O regresso de Frank Miller ao Cavaleiro das Trevas
O Regresso do Cavaleiro das Trevas, da autoria de Frank Miller, é uma das obras de banda desenhada que consta da Leitura Recomendada, a bedeteca ideal em elaboração pelo Bandas Desenhadas. Num futuro distópico, o Batman regressa ao combate contra o crime, depois de dez anos de ausência em que Gotham mergulhou na decadência e na corrupção… O Cavaleiro das Trevas reaparece no momento em que a sua cidade mais precisava dele. Mas não contava com as ameaças múltiplas que terá de enfrentar, o Joker e o Duas-Caras, dois dos seus maiores inimigos, mas também um dos seus mais antigos aliados, o Super-Homem! É considerada uma das 3 obras-primas de 1986 da banda desenhada norte-americana. Frank Miller criou uma BD inovadora, interiorizando no argumento e desenho as diferentes fases e transposições para outros media que o personagem sofreu, com uma evolução gráfica que culmina ao se assumir a irrealidade da personagem, abraçando a sátira no estilo bigfoot, enquanto o torna um vero pesadelo, mais violento, mais zangado, mais perigoso, quiçá um herói repleto de dor e amargura, preparado para um último suspiro. Todos estes elementos conferiram à BD um tom sério, que se tornou uma inspiração para o Batman que surgiu na BD e cinema nesse quinquénio. Esta BD foi adaptada à animação em duas partes em longa-metragem, dirigidas ao mercado de vídeo, com realização de Jay Oliva. Em Portugal, após a importação das publicações da Abril em formato americano em 1987 e 1988 sob a forma de minissérie e edição encadernada, a BD conheceu edição nacional inicialmente pela Devir (2002) e posteriormente pela Levoir (em 2015, na coleção dedicada aos 75 anos de Batman, distribuída com o jornal SOL).
Miller regressaria pela primeira vez a este universo com O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar, também conhecido com DK2, uma minissérie de 3 números originalmente publicados pela DC Comics entre dezembro de 2001 e julho de 2002, tendo definido que cronologicamente decorreram 3 anos desde a última narrativa. Uma nova ordem eliminou o caos e todos os que se lhe opõem. Para combater a ilusória harmonia da ditadura de Lex Luthor, suportada, contra a sua vontade, pelo Super-Homem, Mulher Maravilha e Capitão Marvel, Batman reúne uma equipa de super-heróis.
Apesar do sucesso de vendas de DK2 aquando do seu lançamento, a crítica especializada, de um modo geral, ficou desiludida. A verdade é que o universo distópico do Cavaleiro das Trevas e os acontecimentos ocorridos na minissérie original, durante os 15 anos que decorreram entre as minisséries, tiveram direito a inúmeras mimetizações e sucedâneos, quiça até à exaustão, o que, consequentemente, não permite que a originalidade da primeira narrativa permaneça na sua sequela. Para além das críticas à história e à falta de desenvolvimento dos personagens, a ilustração foi também criticada. Por um lado, a colorização de Lynn Varley, então casada com Miller, passou a ser realizada digitalmente, não conseguindo obter os mesmos efeitos que na minissérie original. Por outro, a genialidade da evolução gráfica decorrida na primeira minissérie ainda era alvo de alguma incompreensão por parte dos críticos da altura, o que dificultou a aceitação dos desenhos de Miller. Paralelamente, o estilo bigfoot e outras componentes da minissérie original foram também alvo de cópia ao longo dos 15 anos, embora desprovidos de qualquer significado que não a “homenagem”, causando mais uma vez saturação. No entanto, o leitor atento encontrará diversas páginas cujo layout é dominado por Miller como poucos. E as excelentes capas da minissérie original são reproduzidas no interior do primeiro volume português.
Infelizmente, a edição portuguesa da Levoir realiza algo que consideramos inaceitável. Apesar de serem óbvias as razões que levaram a editora a dividir a minissérie em dois volumes em vez da publicar somente num único volume, tal teve como consequência o corte abrupto da narrativa a meio do segundo número da minissérie. Atendendo a que não foi deste modo que a série foi concebida pelos seu autor e editores, consideramos desrespeitoso dividir um número da minissérie a meio. Dado este e o próximo volume da série terem sido concebidos enquanto um díptico pela editora, destinados a ler em conjunto e não em separado, como se de um único volume se tratasse, a questão não é demasiado grave mas, no entanto, evoca as atrocidades editoriais que a banda desenhada sofreu outrora e que pensávamos estarem completamente extintas.
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Eis a sinopse da editora:
Em 1986, a DC Comics publicou Batman – O Cavaleiro das Trevas (já editado pela Levoir), uma das melhores graphic novels da história. Nos próximos dois volumes da colecção dedicada aos 80 anos de Batman, que se cumpriram precisamente no passado dia 30 de Março a Levoir e o Público editam, a 11 de Abril O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar 1, e na semana seguinte O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar 2, com argumento e arte de Frank Miller e as cores de Lynn Varley.
Três anos passados da suposta morte de Bruce Wayne, o crime continua a dominar as ruas de Gotham City. Não suportando o nível de violência que grassa pela cidade, um Batman envelhecido regressa ao activo para combater o crime. Na saga para retomar o controle da cidade o Cavaleiro das Trevas irá reencontrar velhos inimigos e também aliados, que o ajudarão a combater a ameaça do homem que controla todos, até o Presidente dos Estados Unidos da América, que não passa de um holograma.
É essa utopia de fachada que vai ser destruída por um regressado Batman, que vai reunir todos os seus aliados para combater a ameaça de Lex Luthor. Outra diferença fundamental de O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar em relação ao seu antecessor é a presença alargada do panteão da DC, com personagens como Jimmy Olsen, Brainiac, Lex Luthor, Shazam, o Flash, Lanterna Verde, o Átomo, o Questão e Diana, a Mulher-Maravilha, que estiveram ausentes em O Regresso do Cavaleiro das Trevas, a serem fulcrais no evoluir da intriga desta história, em que a trindade dos maiores heróis da DC, constituída pelo Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha, brilha a grande altura, tal como Carrie Kelley, a Robin de O Regresso do Cavaleiro das Trevas, que se mantém como braço direito do Batman, mas agora enquanto Catgirl. Se, em termos gráficos, o registo escolhido pode não ser consensual, em termos narrativos, não há dúvidas quanto ao virtuosismo de Miller. Basta ver a forma como gere a presença do Batman, que permanece nas sombras durante bastante tempo, para surgir finalmente em toda a sua glória apenas no final do primeiro livro, para voltar a enfrentar o Super-Homem.
Batman 80 Anos vol. 8: O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar I
Frank Miller
Editora: Levoir
Páginas: 120, a cores
Encadernação: capa dura
Formato: 170 x 257 mm
PVP: 11,90€
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.
Mais uma vez, mostra-se que enquanto outros comem os ossos que lhes põem no prato o bandasdesenhadas não se verga. É pena ser o único blog de banda desenhada independente em Portugal e uma pessoa ter de recorrer à esfera brasileira para ter mais opinião isenta em língua portuguesa. Quanto à decisão de partir a meio uma das revistas, não é de estranhar vinda de quem não tem nenhum respeito pela arte e tenta minar as relações da Levoir com a DC há muito tempo. Tenho até sérias dúvidas que esta decisão tenha sido aprovada e vou confirmar que não se trata de um avanço contra indicações superiores.
Realmente esta opção é muito estranha e não consigo identificar qualquer precedente. Nunca em todo o mundo se partiram revistas a meio para servir bd às migalhas. Isto é partir os Painéis de São Vicente a meio e pôr metade em cada sala. Cabe na cabeça de alguém? Esta coleção até estava a ser feita com cuidado, até porque deram o destaque às pessoas que costumavam trabalhar e nunca tinham crédito como a Filomena e o Pedro em vez dos avençados da vida mas eu se fizesse parte do Público refletia sobre este lançamento, especialmente vindo de quem já tem uma caderneta vasta de trapalhadas. Enfim, mais um cromo para a coleção do já famoso “efeito DC”…