E agora, para algo completamente diferente…
Como escreveu a Catarina Figueiredo Cardoso, a editora do Press Small Yearbook, a sexta edição do PSPY, publicada em 2018, é distinta das anteriores, não só na temática mas também no formato e no design gráfico. Tendo na edição de 2017 escrito um texto sobre a sua coleção de livros de artista e edição independente, apercebeu-se que, ao fim de 5 anos, tinha chegado ao fim de um caminho.
Ou não tivesse este anuário tido a sua génese no Tipo.pt, um projeto de investigação académica desenvolvido no âmbito do Pós-doutoramento de Isabel Baraona na Universidade Rennes 2 e no contexto do Doutoramento de Catarina Figueiredo Cardoso em Materialidades de Literatura, da Universidade de Coimbra.
Como Cardoso refere, a banda desenhada era um género artístico que pouco lhe interessava. Aliás, ao longo destes anos são notórias as frequentes lacunas referentes à banda desenhada nos catálogos anuais dos projetos de edição independente e/ou auto-edição, small press, livros de artista, fanzines e objetos de natureza semelhante que o PSPY aborda.
A publicação do Relatório de Edição Independente de BD de Marcos Farrajota referente a 2015 no PSPY 2016 colmatou em parte esta falha. E na presente edição, não só foi publicado o relatório de 2017 (o relatório de 2016 foi publicado em Mariano #2), como a temática do PSPY 2018 é a banda desenhada, ou o não tivesse crescido o interesse de Cardoso por este meio. Farrajota é o editor convidado deste número, contando com capa de Rudolfo Silva, bandas desenhadas de Filipe Felizardo, Mao, Xavier Almeida, Ema Gaspar (com Fuko Ito, Han Teng Yung, Juli Majer, Nhozagri e Nichole Shinn), Francisco Sousa Lobo, Bruno Borges e Paulo Mendes e ilustrações de João Carola.
No que toca ao relatório, dele não consta nenhuma listagem das publicações de banda desenhada, mas sim uma seleção de edições e eventos que o autor acredita merecerem destaque. Para uma identificação das obras de BD editadas, tem de se consulrar as listagens de edições e revistas de 2017-2018 do PSPY, a qual não discrimina se cada obra é de poesia, fotografia, ensaio, banda desenhada ou outra, tornando difícil a identificação das obras de BD editadas. Pelo contrário, existem diversas obras de BD que cumprem os critérios mas não são listadas. A listagem mistura também edições nacionais com participações portuguesas no estrangeiro, mas essas são simples de identificar dado estar presente a cidade onde a obra foi editada.
Se Farrajota, dado o seu interesse pessoal e profissional pela temática e o acesso facilitado a todas as obras que chegam à Bedeteca de Lisboa, gera relatórios incontornáveis a quem se interessa pelo estudo da edição independente e/ou com distribuição alternativa da banda desenhada, também é notório ao longo destes anos que a temática não se esgota nos mesmos. Relembra-se que é uma área em que ninguém poderá nunca assumir que é detentor de uma listagem integral das obras publicadas num determinado ano – já tivemos, por exemplo, a experiência de um autor nos dar a indicação de que não tinha interesse em divulgar um zine que descobrimos, uma vez que só tinha produzido 4 exemplares numa brincadeira para amigos. Ora se o autor só pode eleger para distinção as (muitas) obras que leu até à escrita do relatório, haverá sempre material com o qual não teve contacto direto nos meios de distribuição alternativa que frequenta, não sendo, portanto, elegível para constar destes relatórios (p.e., os diversos zines disponibilizados nas edições nortenhas da Comic Con Portugal).
Seria importante que mais estudiosos, com interesses distintos e pertencentes a diferentes círculos e regiões, se dedicassem também à matéria, para que uma revisão dos diferentes “relatórios” permitisse, por um lado, uma compilação mais abrangente das obras de banda desenhada publicadas via edições independentes e, por outro, uma posterior análise ás mesmas, ou não fosse naquelas que se publica em papel a maioria dos autores nacionais.
É também Farrajota que assina o texto “Fragmentos Sujos de um Inquilino Expulso…”, com citações de outros autores, onde se faz uma reflexão sobre o atual (mas ele muda?) panorama da BD nacional. Concorde-se ou não com as posições do autor, levantam-se diversas questões, bem como se relembram tantas outras, que poderiam gerar diversos ensaios para os que se dedicam a estudos da banda desenhada.
Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:
Portuguese Small Press Yearbook 2018
Vários autores
Editores: Catarina Figueiredo Cardoso & Marcos Farrajota
Produção: Catarina Figueiredo Cardoso & Isabel Baraona
Encadernação: capa mole com agrafes
Edição: Portuguese Small Press Yearbook
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.