Harrow County – Analisando os terceiro e quarto volumes
Harrow County é uma série de terror desenvolvida por Cullen Bunn e Tyler Crook, editada originalmente pela Dark Horse Comics. A série foi adaptada à língua portuguesa pela G. Floy, a qual lançou em 2018 os volumes 3 e 4, com os respetivos títulos A Encantadora de Serpentes e Laços de Família. Os volumes compilaram respetivamente os números 9 a 12 e 13 a 16 da série.
Ambas as edições contaram com páginas de rascunhos extra no final e, no caso de Laços de Família, esta inclui ainda uma passagem de argumento para planeamento artístico de um dos números.
Face à quantidade de volumes que a série desenvolveu e à continuidade tão próxima que alguns deles seguem, decidi compilar terceiro e quarto volumes num só artigo desta vez.
Nesta série de Bunn e Crook, atingimos o meado do seu desenvolvimento com o quarto volume, que terminou (na versão original) com a publicação de oito livros, dos quais sete estão já disponíveis na versão portuguesa (o oitavo e último será publicado este ano, com confirmação da G. Floy).
A Encantadora de Serpentes começa com um número desenhado por Carla Speed McNeil e colorido por Jenn Manley Lee. É um número no qual reparamos a óbvia diferença na ilustração, mas cujo estilo encaixa muito bem na série, ao lado do de Crook. Em relação ao último número deste volume, também ele desenhado por outro artista, neste caso Hannah Christenson, não posso afirmar o mesmo. Julgo ser um estilo um tanto deslocado da série, embora a própria história deste número se tenha deslocado também um pouco, quase como um escape à continuidade do volume ou, até, uma adição forçosa para que o volume tivesse novamente quatro números em vez de apenas três.
Este volume continua a explorar a região de Harrow County pelos seus belos bosques verdes e a desvendar novos mistérios do seu lado mais negro. Bernice, a melhor amiga de Emmy, é a personagem em destaque nos três primeiros números do mesmo. A Encantadora de Serpentes foi, no fundo, um escape à história em redor de Emmy, apresentando-nos Bernice como uma potencial personagem primária. Apesar de lhe ter sido sempre dada menos importância nos volumes anteriores, Bernice aparecia já a acompanhar a amiga e era, inclusivamente, a única pessoa de Harrow County que demonstrava não a temer e a apoiava. Neste volume, a personagem afirma a sua capacidade e importância na história e, afinal, consegue ser também uma rapariga forte e determinada, com um enorme coração, pronta a ajudar os seus.
Bernice ganha então novas capacidades e começa a entender este “novo mundo” das assombrações e da magia de uma nova forma, depois de ela mesma aceitar o novo fardo que lhe é dado em A Encantadora de Serpentes.
No volume seguinte, voltamos a ter Tyler Crook à frente da arte completa do livro. São apresentados novos desafios, novos conhecimentos do passado e outras revelações, como, por exemplo, as questões que impõem o desaparecimento da mãe biológica de Emmy quando esta era ainda bebé.
O nome Laços de Família deve-se aos novos personagens apresentados neste volume, que se introduzem como “a família” da jovem rapariga. Serão os seres que neste mundo possuem capacidades, em parte semelhantes às suas, e que desafiam Emmy a deixar tudo o que tem com Harrow County e, juntando-se a si, aprender a sua verdadeira razão no mundo, bem como a ter controlo sobre os seus poderes. No entanto, à semelhança do que acontece no volume dois, os eventos viram-se contra Emmy e a mesma acaba por ter de se aperceber que, afinal, estes indivíduos, que se apresentam como família, não têm as melhores intenções, acabando por ter de os enfrentar e opor-se às suas pretensões.
Embora a série continue cheia de mistérios interessantes – e só, a pouco e pouco, sentimos que o véu vai sendo levantado -, esta parece continuar a seguir a mesma receita do segundo volume, o que, apesar de não ser totalmente mau, me deixou na expectativa. Apesar de acompanharmos um amadurecimento claro em Emmy, e agora também em Bernice, falta algo novo à fórmula.
A série continua a ser divertida e a sua leitura é sempre um tempo bem passado e um grande fator para tal está extremamente ligado às lindíssimas páginas desenhadas e coloridas por Crook, além das capas que, como referido em artigos anteriores, são também muito bonitas. Todavia, a falta de surpresa, no sentido em que os acontecimentos se tornam previsíveis após a apresentação dos personagens, pode ser um aspeto menos positivo à leitura dos próximos números.
Não espero que tal seja um entrave, principalmente para fãs da série. No entanto, estes dois volumes não me deixaram tão empolgado com o que acontecerá nos próximos livros quanto o fizeram os volumes 1 e 2. Mas tenho confiança que Bunn me vá convencer nos próximos volumes de que o melhor ainda está por vir…
Rafael Marques tem 24 anos durante o ano de 2020. É músico em Lisboa e faz disso a sua profissão. A restante parte do seu tempo é dedicada ao sono, ao gaming e à leitura de banda desenhada, que terá descoberto como uma das suas maiores paixões entre 2018 e 2019, quando se envolveu numa relação com uma artista/ilustradora. Rafa é um apaixonado por tudo aquilo em que trabalha. Em segredo, escreve argumentos para banda desenhada, que são executados em belas pranchas pela sua companheira. Ainda sonha um dia vir a ser mordido por uma aranha radioativa…