
Uma viagem alucinante ao mundo de deuses africanos.
Os Postais de Viagem de Teresa Câmara Pestana fizeram-me viajar por uma cultura de espiritualidade e deuses – que se os tivesse lido noutra época teria tido medo. Mas não me atraiu menos, aliás o medo empata o conhecimento. Li mais tarde, como uma obra de ficção sobre uma alucinante viagem ao mundo de uma personagem chamada pelas iniciais de A.C., cujos desenhos de Teresa acompanho e penso descobrir mas sem a encontrar definitivamente. A viagem alucinante, retrata algumas das crenças espirituais concentradas em “factos, fetiches e espíritos” espacialmente no Togo – país localizado no oeste africano, cujos habitantes vivem maioritariamente de agricultura e que foi, durante os séculos XVI a XVIII, um centro para os europeus procurarem escravos.

Infelizmente, a história do Homem é feita de feitos tristes também, que nunca devem cair no esquecimento, assim como fala a personagem de Teresa: “ É do esquecimento que eles morrem, mas os deuses africanos nunca estiveram tão vivos como hoje. Nem tão exigentes”; e continua, mais além, em nome de um continente e já não apenas de um país: “Nós africanos nunca estamos sozinhos, os nossos mortos, os nossos antepassados estão sempre connosco (…) A corrente simboliza a eternidade da existência, chamem-lhe DNA, genes-memória.” E a viagem continuará?

Eis a sinopse:
“A partir da experiência pessoal de Teresa Câmara Pestana, podemos encontrar na personagem que narra a história em primeira pessoa a personificação da própria autora. De forma fluente e instigante, Teresa nos leva a descobrir uma África pouco conhecida na cultura ocidental predominantemente judaico-cristã, ao menos em sua intensidade e estranhamento, apesar de tão imbricada na cultura popular miscigenada das colónias do continente americano.
Teresa Câmara Pestana nasceu em Portugal, cresceu em Moçambique e morou no Togo. É alma mater do extinto Gambuzine, que ganhou dois prémios no Festival de BD de Amadora de melhor fanzine e chegou a ser indicado em Angoulême. Participou da exposição Tinta nos Nervos no museu Berardo e ilustrou para o Museu de Serralves o catálogo da exposição To whom who keeps a record. Postais de viagem, lançado originalmente pela autora, valeu-lhe exposição individual no Festival Internacional de BD de Beja e excelentes críticas.”
– Henrique Magalhães
Postais de Viagem
Teresa Câmara Pestana
Editora: autoedição (Lousã, Portugal)
Ano: 2007
Páginas: 56, preto e branco, papel couché mate
Encadernação: capa e contracapa em cartolina, com impressão a preto, branco e azul
Formato: 165 x 235 mm
Tiragem: 500 exemplares (offset)
nota: Postais de Viagem também foi publicado no Brasil em 2014 pela editora Marca de Fantasia com o ISBN 9788567732015.

Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.