Filmes e séries baseadas em BD vistas em janeiro

Filmes e séries baseadas em BD vistas em janeiro

As adaptações de BD ao grande e pequeno ecrã que vimos em janeiro de 2019.

As transposições de bandas desenhadas para o cinema, televisão e plataformas de streaming tornaram-se frequentes. Como acontece com todos os restantes filmes e séries, sejam obras originais ou adaptações provindas de outras áreas (teatro, literatura, videojogos, etc), poucos serão aquelas que atingem um estatuto de obra-prima ou que simplesmente ultrapassam a fasquia do mero entretenimento. Este mês, começamos a apresentar as obras que visualizámos, bem como a nossa opinião sobre as mesmas.

Preacher – Temporada 3
Criação: Sam Catlin, Seth Rogen e Evan Goldberg
Ano: 2018
Baseado em: comic book Preacher, de Garth Ennis e Steve Dillon
Elenco: Dominic Cooper, Joseph Gilgun, Ruth Negga, Ian Colletti, Graham McTavish, Pip Torrens, Noah Taylor, Julie Ann Emery, Malcolm Barrett, Colin Cunningham, Betty Buckley
Um dos problemas que se colocava a uma adaptação de Preacher seria se a abordagem e as temáticas que conferiram a popularidade à BD no segundo quinquénio da década de 90, continuavam ou não atuais e com um toque de originalidade após duas décadas repletas de produtos semelhantes e sucedâneos. E se sobreviveria à responsabilidade de adaptar uma série de BD tão icónica, que geraria altas expetativas. Talvez a degustação da série esteja mais facilitada a quem não leu a banda desenhada. De qualquer modo, após provavelmente se estranhar, dando-se uma oportunidade ao Jesse Custer de Dominic Cooper, é natural que, pouco a pouco se comece a gostar do Preacher televisivo. Já Ruth Negga, com a vantagem de não ser o principal alvo de desconfiança inicial, rapidamente conquistará os espetadores com o seu desempenho. A terceira temporada consegue manter o espírito subversivo da obra original, cumprindo perfeitamente os requisitos de entretenimento que se espera de uma comédia negra, apesar do guião de um ou outro episódio mostrar sinais de que necessitava ter sido polido.

Titans – Temporada 1
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Ano: 2018
Baseado em: personagens Teen Titans da DC Comics
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter
Atendendo aos personagens principais da série (Robin, Starfire, Raven e Beast Boy), rapidamente se confirma que a encarnação da equipa de Titans considerada foi inspirada na de The New Titans de Marv Wolfman e George Pérez, que não só criaram a Starfire e Raven, como trouxeram o Beast Boy da Doom Patrol para a equipa, onde era conhecido por outro nome, Changeling. Ao longo da série, são também introduzidos personagens com ligação anterior ou posterior a esta encarnação de Titans na banda desenhada ou aos seus integrantes, desde o esquivo Batman e o ausente Alfred, ao desenvolvimento de personagens como os integrantes da Doom Patrol e de Hawk e Dove, Donna Troy e Jason Todd, além de outras surpresas. Esta versão de Titans é única na sua constituição – alguns personagens diferem das suas contrapartes da BD na idade, ascendência e vida pessoal, para além de ser notória a ausência de outros integrantes, como o Cyborg (por enquanto, dizem os rumores). Esta exploração do Universo DC – mais personagens surgem, além dos supracitados – resulta na criação de um próprio universo, que pisca constantemente o olho ao leitor. Surpreendente – mas de louvar – foi a escolha de alguns episódios se centrarem não nos protagonistas, mas na história dos personagens recorrentes, o que lhes retirou a unidimensionalidade. Se o registo violento e a moralidade ambígua (ou ausente) de várias cenas poderão colocar a questão se alguns dos seus integrantes não são na realidade anti-heróis ou vigilantes que fazem justiça pelas próprias mãos, poder-se-á colocar a questão se esse espírito reflete realmente o dos Titans nas suas múltiplas formações e leituras (pelo menos tantas quanto os seus autores ao longo das décadas). De qualquer modo, o resultado é um superar de expectativas, com uma narrativa e filmagens cuidadas, sem nunca tentar aspirar a algo que não é. É uma série de indivíduos com superpoderes e garante o entretenimento adequado, apesar de alguns desempenhos ficarem aquém.

Ghost in the Shell – Agente do Futuro
Realização: Rupert Sanders
Ano: 2017
Baseado em: manga Ghost in the Shell, de Shirow Masamune
Guião: Jamie Moss, William Wheeler, Ehren Kruger
Elenco: Scarlett Johansson, Michael Carmen Pitt, Pilou Asbæk, Chin Han, Juliette Binoche
A dualidade cartesiana da relação mente-corpo tem vindo a ser explorada na ficção científica em diferentes meios (literatura, cinema, televisão, banda desenhada…) há mais de cinco décadas. Nesse sentido, o filme que adapta o manga Ghost in the Shell não se inspira somente naquele, como é herdeiro, visual e filosoficamente, dos que o antecederam, não conseguindo acrescentar algo que o torne suficientemente único para garantir o seu lugar nos filmes fundamentais a citar a esse propósito. Dito isto, a interpretação de Johansson e os efeitos especiais responsáveis pelo visual do filme são de salutar. Infelizmente, não chegam para salvar o filme de um resultado mediano, por vezes até enfadonho.

Kingsman: O Círculo Dourado
Realização: Matthew Vaughn
Ano: 2017
Baseado em: comic book Kingsman (originalmente The Secret Service), de Mark Millar e Dave Gibbons
Guião: Jane Goldman, Matthew Vaughn
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Taron Egerton, Mark Strong, Halle Berry, Elton John, Channing Tatum, Jeff Bridges
O Círculo Dourado é a sequela do filme Kingsman: Serviços Secretos, o qual adaptava a BD homónima de Millar e Gibbons, que integra o Millarworld (p.e., o rapto das celebridades é referido na BD Kick-Ass 3). Apesar de mostrar engenho nalgumas das cenas apresentadas (p.e., cenas de luta em espaços muito diminutos), a este filme de espionagem e humor falta originalidade. A dialética EUA/Reino Unido, em vez de celebrar o melhor de dois mundos, acentua fragilidades. A inverosimilhança alia-se a um facilitismo no humor, pouco inspirado. Apesar de um elenco repleto de nomes de peso, o resultado é mediano e, por vezes, desinteressante.

iZOMBiE – Temporada 4
Criação: Rob Thomas e Diane Ruggiero-Wright
Ano: 2018
Baseado em: comic book iZOMBIE, de Chris Roberson e Mike Allred
Elenco: Rose McIver, Malcolm Goodwin, Rahul Kohli, Robert Buckley, David Anders, Aly Michalka, Robert Knepper
Mais do que uma adaptação da BD homónima, a série iZOMBiE inspira-se em algumas premissas daquela. Tendo o crime e a comédia/drama como guias principais, a maioria dos episódios envolve a investigação policial do crime da semana, havendo espaço ainda para algum desenvolvimento nas relações, amorosas ou não, das personagens. Em pano de fundo, encontra-se a zombificação dos seres humanos e as suas consequências. Com a 4.ª temporada, tentou-se modificar um pouco a premissa. Levantaram-se algumas questões devido a Seatlle se encontrar sitiada, resultante do conhecimento público da existência de zombies. Entre os novos problemas, apresentaram a escassez e tráfico de alimentos para os zombies (leia-se, cérebros), a separação de familiares devido ao cerco ou o fanatismo religioso. No entanto, estas questões diluíram-se completamente numa série em processo de desgaste. A única boa notícia para aqueles que gostam que as séries tenham um verdadeiro final antes de abandonarem o pequeno ecrã é que os produtores já sabem de antemão que a 5.ª temporada, a estrear em maio de 2019 nos EUA, será a última.

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