Entrevista a Ricardo Lopes, a propósito da edição integral de Júpiter.
A propósito da edição integral de Júpiter, que reúne os 4 volumes da saga, realizámos uma curta entrevista ao seu autor, Ricardo Lopes. Formado em Medicina Veterinária na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, o seu percurso na banda desenhada começou com a participação no concurso de banda desenhada do 18.º Festival Internacional de BD da Amadora, em 2007, ainda no escalão B. Obteve o segundo prémio do campeonato de manga do Iberanime Lx 2015 (em parceria com Rita Telhada), e o primeiro prémio da mesma competição, bem como o prémio de desenho manga, no ano seguinte, o último a título individual. Publicou a saga Júpiter com a Escorpião Azul, ao longo de 4 volumes, entre 2014 e 2017, e participou em várias outras obras coletivas com histórias curtas. Trabalha sobretudo como único autor.
Nuno Pereira de Sousa: A tua primeira obra publicada, Júpiter, é uma série em 4 volumes. O que te motivou a começares o teu trabalho em BD com uma história longa e quais foram as tuas influências?
Ricardo Lopes: Talvez uma coisa se prenda com a outra – as minhas principais influências foram japonesas e, na manga japonesa, as histórias são tendencialmente longas, propagando-se ao longo de centenas de capítulos nalguns casos. Sempre desenhei, toda a vida, e sempre fui um contador de histórias compulsivo, mas foi pela manga que aprendi que podia conciliar estas duas vertentes. E quando se escreve uma história nos moldes da manga, capítulo atrás de capítulo, é fácil alongá-la. Além disso, sempre gostei da qualidade “épica” que as histórias longas podem adquirir, em que o leitor tem mais tempo para se afeiçoar aos heróis, para odiar o vilão, para se envolver no enredo e no mundo…
NPS: Como surgiu a oportunidade para Júpiter ser editado na Escorpião Azul?
RL: Comigo a bater a uma porta! Foi por recomendação de um pintor amigo, o Henrique Mourato, que fui falar com o Jorge Deodato, há alguns anos. Ia preparado para uma conversa amigável, para receber alguns conselhos sobre banda desenhada, talvez saber como entrar no meio… E acabei com quatro volumes de Júpiter!
NPS: A aceitação da obra pelo público e crítica foi de encontro às tuas expectativas?
RL: A reacção foi muito maior do que esperava! É certo que as expectativas de um introvertido quase patológico, com uma síndrome do impostor fortíssima, não são extraordinariamente difíceis de superar… Mas ter uma casa cheia no meu primeiro Amadora BD e ver o primeiro volume esgotar no espaço de semanas foi bastante especial. Descobri – para meu espanto – que se foi desenvolvendo um pequeno nicho à volta de Júpiter e que alguns leitores foram seguindo toda a série tão assiduamente, ao longo de quatro anos, como qualquer outra série de manga. Isso dá-me um sentimento de missão cumprida.
NPS: Este mês, é lançado o tomo integral. Há diferenças entre os 4 livros iniciais e o volume integral?
RL: Na verdade… Ponderei muito se deveria ou não redesenhar todo o primeiro volume… A evolução que se vê entre o primeiro e o segundo é enorme, ao ponto de me fazer perguntar se não seria mais apropriado uniformizar um pouco mais o nível do desenho e da narrativa. Acabei por decidir deixar as pranchas originais. Foram feitas várias correções ao longo de toda a obra, mas o núcleo é igual. À medida que os leitores forem desfolhando o livro e avançando na história, vão também acompanhar o meu progresso enquanto artista ao longo daqueles anos. O livro é, simultaneamente, a versão completa da saga, e uma celebração do caminho que foi trilhado até aqui.
NPS: Além de Júpiter, que outros trabalhos realizaste em banda desenhada?
RL: O meu trabalho além-Júpiter focou-se sobretudo em histórias curtas, por exemplo nas coletâneas Histórias do Outro Mundo e Humanus. Há mais uma história curta que está por vir! Provavelmente ainda antes do fim do ano!
NPS: Em que projetos te encontras a trabalhar?
RL: Ui!… Toda a minha cabeça são projetos! Neste momento estou a trabalhar num novo livro, também com algumas inspirações na manga japonesa, mas que será uma leitura integral e independente. Não vão mais haver sagas de quatro livros, pelo menos nos próximos anos! Será uma história mais madura, mais sofrida e mais profunda, ainda sem nome definido, mas que espero ter oportunidade de publicar em breve. Também há alguns anos que vou alimentando o sonho de uma história periódica e pode ser que esteja para breve! Estou a ser muito vago, eu sei, mas fazer muitas promessas é uma arte traiçoeira… Posso dizer que não estou parado – quem me for acompanhando no facebook ou no instagram talvez vá apanhando uns pequenos vislumbres!
NPS: A médio/longo prazo, como vês o teu futuro como autor de BD? Acreditas que o veterinário vai eclipsar o autor?
RL: Nunca. O que me faz feliz é contar histórias, e partilhar parte da minha imaginação para vê-la tornar-se real no imaginário coletivo. Ver um leitor sorrir pelo meu herói ter vencido, chorar com a morte de uma personagem querida, abrir os olhos de espanto ao mergulhar num mundo novo… Eu vivo para contar histórias, e histórias contarei até que os meus dias se esgotem!
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.