Ao oitavo álbum, a série As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris parece finalmente ter ganho fôlego, surpreendentemente com uma visita do cowboy a Paris.
[dropcap]U[/dropcap]m Cowboy em Paris é o mais recente número da série As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris. Criado em 1946 pelo belga Morris, a série cómica de western conheceu sucesso internacional, inclusive entre várias gerações do nosso país, tendo vindo mais tarde a ser transposta para o cinema, a televisão e os videojogos.
Quanto à série de banda desenhada, com direito a 70 álbuns, obteve um acréscimo de qualidade quando os argumentos passaram a ser escritos por René Goscinny, com o lançamento do 11.º álbum em 1958, mantendo-se o criador da série somente no desenho. Sem dúvida alguma, é este o período de ouro de Lucky Luke. A série jamais viria a recuperar do falecimento de Goscinny, cujo último trabalho continuado em Lucky Luke pode ser lido no 46.º da série (para além da publicação póstuma do 51.º álbum e de histórias curtas constantes dos 49.º e 55.º álbuns). Com o falecimento de Morris em 2001, o 70.º álbum foi publicado em 2002, já em plena decadência crítica da série quanto aos argumentos, tendo diversos autores tentado ao longo das décadas substituir Goscinny, sem sucesso. Por seu turno, os spin-offs Rantanplan (1987-2011) e Kid Lucky (2001-2017) também não contam com a benesse dos críticos.
Apesar da queda qualitativa dos argumentos e da própria popularidade da série, o mercado franco-belga tratou-a bem, entre os antigos leitores, já crescidos, e os mais novos que entretanto a foram descobrindo, graças à constante republicação da série, de modo a estar integralmente disponível nas livrarias. Não seria portanto de estranhar que a Lucky Comics, filial da editora Dargaud, fundada por Morris e a própria Dargaud, tenha decidido dar continuidade às aventuras de Lucky Luke com uma nova série após o falecimento do seu criador, intitulada As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris.
Se o desenho de Achdé seguiu as pisadas de Morris, não se distanciando demasiado do trabalho do seu criador, a crítica não tem sido tão favorável com os argumentos da nova série. Se a série inédita em Portugal Lucky Luke vu par… permite que autores explorem a nivel gráfico e de argumento o cowboy mais rápido que a sombra com muito bons resultados, a série As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris, apesar das vendas, não tem conseguido alcançar sucesso entre os críticos.
Com Um Cowboy em Paris, o segundo álbum da série escrito por Jul, finalmente se atinge um bom patamar qualitativo, contra todos os maus augúrios de que uma viagem de Lucky Luke a Paris não poderia dar bons resultados. É, sem dúvida, o melhor álbum desta nova série, tendo os autores se divertido a parodiar os franceses e a própria série – como inquirirem se Lucky Luke não seria belga em vez de norte-americano, dado vestir as cores da Bélgica, ou o Rantanplan transformado numa gárgula de Notre Dame. A questão que se coloca é se a série se encontra realmente no bom caminho ou se foi um acaso. Se, após tantos álbuns, existe uma saturação das temáticas que Lucky Luke aborda e não é possível perpetuar a frescura de Um Cowboy em Paris com a transformação da série num catálogo de aventuras em países distantes, retirando frequentemente o cowboy do velho oeste, Jul ou os próximos argumentistas têm a difícil tarefa de se aperceberem como manter a fasquia.
Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:
Eis o texto que acompanha o dossier de imprensa do lançamento:
Este álbum coloca frente a frente três figuras míticas: um homem, uma mulher e uma cidade. O primeiro é Lucky Luke, o cowboy solitário habituado às mais delicadas missões e incumbido, desta vez, da mais monumental das escoltas. A segunda é Lady Liberty, com 93 metros de altura e um prestígio nunca igualado: um símbolo universal à altura da coragem de Lucky Luke. A terceira é Paris, que viu a estátua elevar-se acima dos telhados do bairro Monceau, para grande estupefação dos seus habitantes… Como muitas vezes nas melhores aventuras de Lucky Luke, tudo começa por uma história verídica: neste caso, a da alucinante epopeia da Estátua da Liberdade. Foi ao deparar-se com fotografias da mão segurando a tocha que a ideia desta história surgiu na cabeça de Jul: imagine-se Lucky Luke deixando de lado os Dalton para proteger e escoltar a estátua e o seu criador durante o seu périplo… Assim nasceu este álbum!
Para cumprir a sua missão e escoltar a Estátua da Liberdade, o mais célebre de todos os cowboys está disposto a tudo! E ainda bem, pois vai ter de atravessar o Atlântico pela primeira vez e descobrir Paris e os seus habitantes.
A missão do nosso herói, no mínimo inesperada, acaba por se revelar perigosa: Abraham Locker, diretor prisional e empresário sem escrúpulos, cobiça a ilha que deverá acolher a estátua para aí construir uma gigantesca prisão e, disposto a tudo para arruinar o projeto de Bartholdi (autor da Estátua da Liberdade), faz a vida negra a Lucky Luke. Índios, bandidos, cenas de pancadaria em saloons… a isso o cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra está habituado; mas a velha Europa e Paris reservam-lhe surpresas inimagináveis!
A visita à Cidade Luz é um choque para o nosso herói do oeste americano: cabarés, a Ópera Nacional de Paris, restaurantes – Lucky Luke vai de descoberta em descoberta, sempre acompanhado pelo seu fiel cavalo, que para o efeito foi rebatizado como “Joli Jean-Pierre”. Ao longo das páginas, o nosso cowboy cruza-se com Paul Verlaine e Victor Hugo, com os pintores impressionistas em Montmartre e com Gustave Eiffel em Monceau; visita a catedral de Notre Dame, é assediado por Emma Bovary e ganha uma corrida em Longchamp!
Ritmo vertiginoso, encontros extraordinários, choque de culturas: Um Cowboy em Paris é um álbum de aventuras e humor audazes. Recheado de referências, faz a ponte entre aquilo que a França tem de mais romanesco e aquilo que a América tem de mais hollywoodesco. No desenho, Achdé passa com grande virtuosismo das pradarias do faroeste aos grandes boulevards, dos índios americanos aos nativos parisienses…
Minuciosamente documentada, a Paris da época surge cheia de vida a cada página e as cenas de ação são espetaculares. Não poderia, aliás, ser de outra forma, já que era necessário estar à altura deste encontro histórico. Um desafio bem-sucedido para Jul e Achdé que, depois de A Terra Prometida, brindam agora os leitores com uma segunda colaboração – Um Cowboy em Paris – digna dos melhores álbuns da série Lucky Luke.
Veja o booktrailer:
Eis a sinopse:
O escultor francês Auguste Bartholdi faz uma espetacular visita aos Estados Unidos com o objetivo de recolher fundos para conseguir terminar a futura Estátua da Liberdade. Mas há vários acidentes em torno da estátua, incluindo alguns que visam diretamente o próprio escultor. É então que Lucky Luke se vê incumbido da missão de escoltar o artista francês, tanto nos Estados Unidos como no seu regresso a Paris. Isto vai ser um choque cultural para o cowboy que, para além de atravessar o Atlântico pela primeira vez, descobre o esplendor da cidade luz e o modo de vida dos seus habitantes nativos, os parisienses!
As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris 8: Um Cowboy em Paris
Jul & Achdé
Editora: Asa
Páginas: 48
Dimensões: 299 x 08 x 227 mm
ISBN: 9789892343136
PVP: 10,90€

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.