Exorcizando o primeiro volume de Outcast.
Publicado em 2016 pela primeira vez em Portugal, Outcast foi apresentado na Comic Con desse ano. A edição da série pertence à G. Floy no nosso país e o primeiro volume (que coleciona os 6 primeiros números) recebeu o nome de As Trevas Que o Rodeiam.
Outcast começou a ser publicado originalmente em 2014 pela Image Comics nos EUA. É uma série que continua a ser publicada atualmente, contando já com 7 volumes da série original e 5 volumes da G. Floy (sendo que o quinto desta última inclui ainda o sexto volume original).
Robert Kirkman, um dos mais influentes e mais bem-sucedidos argumentistas de banda desenhada da sua geração, volta a surpreender com mais uma fantástica série de BD do género terror. O argumentista de The Walking Dead (cujos primeiros 14 volumes foram editados em Portugal pela Devir, antes da editora cancelar a mesma) voltou a ver uma série escrita por si a tornar-se numa série televisiva. No entanto, a série de TV Outcast, cuja exibicação se iniciou em 2016, viria a ser cancelada em 2018, após 2 temporadas terminadas.
Paul Azaceta foi o artista com que Kirkman embarcou nesta obra de banda desenhada. Este participara antes em grandes séries como B.P.R.D. ou Daredevil.
Esta é uma obra que demonstra a versatilidade de Kirkman enquanto argumentista. Depois de termos tido uma das melhores histórias de super-heróis da atualidade com Invincible e uma das mais originais séries de terror com The Walking Dead, o autor concebe uma obra que, embora compartilhe o género da anterior, apresenta um mundo e um desenvolvimento completamente diferentes.
Tenho vindo a conhecer e a acompanhar alguns dos trabalhos do Kirkman e, em Outcast, notei uma clara diferença na sua escrita. Temos um primeiro volume que conta com a presença de relativamente poucos personagens (comparando com as séries anteriormente referidas) e com bastantes momentos mudos, mas que são elaborados de uma nova forma que, certamente aqueles que estão habituados aos anteriores trabalhos de Kirkman, terão reparado.
Azaceta elaborou também um trabalho fantástico, mas não podia deixar de referir o excelente trabalho da colorista Elizabeth Breitweiser, a qual apresentou aqui uma obra simplesmente única pelo seu trabalho. Embora à primeira vista pareça uma coloração simples, um ou outro pormenor dados às texturas e ao jogo luz/sombra tornam as cores desta obra tão bem conseguidas e originais.
Outcast revelou-nos então uma faceta mais séria e madura de Kirkman. Embora os trabalhos anteriores do autor tenham tido também com foco uma audiência madura, esta série demonstra que a ação em banda desenhada não tem de ser necessariamente reproduzida em cenas de luta, mas que pode ser também transmitida em diálogo. Robert Kirkman jogou novamente aqui com aquele que é um dos seus pontos mais fortes e que, certamente, mais cativam os seus fãs, que são as relações interpessoais e a caracterização das personagens, as quais se podem facilmente identificar com alguém que conheçamos ou com quem nos cruzamos no mundo real.
Kyle Barnes é o protagonista desta série e, aqui, não temos um personagem com capacidades especiais ou fisicamente extravagante ou anormal. Em vez disso, Kirkman apresentou-nos um homem simples, que vive na sua reles casa desorganizada e com os fantasmas do seu passado. Kyle é um homem que viveu atormentado por demónios toda a sua vida e sempre os viu ao seu redor, possuindo os seus entes mais queridos.
Um primeiro volume um pouco escuro, também literalmente, com as cores mais mortas do inverno, as paisagens de dias sempre nublados, os interiores mal iluminados, a presença dos demónios que é já exposta no próprio ambiente das páginas da obra, mesmo que não os vejamos diretamente. O mistério mantém-se, tal como as respostas que Kyle Barnes continua a procurar, ainda no final deste volume: são mesmo demónios com que lida? Porque o atormentam a si? Porque possuem os que lhe são próximos?
A série terminará este ano (2020) com o seu oitavo volume, que será compilado em Portugal pela G.Floy, juntamente com o sétimo, naquele que será o sexto e último volume da série no nosso país.
Rafael Marques tem 24 anos durante o ano de 2020. É músico em Lisboa e faz disso a sua profissão. A restante parte do seu tempo é dedicada ao sono, ao gaming e à leitura de banda desenhada, que terá descoberto como uma das suas maiores paixões entre 2018 e 2019, quando se envolveu numa relação com uma artista/ilustradora. Rafa é um apaixonado por tudo aquilo em que trabalha. Em segredo, escreve argumentos para banda desenhada, que são executados em belas pranchas pela sua companheira. Ainda sonha um dia vir a ser mordido por uma aranha radioativa…