Quando os bombardeamentos atingem escolas.
Nem sempre um livro nos diz o que se está a passar num mundo distante que nem sempre conhecemos e compreendemos. O mundo do médio oriente. Nem sempre sabemos orientarmo-nos num mapa e definir lugares do nosso planeta nesta geografia de vidas. Vidas mutiladas, vidas em pausa e desespero. É um lugar comum dizer que podia ser um de nós. No meio de nós. Mas para o outro, o nós nem sempre é identificado num livro. Um livro já do passado dois mil e quatorze mas que infelizmente continua actual pois a guerra ainda não acabou.
O livro “Que luz estarias a ler?” criou-se em “memória de cinco centenas de crianças mortas pelos bombardeamentos em Gaza, em Julho e Agosto de 2014”. Qual o motivo? Porquê? Perguntamo-nos. Uma criança, duas, cinco centenas também se questionam? Afinal, porquê o castigo? Por terem nascido num seio de uma família que vive nessa parte do globo e não em Portugal, por exemplo. Para uma criança brincar, ler, investigar e explorar o “espaço” não tem necessariamente de pertencer a um clube, a um país, a uma ideologia e por aí adiante. No livro “Que luz estarias a ler?” os autores questionam-se e retratam de uma forma brutalmente desenhada as crianças e os livros que resistiram às bombas no meio do estúpido vazio da destruição. A menina do livro, apanha os livros desse caos e colecciona-os nos seus braços sonhando com melhores dias e ainda talvez com a aventura da paz (“Será, certamente, o que irradiar mais luz das suas páginas brancas”) Essa luz, de um livro. O da paz.
Eis a sinopse:
Ana Biscaia fora convidada a participar com ilustrações suas no festival de banda desenhada e ilustração de Treviso (24-28 de Setembro de 2014). E convidou João Pedro Mésseder a escrever um texto breve para essas imagens em que a tragédia de Gaza ganhava expressão. O texto foi traduzido para italiano por Alberto Corradi (autor de BD e comissário do festival) e o trabalho conjunto publicado no catálogo sob o título Books and war. Introduzida a cor nas imagens, repaginado o livro, “Que luz estarias a ler?” é agora o título português desse projecto que cruza banda desenhada e ilustração.
Ana Biscaia nasceu na Figueira da Foz, em 1978. Estudou Design de Comunicação na Universidade de Aveiro e trabalhou como designer gráfica, mas foi a ilustração do primeiro livro (Negrume, 2006) que lhe abriu as portas para um mundo novo e para a formação mais marcante, na Suécia. Em Estocolmo, na Konstfack University College of Arts, Crafts and Design, construiu grande parte da sua linguagem estilística, moldada pela importância do desenho e pela preferência pelo uso da grafitte. Mais tarde, viria a ilustrar a edição sueca de “Flor de Mel”, um dos romances juvenis de Alice Vieira, ganhando o Peter Pan Prize Silver Star, atribuído pela secção sueca do IBBY. Conta com quase duas dezenas de publicações, individuais e colectivas, e os seus trabalhos já foram exibidos em mais de 30 exposições, em Portugal, na Suécia, no Brasil, na Colômbia, na Alemanha, em Espanha e na Suíça. Com a obra “A cadeira que queria ser sofá” (texto de Clovis Levi), venceu o Prémio Nacional de Ilustração em 2012, atribuído pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.
João Pedro Mésseder nasceu em 1957, no Porto. Doutorado em Literatura Portuguesa, é professor na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Publicou poesia, aforismos e contos breves: “Elucidário de Youkali seguido de Ordem Alfabética” (2006), “Guias Sonoras e Outras Abrasivas” (2010), “Contos do Quarto Minguante” (2014), entre outros. É autor de cerca de duas dezenas de livros infantis e juvenis, sobretudo poesia e álbuns narrativos e poéticos. Dois dos seus livros foram nomeados para a IBBY Honour List (2000 e 2006) e, entre outras distinções, obteve o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância de 2014 pela obra “Pequeno Livro das Coisas” (2012), em conjunto com a ilustradora Rachel Caiano. Alguns dos seus livros infantis estão editados no Brasil e em Espanha e textos seus foram incluídos em antologias publicadas na Alemanha, na Itália e no Brasil.
Que Luz Estarias a Ler?
João Pedro Mésseder & Ana Biscaia
Editora: Xerefé Edições
Local: Coimbra
Data: 2017 (3.ª edição) | 1.ª edição: 2014
Impressão: Norprint
Depósito Legal: 384305/14
ISBN: 978-989-20-5261-8
Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.