As adaptações de BD ao grande e pequeno ecrã que vimos em fevereiro de 2019.
As transposições de bandas desenhadas para o cinema, televisão e plataformas de streaming tornaram-se frequentes. Como acontece com todos os restantes filmes e séries, sejam obras originais ou adaptações provindas de outras áreas (teatro, literatura, videojogos, etc), poucos serão aquelas que atingem um estatuto de obra-prima ou que simplesmente ultrapassam a fasquia do mero entretenimento. Em fevereiro, continuamos a apresentar as obras que visualizámos, bem como a nossa opinião sobre as mesmas.

Deadpool 2 (Super Duper $@%!#& Cut)
Realização: David Leitch
Ano: 2018
Baseado em: personagem Deadpool, criada por Fabian Nicieza e Rob Liefeld para a Marvel
Elenco: Ryan Reynolds, Josh Brolin, Morena Baccarin, Julian Dennison, Zazie Beetz, T.J. Miller, Brianna Hildebrand, Jack Kesy
A Super Duper $@%!#& Cut é uma versão alargada da versão cinematográfica de Deadpool 2, contendo mais 15 minutos. Com esta sequela do filme de 2016, a série cinematográfica dos filmes de X-Men da Fox chegou à sua 11.ª longa-metragem. Devido à irreverência da personagem e ao facto de quebrar repetidamente a quarta parede, a seriedade é um componente ausente em quase tudo o que se associa a Deadpool. A diversão pura e a classificação etária norte-americana de R foram algumas das premissas que permitiram que o primeiro filme fosse um sucesso. Com a fasquia demasiado alta, Leitch, o realizador da sequela, encontrou o equilíbrio entre o humor peculiar de Deadpool e um filme repleto de ação. Como resultado, o tom do primeiro filme não se perdeu e houve espaço ainda para inovação. De quantas sequelas poderemos dizer o mesmo?

Black Panther
Realização: Ryan Coogler
Ano: 2018
Baseado em: personagem Pantera Negra, criado por Stan Lee e Jack Kirby
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Angela Bassett, Forest Whitaker, Andy Serkis
Black Panther foi o primeiro filme de super-heróis a ter direito a ser nomeado para o Prémio de Melhor Filme da Academia. Não é de espantar que tal organização continue a olhar com desconfiança adaptações de banda desenhada e, mais ainda, provindas do subgénero de super-heróis. Aliás, não é sequer necessário recorrer a filmes de fantasia e ficção científica para lidar com esse tipo de preconceito – basta pensar na comédia, por exemplo. O Pantera Negra é um personagem deveras peculiar no universo Marvel, onde o avanço tecnológico se cruza com a espiritualidade, dando-lhe ainda um reinado num país repleto de segredos e exacerbando o exotismo da ficção de aventuras de outrora no continente africano. Talvez por isso, Black Panther seja tão diferente das restantes obras cinematográficas da Marvel, ao ponto de quase não se identificar o filme como pertencente ao subgénero de super-heróis, não fosse a popularidade do personagem Desta feita, os superpoderes não são um tópico relevante nem para o protagonista nem para aqueles que defronta. Há uma porção do filme que se enquadra na espionagem, há outra em que se documenta o espetador como é esta Wakanda e estes wakandianos do Universo Cinematográfico Marvel, ao passo que a inspiração nos filmes de ação é quase omnipresente. E é desse tipo de entretenimento que se trata. A Marvel conseguiu que a percentagem de espetadores afro-americanos na primeira semana de exibição do filme fosse de 37%, ao contrário dos habituais 15% nos filmes de super-heróis. Que, como efeito secundário, se acredite que o filme promove a socialização racial e étnica sem estereótipos negativos ou que, numa visão mais pragmática, prove que narrativas afro-americanas cinematográficas podem dirigir-se a todas as audiências e dar lucro, é mais um resultado da sociedade atual que do entretenimento per se proposto.

Fear The Walking Dead – Temporada 4B
Criação: Robert Kirkman & Dave Erickson
Ano: 2018
Baseado em: comic book The Walking Dead, de Robert Kirkman, Tony Moore & Charlie Adlard
Elenco: Alycia Debnam-Carey, Colman Domingo, Danay García, Lennie James, Maggie Grace, Garret Dillahunt, Jenna Elfman
Fear the Walking Dead começou por ser uma prequela a The Walking Dead, baseada no universo da BD / série televisiva, cujos protagonistas eram personagens originais, quase todos pertencentes à mesma família. Ao longo da série, a maioria desses protagonistas foram desaparecendo e dando lugar a outros e assim sucessivamente, até que no final da temporada 4A apenas um elemento dessa família resiste ao pós-apocalipse zombie, em conjunto com um amigo da família (personagem recorrente da 1.ª temporada, promovido a protagonista a partir da 2.ª temporada) e a namorada de um dos familiares já desaparecidos (recorrente na 2.ª temporada e promovida a protagonista na 3.ª temporada). A estes 3 protagonistas, na primeira parte da 4.ª temporada, tinham sido adicionados de novo outros 3, bem como um muito especial, Morgan Jones, um personagem que surgiu na BD The Walking Dead no primeiro número da série, bem como no 1.º episódio televisivo da série homónima. Aliás, para que se desse este crossover, a prequela avançou no tempo até a cronologia do final da 8.ª temporada de The Walking Dead se encontrar com a primeira parte da 4.ª temporada de Fear The Walking Dead. A temporada 4A cumpriu com sucesso a premissa de integrar Morgan no grupo e tornar interessantes as novas personagens principais, Althea, John e June. Por outro lado, foi a temporada em que se perderam duas das mais importantes personagens da série. Com a temporada 4B, a grande interrogação era se a série as sobreviveria… A realização, fotografia e desempenho do elenco continua a ser eficaz. Se o novo conjunto de protagonistas funciona bem e se, pela primeira vez, parece existir um grupo que, de forma altruísta, tenta ajudar a restante humanidade, dando alguma esperança ao nosso futuro enquanto espécie, a verdade é que, quando o grupo é separado devido a forças da natureza, uma antagonista de terceira categoria, cujas intenções parecem retiradas de qualquer filme de série B com um mau guião, quase aniquila todos. É este o grande defeito da temporada 4B e não a ausência inevitável dos personagens perdidos na 4A. Para a quinta temporada, a série necessita de uma história que realmente valha a pena ser contada.

Liga da Justiça
Realização: Zack Snyder
Ano: 2017
Baseado em: equipa de personagens Liga da Justiça, criada por Gardner Fox para a DC Comics
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa, Ray Fisher, Jeremy Irons, Diane Lane, Connie Nielsen, J. K. Simmons
O Universo Estendido DC tem a sua própria cronologia, a qual não coincide com nenhuma das cronologias já assumidas pelas revistas de banda desenhada da DC, como é habitual nas transposições norte-americanas para outros media. A constituição desta Liga é parcialmente baseada nos fundadores da Liga da Justiça na continuidade de Os Novos 52, apesar de conter muitos elementos de outras continuidades. Com o filme Liga da Justiça, era suposto que os personagens dos filmes anteriores se reunissem para criar algo maior que a soma das partes, mas trouxeram também os problemas. A franchise está repleta de atores cujas interpretações ficam aquém das expetativas. Affleck como Bruce Wayne, Cavill como Kal-El, Miller como Flash, Adams como Lois Lane, Irons como Alfred, Lane como Martha Kent ou Simmons como James Gordon são exemplos de um mau casting que tem perdurado. Não se coloca em causa os atores per se mas sim estes atores nestes papeis, uma vez que a combinação não tem funcionado. E se Gadot, Fisher e a introdução de Momoa não desapontam, também em nada se destacam neste filme. Por outro lado, uma surpresa negativa é a qualidade de muitos dos efeitos especiais apresentados, aquém do que seria de esperar para uma produção deste calibre. Chegados ao fim das duas horas, visionou-se um filme de ação que fluiu sem dificuldade, mas sem nada que valha a pena reter na memória.

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.