
A inauguração da Colecção Aleph.
Em março, a G. Floy inaugurou oficialmente a Colecção Aleph, dedicada à banda desenhada europeia. Apesar de já ter publicado no passado obras como a BD francesa O Astrágalo, a maioria do seu catálogo é composto por comics norte-americanos, razão pela qual a editora decidiu passar agrupar o seus lançamentos europeus numa série própria, denominada Colecção Aleph.
Deste modo, a série dedicada a Dylan Dog, um projeto a ser concebido há cerca de um ano pela editora, impulsionado por João Miguel Lameiras, um ávido fã do personagem e um dos principais responsáveis pela anterior edição do personagem no nosso país, não se assumiu propriamente como uma série dedicada ao Detetive do Pesadelo (rebatizado em Portugal por Investigador do Pesadelo), mas sim como um parte integrante de uma série mais vasta dedicada à banda desenhada produzida na Europa.
Longe vão os tempos em que Dylan Dog era um personagem bonelliano desconhecido dos portugueses. Mesmo aqueles que não experimentaram ler as suas bandas desenhadas nas revistas brasileiras exportadas para Portugal e que não assistiram ao filme não-oficial do personagem, Dellamorte Dellamore – estreado no Fantasporto em 1996, com uma tradução do título norte-americano, O Homem do Cemitério -, provavelmente se aperceberam da existência do filme mainstream Dylan Dog: Guardião da Noite, estreado nas salas de cinema nacionais em 2011.
A nível de edição portuguesa, a publicação de Dylan Dog foi inclusivamente antecedida em 2015 pela sátira disneyana Dylan Rat e a Ascensão dos Ratos Chatos, publicada na Disney Comics #134. Seria somente em 2017 que a Levoir editaria a primeira BD deste personagem em Portugal, incluída na sua série Novelas Gráficas de 2017, Mater Morbi.
Menos de um ano volvido, Dylan Dog foi pela segunda vez editado em Portugal, desta feita com A Saga de Johnny Freak (Colecção Bonelli vol. 3, Levoir), que incluiu a BD clássica do personagem publicado no #81 da sua série mensal, a qual inaugurou a série que a editora brasileira Conrad dedicou a Dylan Dog. O livro foi complementado pela sequela publicada no #127, um inédito em língua portuguesa. Seguiu-se o volume 10 da referida coleção, com o título Os Inquilinos Arcanos, onde se apresentavam 3 BD curtas, incluindo a que deu nome ao volume e A Grande Nevada e Bailando com um Desconhecido.
Apesar da planificação da série estar em andamento, a definição de qual o primeiro livro que inauguraria a série, foi parcialmente fruto de um acaso a que o site Bandas Desenhadas involuntariamente esteve ligado. Quando concebemos a exposição e a mesa-redonda com Fabio Celoni no XIV Festival Internacional de BD de Beja, tínhamos como intenção a apresentação de Celoni enquanto um autor (argumentista e ilustrador de BD, mas também romancista e ensaísta) e editor diversificado, explorando a exposição os seus diferentes trabalhos, desde a banda desenhada disneyana e bonelliana à ilustração de romances gráficos e o seu projeto editorial SmartComix. Não tendo sido possível, por questões de agenda, ter o autor presente na sessão de autógrafos oficial do Festival, organizou-se uma sessão informal no dia seguinte, onde Celoni, em conjunto com o seu colega disneyano Marco Gervasio, esteve durante várias horas a deliciar os fãs disneyanos e bonellianos com o seu talento e simpatia.
Fruto da sua presença em Beja, O Homem que Lê (Il Vecchio que Lege, no original), uma evocação sobre o poder dos livros, foi a BD escolhida para a inauguração da Colecção Aleph em março, com o regresso do autor a Portugal para o Coimbra BD 2019. Esta banda desenhada, escrita e ilustrada por Celoni, foi originalmente publicada na revista Dylan Dog Albo Gigante #18, em conjunto com outras 3 BD de outros autores, em 6 de junho de 2009.
Foi ainda selecionada uma banda desenhada curta para complementar o volume. A escolha recaiu em A Pequena Biblioteca de Babel (La piccola biblioteca di Babele, no original), com argumento de Tiziano Sclavi e desenhos de Angelo Stano. A sua primeira publicação foi no livro a cores de grande formato Gli Orrori di Altroquando pela Arnoldo Mondadori Editore, em 1991. Esse álbum republicou a cores a BD que dá título ao livro, originalmente publicada no Special Dylan Dog #2 em 1988, contendo como inédito a referida BD curta. A Pequena Biblioteca de Babel, uma homenagem a Jorge Luís Borges, viria a ser republicada em Itália quatro vezes pela Bonelli e a Panini.
Quanto aos livros de Dylan Dog, a G. Floy optou por álbuns num formato próximo do original, com cerca de 17×22 cm, em capa dura, constituídos por 120 páginas a preto e branco, que recolhem uma história principal, e quando o espaço o permita, histórias mais curtas que complementam os volumes, como acontece com o livro O Velho que Lê.
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Eis a sinopse da editora:
Criado por Tiziano Sclavi, DYLAN DOG é o célebre investigador do paranormal, o detective dos pesadelos, uma das mais conhecidas personagens de BD de sempre, cujas aventuras ao mesmo tempo aterradoras, inquietantes e melancólicas, têm encantado leitores em todo o mundo.
Detective privado especializado no sobrenatural e no paranormal, ex-agente da Scotland Yard e alcoólico recuperado, Dylan Dog é uma das mais fascinantes personagens da banda desenhada europeia e, juntamente com Tex, um dos maiores símbolos da qualidade das produções da editora italiana Bonelli. É também, de certa maneira, um anti-herói, cuja personalidade melancólica e reflexiva, cuja ocasional insegurança aliada à sua inteligência penetrante, souberam granjear a admiração e fidelidade de milhões de leitores – e leitoras, ou não fosse Dylan uma das personagens mais populares junto do público feminino – levando inclusive o grande Umberto Eco a declarar “Sou capaz de ler a Bíblia, Homero e Dylan Dog durante dias e dias sem me aborrecer” (Umberto Eco que apareceria na série sob a forma do prof. Humbert Coe).
Dylan Dog surge pela primeira vez em 1986, na história L’Alba dei Morti Viventi (O Amanhecer dos Mortos Vivos), uma história de zombies onde o terror se misturava com o humor, e cedo se tornou uma personagem de culto, capaz de conquistar tanto as leitoras, com a sua aura romântica, como os intelectuais como Umberto Eco, até aos apreciadores dos filmes de terror, que não ficavam indiferentes ao lado por vezes gore da série. E a época de ouro do cinema de terror italiano, representado por nomes como Dário Argento, Mário e Lamberto Bava e Michele Soavi, é uma das grandes referências de Tiziano Sclavi, o criador da série. Confirmando as ligações de Dylan Dog e do seu criador com o cinema, o herói emprestou o nome ao Dylan Dog Horror Fest, um festival de cinema de terror, que teve quatro edições, entre 1987 e 1993, onde os desenhadores de Dylan Dog partilhavam o protagonismo com grandes nomes do cinema de terror, como Dario Argento, que recentemente escreveu uma aventura do Investigador do Pesadelo.
Foi precisamente nos anos 90 que Dylan Dog passou de série de culto para verdadeiro fenómeno de massas, aspecto a que não será estranha a grande qualidade dos seus principais desenhadores, como Angelo Stano, Fabio Celoni, Bruno Brindisi e Corrado Roi. O sucesso de Dylan Dog foi tal, que chegou mesmo a ultrapassar Tex como título mais vendido da casa Bonelli, com vendas superiores a meio milhão de exemplares da revista mensal, aos quais se acrescentavam outro meio milhão com as edições especiais e reedições, ao mesmo tempo que a personagem era adaptada a outros meios de comunicação, desde o cinema e jogos de computador, ao teatro radiofónico.
Em Portugal, e depois de um período em que chegava apenas em edições brasileiras distribuídas em bancas do nosso país, Dylan Dog estreou-se em 2017 na colecção Novela Gráfica da Levoir, com Mater Morbi, uma história de enorme impacto e sucesso em Itália, para no ano seguinte protagonizar o terceiro e décimo volumes da colecção que a Levoir dedicou aos fumetti da Bonelli.
Finalmente, em 2019 Dylan Dog chega ao catálogo da G.Floy, abrindo a nova Colecção Aleph, dedicada a explorar outras latitudes do universo da BD. No Coimbra BD, esteve disponível O Velho que Lê, de Fabio Celoni, com a presença do autor.
Dylan Dog: O Homem que Lê (seguido de A Pequena Biblioteca de Babel)
Fabio Celoni | Tiziano Sclavi & Angelo Stano
Editora: G. Floy
Páginas: 120, a preto e branco
Encadernação: capa dura
PVP: 12,50€

Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.