Quadradinhos e homossexualidade.
Encontrei a obra Amores Plurais em casa, quando procurava fanzines para reler e peguei logo nele.
Sempre tive um pouco de vergonha, pois colaborei com uma história tão depressiva e de desenhos tão toscos, que nunca publicitei ou falei mesmo sobre ela. Recordo uma história, contada por um amigo, que narro na primeira pessoa. É verdade, sendo heterossexual, penso ter compreendido o drama daquela pessoa naquele momento da sua existência.
Mas este livro tem de tudo: alegria, dor, tristeza, revolta, celebração em vários encontros e desencontros. Um bom apanhado que foi resultado de um concurso de banda desenhada pela editora Marca de Fantasia. Existem histórias realmente muito corajosas como a do Pedro Machado, realista e frontal, e a de Anita Costa Prado com Ronaldo Mendes, divertidas considerações sobre a vida e, em particular, a homossexualidade.
Extremamente bem desenhada e bonita, está a primeira banda desenhada do livro, da autoria de Shiko, mas penso que todas têm o seu encanto, sem querer ser ou parecer “graxa”, como os desenhos de Anderson Lauro e a filosofia pragmática e actual de Daniel Linhares; ou a forma poética e bonita de Samuel Gois na sua “Ditadura dos Sentimentos”; e sem esquecer a que mais se assemelha ao meu gosto e que calha de ser a última história deste corajoso livro, “Com amor não se sonha”, de Vitor Batista. Uma luta sempre actual.
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Eis a sinopse da editora:
A editora Marca de Fantasia tem promovido anualmente um concurso de tiras com o objetivo de estimular a produção e dar visibilidade aos novos autores. O projeto gerou duas edições do álbum GAG, uma em 2009 e outra em 2011. Em 2012, os selecionados no concurso do ano anterior foram publicados na revista Maria Magazine, voltada ao humor em tiras.
Ainda em 2012 realizou-se nova versão do concurso, focando nos quadrinhos de temática homossexual. Participaram autores de tiras e histórias longas, abordando várias expressões da homossexualidade, como gays, ursos, lésbicas e transsexuais, seus problemas, conquistas e afirmação.
A seleção das HQ publicadas neste álbum foi feita por pesquisadores do grupo Imaginário!, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. Após a leitura de todos os trabalhos, onde cada avaliador apresentou suas escolhas, as HQ selecionadas foram as que figuraram na lista de pelo menos três, considerando a pertinência ao tema do concurso, a originalidade da arte e a clareza narrativa. Foram inscritos 23 trabalhos originários de São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará, Paraíba, Alagoas, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, além de Portugal e Argentina.
Todos os quadrinhos trouxeram uma visão afirmativa da homossexualidade, alguns com crítica à homofobia, outros com lirismo ou tom didático. Os traços variaram do cartum, sobretudo nas tiras, ao realista, nas histórias mais longas, bem como o mangá. Um trouxe um traço estilizado e versos inspirados em literatura de cordel.
O concurso atingiu plenamente seu objetivo, de fomentar a discussão e a produção artística sobre as relações entre o mesmo sexo, expressas em histórias em quadrinhos. Constatou-se que há interesse e liberdade criativa para abordar a questão, faltando, contudo, a atenção do meio editorial.
15 trabalhos foram selecionados, alguns de dupla ou grupo, a maioria de autores individuais. Não houve a escolha da melhor obra, pois não era essa a intenção. Ressalte-se a importância da participação de todos, que se engajaram com entusiasmo na proposta do concurso; mesmo os não selecionados tiveram seus trabalhos indicados por alguns dos membros do grupo, o que demonstra a qualidade e a sensibilidade das obras.
Amores plurais: Quadrinhos e homossexualidade
Vário Autores
Organizador: Henrique Magalhães
Editora: Marca de Fantasia
Páginas: 92
Série: Reportório, n.º 13
Dimensões: 14 x 20 cm
ISBN: 978-85-7999-066-3
Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.