BD em “Eddington na Sundy, 100 anos depois”.
O evento comemorativo do centenário do eclipse solar de 1919 na ilha do Príncipe, Eddington na Sundy – 100 anos depois, a decorrer entre 25 e 29 de maio, tem por fim o reconhecimento e valorização de um legado histórico e científico da ilha do Príncipe.
Em 1919, a ilha do Príncipe fez parte da faixa de totalidade do eclipse solar e, simultaneamente, foi um dos destinos escolhidos pelos britânicos para efetuarem as observações que contribuíram para a validação experimental da Teoria da Relatividade Geral. O processo de reconhecimento deste episódio, à escala regional, nacional e internacional, tem-se manifestado em iniciativas pontuais, com especial incidência durante a última década. Essas iniciativas direcionaram-se, gradualmente, para as celebrações que em 2019 assinalam o centenário do eclipse de 1919, com uma projeção internacional que se consolida, localmente, no Espaço Ciência Sundy. Segundo a organizadora das comemorações Joana Latas, o distanciamento de 100 anos permitiu rever o último século e projetar os próximos tempos e, por isso, além do Espaço Ciência Sundy constituir um legado físico, é também a pedra fundamental para a criação de um espaço dinâmico e vivo de Ciência enquadrado no plano de desenvolvimento sustentável da ilha do Príncipe.
O período entre 25 e 29 de maio coincide com o ponto alto da programação do Eddington na Sundy, mas que não se esgota na ilha do Príncipe, ou em São Tomé e Príncipe. As iniciativas repercutem-se a uma dimensão global, com iniciativas em Portugal no formato de exposições, conferências, cafés-ciência, bem como em colaborações com o Brasil e Inglaterra, nas quais se destacam as atividades educacionais.
Durante este período, para além de um conjunto de painéis académicos de diferentes áreas do conhecimento, existem também diversas iniciativas de âmbito cultural, como a mini-ópera “Gravity” ou a edição de um álbum pelos CTT, da autoria de Nuno Crato e Luís Tirapicos intitulado “O Eclipse de Einstein”, com a respetiva emissão de selos alusiva à efeméride.
No que toca à banda desenhada existem duas iniciativas distintas. Uma dela é a banda desenhada As Luzes do Princípe, escrita pelo biólogo João Ramalho-Santos e ilustrada por Rui Tavares, sendo editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra e Ciência Viva (ISBN: 978-989-26-18-30-2). Esta BD deu origem a uma comunicação por Ramalho-Santos na ilha do Príncipe, intitulada “Contar Histórias com Palavras e Bonecos: De Coimbra ao Príncipe”, com o seguinte resumo:
Fazer um (bom) trabalho de divulgação científica implica transmitir a importância de uma descoberta de maneira simples e acessível, mas correta. E é tanto mais difícil se o enquadramento prévio necessário for extenso, ou a descoberta estiver afastada do quotidiano dos leitores. É preciso encontrar especialistas que nos ajudem a perceber o que podemos simplificar sem desvirtuar a ciência que está por trás, e encontrar uma maneira interessante de contar a história. Desse ponto de vista a linguagem da banda desenhada pode ser muito útil para “transportar” o leitor para dentro da obra, utilizando o desenho para transmitir conceitos científicos complexos de maneira atraente. Ao abordar a experiência de Eddington na Ilha do Príncipe em 1919 procurámos pôr o leitor em contacto com o nosso próprio processo de criação, mostrando como pesquisámos informação e discutimos as ideias que nos levaram ao resultado final, à banda desenhada “As Luzes do Príncipe”.
– João Ramalho-Santos
A banda desenhada é composta por 44 páginas, tendo sido realizada uma tiragem de 5000 exemplares para distribuição gratuita em escolas na ilha do Príncipe, em escolas portuguesas e nos Centros de Ciência Viva.
Curiosamente, uma segunda BD encontra-se a ser produzida, desta feita em Lisboa, intitulada E3 – Einstein, Eddington e o Eclipse, sendo o livro composto por um ensaio da historiadora Ana Simões e a banda desenhada de Ana Matilde Sousa (aka Hetamoé). Ana Simões é a curadora da exposição homónima, patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, sito em Lisboa, entre 16 de maio e 8 de setembro. Um teaser da banda desenhada foi transmitido na ilha do Príncipe, com a seguinte sinopse:
“Minha queridíssima mãe, Falta apenas um mês para o eclipse; e hoje temos todos os nossos pertences no sítio selecionado, e começamos o trabalho de construção. Tivemos o nosso primeiro vislumbre do Príncipe às 9 horas na manhã de 23 de abril, e foi muito encantador.” Esta banda desenhada toma a correspondência do astrónomo Arthur Stanley Eddington antes, durante e depois da sua expedição à Ilha do Príncipe para estudar o eclipse solar total de 1919, como ponto de partida para uma narrativa gráfica de contornos experimentais e impressionistas. O foco na envolvência material dos locais visitados por Eddington, expresso na banda desenhada, entrelaça-se com um ensaio teórico sobre as implicações científicas, políticas e sociais desta viagem, onde também se compilam algumas imagens presentes na exposição E3: Einstein, Eddington e o Eclipse.
– Ana Simões
Esta segunda banda desenhada tem a data de lançamento planeada para 6 de novembro, data que assinala a divulgação da validação da relatividade geral com as observações do eclipse total de 29 de maio de 1919.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.