Entrevista a Ricardo Baptista: Espaço Interior

Entrevista a Ricardo Baptista: Espaço Interior

Entrevista a Ricardo Baptista a propósito de 1 ano de publicações de Espaço Interior.

O site Bandas Desenhadas encontra-se a publicar há 1 ano a BD Espaço Interior de Ricardo Baptista. Tal foi o mote para uma curta entrevista ao autor, na qual se abordam ainda outros projetos nos quais se encontra envolvido.

Nuno Pereira de Sousa: Quando surgiu a ideia para elaborares os Tiny Comics, já tinhas equacionado que narrativas circunscritas a uma única tira convivessem com outras séries em continuação?
Ricardo Baptista: A ideia do Tiny Comics surgiu há alguns anos quando eu fiz três tiras a medo, as três primeiras do primeiro volume, e depois ficaram a marinar até eu ganhar coragem de fazer outras. A intenção seria que as tiras podiam servir como treino para narrativas maiores. Na altura que fiz o primeiro – e até agora único – volume do Planeta Satélite para a Comic Con Portugal de 2017, os Tiny Comics eram uma forma mais fácil de produzir conteúdo para o evento. Demorei muito tempo a fazer aquele primeiro número do Planeta Satélite e em vez de fazer um segundo continuei as tiras de forma descomprometida. A continuidade sempre foi algo que me interessava e o formato de tira tirava-me um peso de cima que me ajudava a fazer banda desenhada. Por isso, em vez de termos mais Planetas Satélites, acabei por fazer tiras em continuidade nos Tiny Comics como o “Inspector Fagundes” e o “Espaço Interior”.

NPS: O que te atrai no formato tira?
RB: Neste momento, nada. Na altura, era uma forma rápida e sem compromisso de fazer BD, aquele treino que referi.

NPS: O que te levou a dar por fim os Tiny Comics e quais eram os teus planos para as tiras em continuação inacabadas?
RB: Fartei-me do formato e não queria ser o “gajo dos Tiny Comics”; acho que ninguém fica feliz por estar associado sempre à mesma coisa quando quer começar a fazer algo diferente. E foi isso que aconteceu; ganhei mais confiança e queria fazer algo maior e, espero, melhor. A história do Fagundes é relativamente autolimitada e o “Espaço Interior” era algo que iria para a gaveta para ser desenvolvido mais tarde – ou então não. Quando vocês me convidaram para colaborar convosco, a minha ideia inicial era fazer algo novo para o Bandas Desenhadas mas que acabaria por ser uma tira quinzenal de conteúdo humorístico. O prazo apertou e eu não sabia bem o que ia fazer e acabei por ir àquela gaveta buscar o “Espaço Interior”.

NPS: Entre o início da publicação de “Espaço interior” no site Bandas Desenhadas, republicando inicialmente o material da série nos Tiny Comics, e o surgimento do material inédito passaram-se alguns meses. A nova plataforma de publicação influenciou o desenvolvimento das novas tiras?
RB: Influenciou; a tira parecia pouco para algo quinzenal. O formato de tira só parece ter alguma relevância quando publicado de forma diária ou colecionado em volumes significativos. Como disse, queria “ver-me livre” das tiras e numa das exposições do Festival Internacional de BD de Beja havia uma exposição de um autor que fazia webcomic e o formato era mais vertical que horizontal. A verticalidade também ajudaria se, mais tarde, se coleciona-se as páginas numa BD. Mesmo assim, acho que este não é o melhor formato; o webcomic ser quinzenal influencia muito as decisões que tomo para cada página. Num livro, a leitura mais imediata pede um determinado ritmo que não sei se o webcomic que estou a fazer tem. Tenho muitas dúvidas em relação ao que faço. Sempre…

NPS: A 16.ª tira findou esse formato. Com a 17.ª publicação, passaste não só para a exploração da prancha mas também a introdução da cor. O que te levou a esta alteração e como isso influenciou a própria narrativa?
RB: Todos os projetos que faço são treino para aquela história futura perfeita que nunca chega. O uso da prancha vertical faz mais sentido para mim, dadas as minhas influências e objetivos; a cor é algo que a mim sempre me fez confusão – é aquela história de termos uma ideia sobre nós e a ideia que tinha era que não era bom a colorir. Recentemente, comprei um iPad e o Procreate e o digital permite experimentar sem ter a sensação que estou a estragar algo. Comecei agora a colorir de forma simples; as cores têm um sentido mais pragmático, uso-as para relacionar e distinguir as personagens. Espero, com o passar do tempo, conseguir colorir de forma mais eficaz e ter um produto final mais “profissional” ou pelo menos mais aproximado à BD que leio.

NPS: Que materiais utilizas para a produção das pranchas?
RB: Neste momento tenho um caderno comprado na Note a imitar um Moleskine mas com menos qualidade, uso lapiseira vermelha para fazer o desenho e depois finalizo com canetas de tinta da China como a Micron (003, 005) ou da Faber Castell (XS, S, F) e uma caneta Kuretake que está a ser mal aproveitada para as manchas. Digitalizo depois a página e trabalho-a no Photoshop – removo as linhas vermelhas e reforço os pretos – para depois pintá-la na tablet no Procreate.

NPS: Para os que ainda não leram Espaço Interior, como descreverias sumariamente a obra?
RB: Histórias de aventuras de viagem interdimensional – inspiradas nos meus sonhos bizarros. Se viram e gostaram das séries televisivas “Quantum Leap” e “Sliders”, as coisas devem funcionar mais ou menos no mesmo esquema.

NPS: Para além de Espaço Interior, estás envolvido na antologia Ditirambos, bem como estás a produzir a tua série Regresso ao Olimpo, cujo 1.º episódio foi publicado pela Erva Daninha. Que novidades tens sobre estes 2 projetos?
RB: O coletivo Ditirambos tem planeado um segundo número da antologia –  mais autores e mais páginas – para ser lançado no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja deste ano, onde temos também uma exposição com os originais do primeiro volume. Relativamente ao Regresso ao Olimpo publicado pela Erva Daninha Press, o segundo episódio está ainda em fase de desenvolvimento com data de publicação prevista para outubro ou novembro deste ano no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

NPS: Como foi a tua experiência no Festival Internacional de BD de Angoulême este ano?
RB: O FIBD Angoulême é o segundo maior festival de BD da Europa e o terceiro do mundo, o que dá a entender a dimensão das coisas – milhares de pessoas, bancas de editoras aos pontapés, exposições com originais incríveis – e nem falo do Museu de BD deles… Eu ia com expetativas muito altas e perdi muito tempo com coisas paralelas ao evento para o público, nomeadamente, perder um dia inteiro em filas para o que julgava ser portefólio review que afinal não era – as editoras francesas neste momento estão à procura de projetos e não de autores. O clima não era grande coisa – “molha tolos” o dia todo” e a comida era sofrível, mas isso pode ser só de mim. A confusão – pessoas a acotovelarem-se em corredores relativamente estreitos – não ajudou muito.Valeu pela companhia e por ver uma cidade completamente dominada pela BD. Vou regressar mas com um plano de ataque. 2021 é o ano!

NPS: Em que novos projetos estás a trabalhar?
RB: Para além do Ditirambos e do Regresso ao Olimpo, estou a colaborar com alguns argumentistas em três projetos diferentes, um álbum inteiro e duas antologias. Não sei se posso dizer muito mais, neste momento. Este ano, quero ainda muito fazer uma banda desenhada com o Inspector Fagundes, a emular os álbuns franco-belgas da nossa infância – calma, somos crianças a a vida toda. Eu vou dando notícias.

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