medina e Nuno Plati -, os mesmos estavam compostos no que toca à audiência. Apesar da localização distante de todas as restantes atividades do evento, no primeiro piso, aparentemente foi possível aos interessados localizarem o Auditório.
Era também neste piso que se realizavam as portfolio reviews. Apesar de não termos dúvidas das vantagens de autores que estejam ou queiram começar a dar os primeiros passos na banda desenhada terem o privilégio de ver o seu trabalho ser apreciado por autores e docentes de mérito amplamente reconhecido, como Nuno Saraiva, lamenta-se que, paralelamente, se tenha perdido a vinda de editores estrangeiros à Comic Con, como sucedeu nos primeiros anos, para realizar os portfolio reviews. Com exceção de Mário Freitas da Kingpin, mais nenhum editor nacional realizou estas avaliações. Registe-se, contudo, que aparentemente, ao longo destes 4 anos, nenhuma das portfolio reviews realizadas gerou diretamente algum trabalho, seja no país ou no exterior, pelo que é um capítulo a necessitar de ser revisto pela organização.
Este ano, a área do Artists’ Alley era a maior dos 4 anos, tendo as inscrições esgotado há muito tempo. O espaço que lhe foi dedicado ocupava a totalidade do primeiro e segundo ano do evento. Este ano, os autores convidados estavam bem identificados no Artist’s Alley, ao contrário de anos anteriores. Por outro lado, alguns artistas estavam descontentes não somente com as condições do espaço e se tratar mais de um local de passagem do que de permanência, à semelhança da segunda edição, como também por não partilharem, como o ano passado, o mesmo espaço que os expositores.
Foi precisamente no Artists’ Alley que as publicações de banda desenhada com distribuição alternativa tiveram maior significado, com alguns autores a elaborarem trabalhos para serem lançados precisamente neste evento. Era também no Alley que se encontraram autores estrangeiros de BD com publicações do seu trabalho, uns a visitar o evento pela primeira vez e outros regressando a Portugal propositadamente para o efeito. No entanto, o número de artistas de banda desenhada no Alley tem todos os anos uma proporção diminuta, pelo que comparações com o Artists’ Alley de Nova Iorque, como ocorreu na conferência de imprensa, nos parecem perfeitamente descabidas.
Quanto ao espaço destinado aos autógrafos de Comics & Literatura, pareceu-nos a solução com maior visibilidade desde o início do evento, apesar de deslocado das restantes áreas relacionadas com a banda desenhada.
A nível de expositores de editores de banda desenhada, este ano houve um decréscimo acentuado da sua presença, aparentemente por desacertos no que toca às condições oferecidas e, quiça, à ainda não confirmada deslocação do evento para a capital do país.
Se o ano passado, a propósito de vários editores não terem estado presentes, escrevemos que competia à organização repensar como pode tornar o evento atrativo para os editores de banda desenhada, de modo a que um dos seus eixos fundadores permaneça forte também na oferta dos expositores, se o caminho realizado este ano não foi o oposto, o resultado final assim o demonstrou.
De qualquer modo, ao contrário dos anos anteriores, mesmo os editores presentes tiveram um desinvestimento total na Comic Con a nível de novidades editoriais propositadamente coincidentes com o evento (relacionadas ou não com autores presentes), bem como da publicação de edições especiais exclusivas do evento. A única novidade de BD realmente planeada pelos editores era a edição nacional de Man Plus de André Lima Araújo pela Kingpin, que, infelizmente, não ocorreu devido a questões logísticas com a gráfica.
A única iniciativa aproximada foi a da Goody vender antecipadamente todas as publicações da Marvel, incluindo as novas séries, que serão distribuídas nos pontos de venda de periódicos ao longo de dezembro.
Também da parte da organização, para além dos Galardões de BD, cuja sessão de anúncio dos vencedores no Auditório B se revelou parca quanto à assistência, não houve nenhuma outra iniciativa no que toca à banda desenhada. As exposições dos primeiros anos deixaram de ser realizadas e, se o ano passado a CITY editou o livro de BD Hoje Aconteceu-me uma Coisa Brutal dos espanhóis El Torres e Júlian López, este ano não ocorreu nada semelhante.
Curiosamente, a maior surpresa no que toca à venda de banda desenhada nos expositores veio daqueles não especializados na BD – isto é, que não são editores de BD, nem livreiros -, com a venda de publicações de BD norte-americanas para além do habitual merchandise.
Um dos apontamentos que costumamos realizar nestas nossas considerações finais ano após ano, continua a manter-se pertinente. Seria aconselhável uma maior articulação entre expositores e organização para veicular informação relativa à presença de autores no stands para dialogar com os leitores e facultar autógrafos.
No entanto, a nossa maior crítica à organização no que toca à banda desenhada é aquela que repetimos anualmente. Continuamos a manter a opinião de que é necessário um olhar muito mais atento ao mercado editorial para equacionar a escolha de autores a convidar para a Comic Con. Do mesmo modo, é necessário um olhar mais atento ao panorama nacional, de modo a ser ainda mais representativo da boa banda desenhada de autores portugueses.
Por fim, ouvimos ano após ano a organização sublinhar a grande importância que a área da Banda Desenhada tem na Comic Con. Numa das futuras edições, gostaríamos de ver tal realmente acontecer.
Terminamos com as últimas fotografias que disponibilizaremos este ano, capturadas ao longos dos 3 últimos dias do evento:
Eis os números oficiais do evento:
- 60 mil metros quadrados;
- 100748 visitantes (ao invés dos 72981 do ano passado);
- 187 convidados de várias nacionalidades;
- 206 conteúdos;
- 405 atrações.

Médica e leitora compulsiva, no Bandas Desenhadas assumiu funções de reportagem e de crítica.
A Banda Desenhada esteve tão forte como no ano passado. Só porque este ano não houve um lançamento no evento? A Goody estava cheia, dinamizou e trouxe autores da casa, algo que nenhuma editora de BD antes tinha feito e foi a primeira a mostrar profissionalismo ao faturar os livros que vendia e portanto ser provavelmente a primeira vez que temos algum tipo de noção de quantos livros se vendem neste tipo de eventos. Discutir o papel das editoras merece uma análise mais complexa do que “têm de ser motivadas a vir”… Há com certeza muito a ser melhorado por parte da organização, mas é bom recordar que é prática internacional os artistas de bd virem a convite das suas editoras, é só por os olhos em Madrid ou Paris. Nas três edições anteriores, quantos vieram com o apoio da editora e quantos foram fruta do vizinho que caiu em quintal alheio ou esmolas da organização? O debate sobre o estado editorial justifica um texto mais profundo que isto…
Algumas clarificações: “fruta do vizinho que caiu em quintal alheio ou esmolas da organização” é exactamente o que aconteceu com a Goody, já que TODOS os convidados este ano foram escolhidos pela organização, sem sugestão de nenhuma editora; a Goody teve a boa sorte de ver alguns dos desenhadores de comics que editaram ser convidados, e conseguiram convencer a organização a deixar que eles assinassem nos stands deles (mediante uma parceria de pub nalgumas suas revistas). Por isso, não: a Goody não trouxe nenhuns autores da casa, teve sorte. Acrescento que isto me foi dito pela própria Goody.
Em segundo lugar, houve editoras que trouxeram autores, e programaram lançamentos para o evento. Nós próprios (G.Floy) convidámos o Peter Snejbjerg na edição de 2015, e convidámos o Jason Latour em 2016, mas devido a um grave problema pessoal ele acabou por nos dizer que não estava disponível, ainda antes de ser anunciado, e depois já era muito em cima da hora para convidar outros autores. Nestes casos de convidados das editoras, a organização sempre comparticipou algumas das despesas (p.ex. hotel, etc…).
Relativamente a saber quantos livros se vendem num evento, são contas que todas as editoras fazem, e todos nós sabemos exactamente quantos livros vendemos em cada evento (315 no Comic Con 2016 no caso da G.Floy), aliás, é exactamente por sabermos quantos livros vendemos que tomámos a decisão este ano de não participar.
A verdade é que o Comic Con é um evento MUITO caro, e que aumentou bastante de preço de 2015 para 2016 – embora a organização tenha afirmado na altura que “não tinha aumentado o preço” deveria ter precisado “por dia”, o aumento da duração do evento em um dia correspondeu a um aumento de 25% no custo de aluguer do stand. De salientar que nesse dia (a quinta do ano passado) se venderam exactamente 81€ no stand da G.Floy. Mas para além de termos pago mais 25% de aluguer, tivemos também de pagar a duas pessoas para lá estarem mais um dia.
Este ano a banda desenhada esteve muito mais fraca que o ano passado, sim senhor. Muitas editoras que já participaram em edições anteriores não apareceram: Levoir, Polvo, G.Floy, Arte de Autor. Não houve lançamentos previstos para o evento (com excepção daquele que tinha sido previsto do man Plus, que não ocorreu). Mais, depois de dois anos, já percebemos que NÃO se devem prever lançamentos para a segunda semana de Dezembro, já não se conseguem vender nem em Fnac’s, nem em Bertrands, e ficam encafuados nos armazéns até meados de Janeiro, e na verdade, a quantidade de livros vendidos de novidades não compensa estarmos a fazer isso. Este ano, as coisas foram ainda piores, já que a data do Comic Con foi mudada, e em vez de ser adiantada (para o fim de semana de 1 de Dezembro), foi atrasada: não só os FOIS primeiros dias foram de semana, como ainda por cima mais para a frente em Dezembro, mais longe de qualquer data possível de comercialização nos grandes clientes.
Finalmente, acrescentaria o seguinte: não tenho nada contra o evento nem contra as pessoas que o organizam. Mas o evento é o que é, e é notório que não há grande tentativa ou esforço de levar lá as editoras de BD. Ao contrário de anos anteriores, este ano não houve nem UM contacto personalizado por parte da Comic Con, e sei que isso foi geral com a maioria das editoras de BD (pelo menos a G.Floy e a Levoir, que são só DUAS das mais importantes editoras de BD), nem houve qualquer reacção a uma carta enviada pela G.Floy em finais de Maio detalhando vários problemas e dando várias sugestões de mudanças, nada. Não senti por parte da organização qualquer interesse especial na presença da G.Floy, e creio que posso dizer o mesmo no que toca à Levoir e à Arte de Autor (depois de falar com os seus responsáveis).
O Comic Con não tem qualquer obrigação de andar a motivar as editoras de BD a ir, claro, e eu até entendo que do ponto de vista da organização a BD seja relativamente menor, já que os autores levam pouco tráfego de visitantes, com raras excepções, e o espaço dedicado à BD tudo junto não compensa provavelmente o investimento (comparando com o que facturam em número de visitantes extra por causa dos autores e em aluguer dos stands, etc…). Mas a verdade é que as editoras vão lá primariamente para perder dinheiro, e tentar alguma visibilidade. Na minha perspectiva, isso implica algum “give-and-take” em negociação com a organização. Se não existe sequer uma personalização nas comunicações que a organização teve este ano com a G.Floy, no que me toca, não me interessa estar presente com parceiro/investidor/cliente, o que lhe quiserem chamar.
Dito isto: visitei o evento a título semi-pessoal agradeço à organização o convite que me deu para estar lá no Sábado, e apreciei o tempo que lá passei. Como disse, percebo as razões que levam o Comic Con a achar que a BD é um investimento que talvez não compense, e o evento é deles, pelo que admito que não tenho nada a ver com isso.
” Mais, depois de dois anos, já percebemos que NÃO se devem prever lançamentos para a segunda semana de Dezembro, já não se conseguem vender nem em Fnac’s, nem em Bertrands, e ficam encafuados nos armazéns até meados de Janeiro”
Bom timing para a coleçao da Harley Quinn da Levoir e n volumes da Planeta de Star Wars.
também este a editora maria jose pereira no portfolio review e nao apenas o sr. da kingpin