Moon Knight (Cavaleiro da Lua, nas traduções portuguesas) é dos meus super-heróis preferidos, e alegra-me perceber que há tantos fãs portugueses que sentem o mesmo, não faltando pedidos para a sua publicação à Goody na página do facebook da editora dedicada às suas publicações Marvel…
Quando penso neste personagem, vem-me sempre à cabeça a frase do escritor brasileiro Paulo Coelho: «Quando se quer uma coisa, o universo inteiro conspira a favor.» É impressionante como tudo começou com um vilão de terceira categoria e deu origem a um dos heróis mais complexos do Universo da Marvel!
Para aqueles que não estão familiarizados, Marc Spector (alter ego do Cavaleiro da Lua) apareceu pela primeira vez como um vilão contratado pelo Império Secreto, num arco de duas partes na revista Werewolf by Night (#32-33, agosto-setembro de 1975), de Doug Moench e Don Perlin. No entanto, o Cavaleiro da Lua revelou-se muito mais popular do que esperado e, assim, o personagem foi transformado num anti-herói nas várias aparições que fez nos anos seguintes.
Muitas vezes, denominado «o Batman da Marvel», este super-herói é, na minha opinião, muito mais do que uma simples imitação. Antes de mais, toda a história de publicação do personagem foi uma coincidência do destino, já que este manteve uma pequena (mas estável) fanbase ao longo dos anos, alimentada pela publicação de inúmeras pequenas séries.
Depois, temos toda a incrível mitologia por detrás do personagem e a sua luta pela sanidade mental, que o tornam menos deificado e mais próximo do leitor que o Batman.
Ao contrário do super-herói convencional, Marc não é só um homem numa máscara. Desde a sua primeira aventura a solo (na revista Marvel Spotlight #28, de 1976), que os leitores têm conhecimento da sua esquizofrenia, manifestando-se nas mais de 10 personalidades diferentes que teve ao longo dos anos…
Tendo as três personalidades principais desde criança, Marc não teve uma vida fácil enquanto crescia, porém, desde que começou a carreira de vigilante, usa isso a seu favor. Agindo e falando de maneira distinta, assume o papel de Steven Grant, um empreendedor multimilionário, para se distanciar do seu passado como mercenário e para financiar tudo o que a vida de vigilante implica; veste a pele de Jake Lockley, um taxista modesto, para obter informações nas ruas; e deixa os super-heroísmos para Marc Spector, a pessoa por baixo da máscara do Cavaleiro da Lua.
Na sua primeira série, de Doug Moench, em 1980, o Cavaleiro da Lua ganhou o seu Némesis e a sua origem única: um mercenário que fora morto no Egípcio aos pés de uma estátua do deus Khonshu e que, ao ser trazido de volta à vida, decide dedicar-se a combater o crime em nome do deus egípcio.
O personagem teve direito a mais duas séries entre 1985 e 1994, que contribuíram para alargar a sua galeria de vilões, mas depois caiu praticamente no esquecimento (houve ainda duas minisséries em 1998 e 1999, embora com pouco sucesso).
Foi em 2006, ano de lançamento da incrível saga de Charlie Huston e David Finch, que muitos leitores deixaram de tratar o Cavaleiro da Lua como «aquele gajo maluco».
Com o primeiro número da revista entre as cinco da Marvel mais vendidas nesse mês, esta série lançou com sucesso o personagem no mundo do século XXI, abordando a sua insanidade de um ponto vista mais negro e deixando-nos a famosa frase: «Eu não uso o branco para me esconder. Uso-o para que me vejam a chegar. Para saberem quem é. Porque quando veem o branco, não interessa quão fácil é atingirem-me. As mãos deles tremem tanto, que não conseguiriam acertar na Lua.»
Desde então, as séries têm-se sucedido, com incríveis abordagens à loucura de Marc, tendo o herói feito parte de várias equipas e desempenhado papeis importantes em vários grandes eventos, como é o caso de Era de Ultron, publicada em Portugal pela Levoir, e Terra das Sombras publicada pela Salvat.
Apesar de ser, por vezes, vítima dos cancelamentos precoces da Marvel, as séries deste personagem têm prosseguido e os fãs já sabem que a paciência compensa: na recente série de Jeff Lemire e Greg Smallwood, os criadores levam Marc numa direção completamente nova, tornando cada número uma verdadeira obra de arte. Nesta série, a questão da sanidade de Marc é levada a níveis sem precedentes, fazendo-se a pergunta audaz: Será que tudo o que aconteceu até agora não se passou simplesmente na cabeça de Marc?
Aproveitando este pretexto para recontar a origem de Marc e explorar a sua infância, esta série é o ponto de começo ideal para qualquer leitor que queira entrar no estranho mundo do Cavaleiro da Lua, situando-se cronologicamente na época das publicações que estão a ser atualmente publicadas pela Goody.
Já houve, pelo menos, duas tentativas de fazer uma série televisiva do Cavaleiro da Lua. Por seu turno, James Gunn (o diretor dos filmes dos Guardiões da Galáxia) já mostrou interesse em adaptar este personagem ao grande ecrã. Com os rumores sobre a sua aparição numa das séries da Netflix a circular desde a primeira temporada do Demolidor, os fãs do personagem anseiam que esta empresa anuncie uma série televisiva dedicada a Moon Knight.
Apesar de já existir há mais de 40 anos, o Cavaleiro da Lua parece nunca ter tido direito à luz do holofote no nosso país. Talvez seja necessária a sua adaptação à televisão para que as editoras portuguesas dêem a conhecer este personagem fascinante ao público português.