Para a análise do primeiro trimestre de 2018, utilizaram-se os dados identificados pelo site Bandas Desenhadas relativos ao período entre 1 de janeiro e 31 de março de 2018.
Canal de distribuição
Identificaram-se os seguintes números de novidades de banda desenhada (publicações com BD em mais de 50% das suas páginas), segundo o principal canal de distribuição:
– Pontos de venda de periódicos: 36
– Livrarias: 33
– Distribuição alternativa: 18
Como se pode verificar, o canal de distribuição preferido foi o dos pontos de venda de periódicos. Nesta categoria, foram consideradas não somente as edições exclusivas desse canal mas também aquelas cuja distribuição inicial se dá nas bancas em distribuição com um periódico, surgindo bastante tempo depois no mercado livreiro (p.e., publicações da Levoir ou Asa).
Inversamente, aquelas que são distribuídas concomitantemente (ou quase) nos dois canais, não associadas a um periódico, foram agrupadas na categoria da distribuição livreira. Deste modo, na prática, no primeiro trimestre foram distribuídas nas bancas mais de 36 publicações de BD, uma vez que as concomitantemente distribuídas no mercado livreiro (p.e., G. Floy) não foram contabilizadas para evitar duplicações.
Este facto, torna aquele canal de distribuição ainda mais importante. De facto, os pontos de venda de periódicos continuam a ser uma aposta forte das editoras nacionais de banda desenhada. Podemos dividir a sua política editorial em:
- Canal exclusivo (ou quase) de distribuição (p.e., Goody e Salvat);
- Canal reservado a publicações distribuídas com periódicos (p.e., Levoir e Asa);
- Canal complementar à distribuição livreira (p.e., G. Floy).
Quanto à distribuição alternativa, reúne as publicações que não foram nem planeiam ser distribuídas em nenhum dos canais anteriores, sendo vendidas (ou oferecidas) diretamente pela editora (ou chancela, autor, instituição, etc), virtual ou presencialmente em espaço próprio ou ligado a um evento. Registe-se que esta categoria, por definição, deve ser sempre quantificada enquanto número mínimo identificado, pois é sempre possível existirem publicações não distribuídas nas bancas nem nas livrarias que não foram identificadas.
Quanto a publicações sobre BD, foi identificada 1 revista, editada pela Juvemedia e com distribuição alternativa. Na análise de publicações de BD, não foi contabilizada.
Tipologia
A nível de tipologia, as 87 publicações de BD podem ser divididas em:
– Livros: 70
– Revistas: 3
– Jornais: 0
– Outros (brochuras, etc): 14
Atendendo ao pequeno mercado editorial de banda desenhada em Portugal, alterações minor originam diferentes paradigmas.
A nível de tipologia de publicação, a inexistência de novos números do jornal Jankenpon teve como consequência uma inexistência de publicação de jornais de banda desenhada no primeiro trimestre do ano.
Por seu turno, a adoção do formato livro pela Goody – dúvidas houvesse, verifique-se o ISBN, ao invés do ISSN, nas respetivas fichas técnicas – originou uma diminuição drástica do número de revistas de banda desenhada, visto ser a editora que mais revistas editava anualmente.
Deste modo, é incontestável ser o livro a tipologia mais utilizada para a publicação de banda desenhada no nosso país. Na categoria “outros”, a segunda mais importante na nossa análise, incluíram-se zines e outras edições independentes que não se enquadravam nas tipologias de livro, revista nem jornal.
Das 35 novidades em livro identificadas nos pontos de venda de periódicos, todos pertencem a séries autolimitadas:
– Não associados a periódico: 21
– Associados a jornal: 14
Se em anos anteriores, a associação do livro a periódicos era predominante – com exceções bem marcadas, como a série dedicada a Star Wars da Planeta DeAgostini ou a série dedicada à Marvel da Salvat -, as publicações da Goody fizeram pender a balança na direção oposta. E se equacionarmos que não se contabilizam as edições que concomitantemente têm outros canais de distribuição, ainda menos peso tem a distribuição com os periódicos.
São também as publicações da Goody que introduzem também um artifício na análise. Se é verdade que, até, ao momento, os livros distribuídos nos pontos de venda de periódicos, de um modo geral, ou pertenciam a séries autolimitadas ou eram one-shots, as séries de livros autolimitadas da Goody na verdade sucedem-se imediatamente após o término da anterior (p.e., Homem-Aranha: Série I e Homem-Aranha: Série II), com exceção das minisséries. Tivesse a Goody adotado uma numeração contínua, ao invés de divisão por séries, e, neste primeiro trimestre, existiriam nas bancas séries de livros não autolimitadas.
País de origem
Destas 87 publicações de BD, 13 são edições com Portugal como país de origem. As restantes publicações têm como país de origem:
– Alemanha: 1
– Austrália: 2
– Bélgica: 5
– Brasil: 1
– França: 1
– Espanha: 9
– EUA: 45
– Japão: 7
– Reino Unido: 3
Se nos primeiros anos de publicação de BD disneyana pela Goody, a Itália era o país de origem com mais banda desenhada publicada em Portugal, quer em n.º de publicações, n.º de páginas e n.º de histórias, com a diminuição do número de publicações de BD disneyana e a aposta da editora em diversificar os países de origem nessas revistas – passando a publicar, além de Itália, BD de EUA, Brasil, Dinamarca, Holanda, França… -, nos 2 anos mais recentes, os EUA recuperaram o pódio, graças ao concomitante crescimento do catálogo norte-americano de outras editoras. Com a própria Goody a editar Marvel, não é de estranhar que a BD norte-americana corresponda a mais de 50% da BD editada no primeiro trimestre.
Portugal surge num honroso segundo lugar, mas, das 13 publicações identificadas, para além de nenhuma ter sido distribuída nos pontos de venda de periódicos, somente 6 foram distribuídas no mercado livreiro, sendo as restantes 7 somente encontradas nos menos visíveis canais alternativos. Para os leitores interessados em ler banda desenhada portuguesa, a “distribuição alternativa” continua a ser um “canal” extremamente importante para conseguir ter contacto com tais obras, frequentemente com tiragens muito limitadas.
Originalidade
No que toca à originalidade das obras sob o formato de papel no nosso país, das 87 publicações verifica-se a existência de:
– Inéditos em Portugal: 62
– Inéditos mundiais: 13
– Reedições: 12
Como seria de esperar num mercado de BD principalmente alicerçado em traduções, os inéditos mundiais ocupam uma posição discreta, sendo também rara a publicação simultânea de um inédito em vários países abranger Portugal. As reedições (parciais ou totais) correspondem a cerca de 14% das publicações identificadas neste trimestre.
Dos 62 inéditos em Portugal, 7 tinham tido distribuição prévia (total ou parcial) nos pontos de vendas de periódicos via publicações brasileiras.
Editoras
Eis as editoras/chancelas das publicações de BD identificadas:
– Asa: 6
– Bizâncio: 1
– Chili Com Carne / Ar.Co: 1
– Devir: 7
– Documenta: 2
– Escorpião Azul: 2
– G. Floy: 9
– G. Floy / Comic Heart: 1
– Gailivro: 1
– O Gato Mariano: 1
– Goody: 17
– José Pires: 9
– Kingpin: 1
– Levoir: 9
– Libri Impressi: 2
– O Panda Gordo: 1
– Pato Lógico: 1
– Planeta: 3
– Porto Editora: 3
– Os Positivos: 1
– Rodolfo Mariano: 1
– Saída de Emergência: 1
– Salvat: 4
– Sapata Press: 2
– TailorMade: 1
Com as publicações da Marvel, a Goody regressou ao estatuto de editora que mais BD edita em Portugal. Neste primeiro trimestre, entre as suas séries mensais e uma minissérie semanal da Marvel, o seu catálogo restringiu-se essencialmente àquela editora norte-americana, com uma exceção, o primeiro volume de uma minissérie de BD – também norte-americana – da Ubisoft (publicada originalmente pela Titan).
Segue-se a G.Floy, que neste primeiro trimestre recorreu exclusivamente aos EUA, com exceção de uma coedição portuguesa com a Comic Heart. Com um catálogo centrado na Image e Marvel, neste trimestre a editora publicou também BD da Dark Horse e da Boom! Studios.
Quanto à atividade editorial da Levoir, resumiu-se à BD espanhola de Torpedo e à sua segunda fase de publicação da BD norte-americana Y, O Último Homem (Vertigo, DC Comics).
A Devir merece também uma referência, não somente por ter publicado 7 livros de BD, mas pelos mesmos serem todos mangas da editora Shueisha. Findo o primeiro trimestre do ano, parece que o catálogo da editora se tornou mais restritivo. Não houve continuação de nenhuma das bandas desenhadas norte-americanas iniciadas em anos anteriores (p.e., Paper Girls, Criminosos do Sexo), nem sinais de que as suspensões de Walking Dead e Naruto sejam reversíveis. Por seu turno, também a chancela Biblioteca de Alice mostrou-se inativa e não houve notícias sobre as 2 BD infantojuvenis anunciadas de Raina Telgemeier nem da continuação da publicação das BD da Boom!Studios baseadas em séries televisiva do Cartoon Network.
Por fim, no grupo das editoras com mais de 5 publicações no primeiro trimestre, encontra-se a Asa, graças à série franco-belga IR$ distribuída nos pontos de venda de periódicos e a obra norte-americana Wonder Struck no mercado livreiro (que cumpre o nosso critério de mais de 50% de páginas de BD).
Registe-se que a Asa (com Wonder Struck) e a Goody (com a minissérie do Pantera Negra), enquanto estratégia de marketing, realizaram edições coincidentes com a estreia dos filmes com a adaptação da obra e do personagem.
IMPORTAÇÃO NOS PONTOS DE VENDA DE PERIÓDICOS
Para além do mercado editorial de banda desenhada em Portugal, existem outros pontos que são alvo do nosso Observatório. Um deles é a importação de revistas de, com ou sobre banda desenhada distribuídas nas pontos de venda dos periódicos.
No primeiro trimestre, foram distribuídas:
– Panini Brasil: 58 publicações
Estas 58 publicações têm como editora original:
– Marvel (EUA): 16
– Mauricio de Sousa (Brasil): 42
No que toca às publicações francesas de, com ou sobre BD, foram distribuídas 33 publicações. Foram ainda distribuídas 2 revista belgas.
No total, no primeiro trimestre de 2018, foram distribuídas 93 publicações importadas de, com ou sobre banda desenhada nos pontos de venda de periódicos. Recorde-se que, não tendo em contra os livros concomitantemente distribuídos em livrarias, neste canal foram distribuídas 36 publicações nacionais de BD. Do total das 129 publicações distribuídas nas bancas, 72% corresponde a publicações importadas.
nota: considerem-se os números apresentados neste artigo como pré-definitivos até à publicação do artigo referente ao ano de 2018.

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.
“Não houve continuação de nenhuma das bandas desenhadas norte-americanas iniciadas em anos anteriores (p.e., Paper Girls, Criminosos do Sexo), nem sinais de que as suspensões de Walking Dead e Naruto sejam reversíveis. ”
E nenhum site ou blog sequer fala nisso ordens superiores!!???
A devir completou a primeira fase da série naruto, e pelo que sei, a série recomeçará a ser editada mais para o fim do ano. Mas este primeiro grupo de livros editados corresponde, pelo que percebi, a um arco de história completo.