Dylan Dog: Trevas Profundas

Dylan Dog: Trevas Profundas

O terceiro Dylan Dog da Colecção Aleph.

Longe vão os tempos em que Dylan Dog era um personagem bonelliano desconhecido dos portugueses. Mesmo aqueles que não experimentaram ler as suas bandas desenhadas nas revistas brasileiras exportadas para Portugal e que não assistiram ao filme não-oficial do personagem realizado por Michele Soavi, Dellamorte Dellamore – estreado no Fantasporto em 1996, com uma tradução do título norte-americano, O Homem do Cemitério -, provavelmente se aperceberam da existência do filme mainstream, realizado por Kevin Munroe, Dylan Dog: Guardião da Noite, estreado nas salas de cinema nacionais em 2011.

A nível de edição portuguesa, a publicação de Dylan Dog foi inclusivamente antecedida em 2015 pela sátira disneyana Dylan Rat e a Ascensão dos Ratos Chatos, publicada na Disney Comics #134. Seria somente em 2017 que a Levoir editaria a primeira BD deste personagem em Portugal, incluída na sua 3.ª série Novela Gráfica em 2017, Mater Morbi.

Menos de um ano volvido, Dylan Dog foi pela segunda vez editado em Portugal, desta feita com A Saga de Johnny Freak (Colecção Bonelli vol. 3, Levoir), que incluiu a BD clássica do personagem publicado no #81 da sua série mensal, a qual inaugurou a série que a editora brasileira Conrad dedicou a Dylan Dog. O livro foi complementado pela sequela publicada no #127, um inédito em língua portuguesa. Seguiu-se o volume 10 da referida coleção, com o título Os Inquilinos Arcanos, onde se apresentavam 3 BD curtas, incluindo a que deu nome ao volume e A Grande Nevada e Bailando com um Desconhecido.

Após a experiência resultante na trilogia de livros lançados na Levoir, seguiram-se duas obras editadas pela G. Floy, que inauguraram a Colecção Aleph, a qual se definia como uma série da editora dedicada à BD europeia mas, na realidade, pressuponha o estabelecimento de uma nova parceria da editora após aquela realizada com a ComicHeart de Bruno Caetano. Para além de José Freitas, esta nova coleção contava com João Miguel Lameiras (fã confesso do personagem e grande impulsionador da sua anterior edição na Levoir) e Mário João Marques (nosso antigo colaborado do portal BDesenhadas.com e atualmente reconhecido pelo trabalho desenvolvido no Clube Tex Portugal) enquanto editores. Nesta fase, foram editados os volumes O Velho que Lê (onde também constava a BD curta “A Pequena Biblioteca de Babel”) e Até que a Morte vos Separe.

Paralelamente, Dylan Dog também já foi alvo de duas exposições em território nacional. Primeiro, na exposição comissariada pelo site Bandas Desenhadas no XIV Festival Internacional de BD de Beja, a propósito da presença de Fabio Celoni em Portugal, tendo o autor regressado este ano ao Coimbra BD 2019 com uma nova exposição.

A Seita

Entretanto, este mês foi editado o terceiro volume da série Colecção Aleph, novamente dedicado a Dylan Dog, mas, desta feita, publicado pela editora A Seita. Na verdade, esta nova empresa constituiu-se juridicamente como uma cooperativa de responsabilidade limitada (CRL). Dado uma cooperativa ser uma associação coletiva sem fins lucrativos, em que o saldo de receitas positivo é distribuído pelos seus membros de acordo com o investimento realizado por cada um, como reembolso, esta figura jurídica permite agregar diferentes projetos, com cada cooperante a trabalhar na sua linha editorial. Sediada em Prior Velho, a cooperativa prossegue não só com o lançamento de projetos que orbitam José Freitas, como os da ex-chancela da G.Floy Colecção Alpha e os anteriormente existentes da G. Floy com a ComicHeart (pertencendo todos esses livros atualmente ao catálogo de A Seita), bem como futuros projetos da Bicho Carpinteiro de André Morgado e Miguel Peres. Anunciado está também um projeto de edição de obras da Lucky Comics, a filial da Dargaud que mantém os direitos do personagem Lucky Luke e derivados, como Rantanplan, irmãos Dalton ou Kid Lucky.

Dylan Dog: Trevas Profundas (Profondo Nero, em italiano) é o primeiro livro de A Seita, publicado em Portugal 6 meses após a edição brasileira da Mythos (com o título Prelúdio para Morrer). Publicada originalmente na revista Dylan Dog #383 da Sergio Bonelli Editore, lançada a 27 de julho de 2018, esta banda desenhada foi escrita pelo realizador Dario Argento e o argumentista Stefano Piani, contando com os desenhos de Corrado Roi.

Clique nas imagens para as visualizar em toda a sua extensão:

Eis a sinopse da editora:

Criado por Tiziano Sclavi, Dylan Dog é o célebre investigador do paranormal, o Detective do Pesadelo, uma das mais conhecidas personagens de BD de sempre, cujas aventuras ao mesmo tempo aterradoras, inquietantes e melancólicas, têm encantado leitores – e leitoras – em todo o mundo.
Nesta nova aventura, Dylan Dog envolve-se com duas mulheres misteriosas, diferentes em tudo, mas profundamente ligadas por um elo desconhecido. O herói irá apaixonar-se por uma delas, e seguirá um tortuoso caminho que o levará ao mundo do sadomasoquismo. Visitamos também um episódio da História da rígida hierarquia inglesa: os “whipping boys”, crianças de baixo estrato social, educadas junto dos jovens da nobreza e que eram punidas em vez deles, quando eles infringiam as regras. No caso de Trevas Profundas, a ligação entre estes vários elementos culmina numa tragédia sangrenta com a obrigatória incursão do sobrenatural.
Trevas Profundas faz parte do repertório recente de Dylan Dog. Nesta, como em outras, a personagem começa já a acusar a idade (nasceu em 1986), não tanto pelo aspecto físico, mas pela inadaptação aos tempos modernos. Por exemplo, é conhecida a sua incompatibilidade com telemóveis. Ainda assim, DD não perde um átomo da sua propensão romântica, ao cair rapidamente apaixonado, como é sua marca, e envolver-se de corpo, coração e alma num labirinto de terror que culminará em tragédia e redenção. Um profundo, complexo e misterioso conto do sobrenatural, que levará o leitor a visitar recantos estranhos da natureza humana, e a entrever aquilo que se oculta para lá do véu da morte.

Dario Argento é um conhecido realizador de cinema italiano, com obras emblemáticas do estilo giallo, como Profondo Rosso, Suspiria ou Inferno. Nascido numa família ligada ao meio cinematográfico, cedo se sentiu inspirado por velhos contos de folclore italiano, bem como pelos dos Irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen ou de Edgar Allan Poe. A sua paixão pelo terror e o sobrenatural começou a manifestar-se cedo, mas antes de enveredar pelas suas próprias obras, chegou a trabalhar como guionista em obras de realizadores emblemáticos seus conterrâneos, como Sergio Leone, com quem colaborou em Era Uma Vez no Oeste. A ligação de Argento à banda desenhada já vem de longe. Entre 1990 e 1991, emprestou a cara e o nome à revista de terror Dario Argento Presenta: Profondo Rosso, onde, além de surgir na capa, aparecia nalgumas histórias como apresentador/anfitrião, na linha do Uncle Creepy das revistas da editora Warren, de onde provinha muito do material publicado em Dario Argento Presenta...

Stefano Piani começou na Bonelli na série Nathan Never, em que colaborou década e meia, embora tenha acabado por escrever para vários títulos da editora. Em 2011, já também com uma carreira como guionista de TV e de cinema, trabalha com Argento em Dracula 3D. A colaboração de ambos nesta história de Dylan Dog acaba por ser a junção de duas sensibilidades similares, que encontram nesta personagem pontos de contacto inevitáveis.

A completar o trio de autores, temos Corrado Roi nos desenhos. É um dos mais icónicos artistas do nosso Detetive do Pesadelo, e um dos seus mais populares e prolíficos ilustradores.  É hoje considerado um dos mestres da BD a preto e branco a nível mundial. Tantos anos a trabalhar em DD dão-lhe a posição privilegiada de ser mais do que apenas um mero ilustrador das histórias que os escritores lhe dão. Por exemplo, neste Trevas Profundas, o final é, em grande parte, criação sua.

Dylan Dog: Trevas Profundas
Dario Argento, Stefano Piani e Corrado Roi
Editora: A Seita
Páginas: 120, a preto e branco
Encadernação: capa dura
Formato: 17 x 23 cm
ISBN: 978-83-65938-38-1
PVP: 12,50€

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