Anúncio oficial dos Vencedores dos Prémios Bandas Desenhadas 2019.
Os Prémios Bandas Desenhadas têm por fim promover anualmente a banda desenhada produzida e editada em Portugal, através da distinção dos melhores lançamentos editoriais de autores nacionais e estrangeiros.
As nomeações das obras concorrentes aos Prémios Bandas Desenhadas têm uma particularidade – são realizadas ao longo do ano, cada uma delas correspondendo a um trimestre editorial, formalmente designado pela estação do ano que vigora na maioria do seu período. Deste modo, ao longo do ano, foram anunciadas as Nomeações de Inverno, de Primavera, de Verão e de Outono, bem como as finais Nomeações Extemporâneas, as quais contemplam obras avaliadas pelos jurados após o anúncio do trimestre a que as mesmas digam respeito. Deste modo, assegurou-se a possibilidade de contemplar obras que, por questões de acessibilidade ou de outra ordem logística, foram alvo de apreciação após o trimestre em que foram publicadas.
Tendo o nosso Observatório identificado a edição de mais de 315 publicações de banda desenhada em 2019, graças ao trabalho desenvolvido ao longo do ano pelo nosso site, a grande maioria foi alvo de leitura atenta, nunca anteriormente tendo sido apreciadas tantas obras pelos jurados nalgum prémio alguma vez atribuído em Portugal na área da Banda Desenhada. Tal como as nomeações, a atribuição dos prémios foi realizada pela equipa nuclear do site – Carla Ramos, Nuno Pereira de Sousa, Rodrigo Ramos e Susana Figueiredo -, com experiência prévia enquanto jurados na premiação de obras de banda desenhada. Lutando contra o habitual binómio gosto/não gosto que é tão frequente no meio, tiveram em conta critérios relacionados com a natureza narrativa e gráfica das obras, tais como a execução, originalidade, pertinência e novidade do assunto ou meios utilizados, entre outros.
Ao realizar apenas uma nomeação por categoria em cada trimestre, o júri congratulou-se com a existência do debate gerado internamente em cada uma dessas ocasiões, dado nalgumas categorias existir mais do que um candidato forte. Tal foi ainda mais exigente para a seleção de vencedores, com o confronto dos escolhidos nas diferentes Estações do Ano 2019.
A pandemia de COVID-19 impossibilitou-nos de celebrar a edição de banda desenhada no nosso país como gostaríamos. Para além do cancelamento da sessão de cerimónia de entrega dos Prémios Bandas Desenhadas 2019 e da mostra do trabalho realizado por Daniel Maia e Susana Resende na criação gráfica das estações do ano que representam os Prémios, ambas agendadas para o cancelado Festival Internacional de BD de Beja deste ano, outras atividades paralelas também se viram impossibilitadas de ocorrer, pelo que optámos pelo anúncio formal online dos vencedores no dia 24 de abril de 2020.
Numa altura em que leitores e famílias estão sujeitas a uma pior acessibilidade e uma maior necessidade de utilização da internet – seja para teletrabalho, seja para o ensino à distância – optámos por comunicar os vencedores num formato de artigo, ao invés de vídeo ou outros formatos que obrigassem a uma maior largura de banda.
Esperemos que o anúncio dos Vencedores dos Prémios Bandas Desenhadas 2020 possa ocorrer numa conjuntura diferente daquela em que vivemos atualmente.
Sem mais delongas, apresentamos os Vencedores 2019. Relembramos que já tínhamos congratulados TODOS os nomeados – cuja listagem pode ser obtida aqui – dado cada um já representar o que de melhor se editou em cada um dos trimestres.
Melhor Reedição
Corto Maltese: As Célticas – Hugo Pratt (Arte de Autor)
Nesta categoria, os jurados têm em conta não só as bandas desenhadas propriamente ditas mas também o seu suporte físico e a qualidade dos conteúdos extras à própria BD, no sentido de avaliar o valor acrescentado da nova edição dessa BD. A obra vencedora em 2019 foi As Célticas, a campeã da Primavera, um volume em capa dura, com papel e impressão de qualidade, que a Arte de Autor dedica à série Corto Maltese de Hugo Pratt, a preto e branco, com um dossier complementar colorido, ofuscando as anteriores edições nacionais da obra. Recorde-se que as reedições corresponderam a 16% das obras editadas em 2019.
Melhor Edição
Andromeda or The Long Way Home – Zé Burnay (edição de autor)
Nesta categoria, os jurados têm em conta não só as bandas desenhadas propriamente ditas mas também o seu suporte físico e a qualidade dos conteúdos extras à própria BD. A obra vencedora em 2019 foi a edição de autor de Zé Burnay de Andromeda or The Long Way Home, uma nomeação extemporânea, cuja data de lançamento teve lugar no segundo trimestre de 2019. Na verdade, no que toca às edições de autor, a qualidade desta obra é incomum no nosso panorama nacional, com um cuidado design, seja do CD acompanhante – incluindo o seu encarte -, seja do livro – como a lombada em tecido, o papel ou a opção pelo cobre metálico. Atendendo a que todas as restantes obras nomeadas eram publicações nacionais com distribuição comercial, o facto do vencedor da Melhor Edição ser uma obra com distribuição alternativa é um duplo feito e espera-se que seja um incentivo a auto e heteroeditores de obras que não são distribuídas nem em livrarias nem nos pontos de venda de periódicos a pensarem no livro enquanto objeto.
Melhor Série de Publicações
Criminal – Ed Brubaker & Sean Phillips (G. Floy)
Nesta categoria, os jurados têm em conta não só as bandas desenhadas propriamente ditas mas também o seu suporte físico e a qualidade dos conteúdos extras à própria BD. Apesar de contar somente com 4 nomeações, esta foi uma das categorias de aceso debate entre os jurados, devido aos diferentes motivos que levaram à nomeação de cada série, todos válidos per se – desde a fórmula extremamente eficaz de um dossier complementar para tornar fluídas as bandas desenhadas biográficas e/ou didáticas ao preenchimento da lacuna de edição de obras fundamentais de BD inéditas em Portugal, ao formato e/ou à presença de extras. Estes bons motivos conviviam com outros ponto fracos, como séries que agrupavam obras deveras interessantes com outras menores, a fraca qualidade do papel (com maio relevância quando a gramagem do papel não era a mais apropriada para permitir a opacidade de cada uma das páginas), a presença de um ou outro erro que a revisão não detetou na tradução ou legendagem e a presença parca ou, inclusivamente, ausência de extras. O júri deliberou galardoar a série Criminal de Ed Brubaker e Sean Phillips, editada no quarto trimestre de 2019 no nosso país pela G. Floy, por ser a série mais equilibrada nos diversos pontos considerados, não só pela própria banda desenhada, como pela escolha da editora no que toca ao formato e compilações realizadas, apesar de conter uma menor seleção de extras do que as deluxe editions norte-americanas da Icon. Tendo sido uma nomeação extemporânea, a série Criminal pertence ao género policial, frequentemente ignorado pelos prémios literários não dedicados ao mesmo. Brubaker e Phillips tornaram-se, no espaço de uma década, um duo criativo extremamente eficaz ao transpor para a banda desenhada norte-americana o crime, mistério e o noir.
Menção Honrosa – Publicação de Humor
O Pesadelo de Obi – Chino, Tenso Tenso & Ramón Esolo Ebalé (Tigre de Papel)
O júri atribuiu uma Menção Honrosa na categoria de Melhor Publicação de Humor a O Pesadelo de Obi de Chino, Tenso Tenso e Ramón Esolo Ebalé, editada em Portugal pela Tigre de Papel. É fundamental distinguir a coragem dos que praticam a criação criativa, aliada à crítica política e social, em países que não o permitem. A nossa Menção Honrosa é uma forma de homenagear o exilado Ebalé, o desenhador desta obra proibida na Guiné Equatorial, que, em 2017, regressou ao seu país para renovar o passaporte e, sob acusações falsas, num plano confessado aquando da sua libertação, esteve preso cerca de 7 meses na infame Black Beach, apesar da pressão internacional. É uma leitura que se recomenda, sem reservas.
Melhor Publicação de Humor
Conversas com os Putos e os Professores Deles – Álvaro (Insónia)
A Melhor Publicação de Humor é uma categoria sui generis, pois contempla registos vários, desde tiras humorísticas a cartoons. Por outro lado, é uma das categorias que não distingue as publicações nacionais das estrangeiras, devido ao facto da aposta modesta que a edição nacional faz no género. Conversas com os Putos e com os Professores Deles, da autoria de Álvaro e com edição da Insónia, a campeã de verão, foi a obra vencedora. Álvaro continua a mostrar-nos com grande naturalidade alguns dos diversos problemas que a sociedade contemporânea atravessa, tendo como mote os explicandos de Geometria Descritiva. O facto de se tratar da sociedade portuguesa merece o redobro da atenção.
Melhor Ilustração Estrangeira
A Morte Viva – Alberto Varanda e Olivier Vatine (Ala dos Livros)
Relembre-se que as categorias relativas à Ilustração referem-se ao conjunto de todos os profissionais que contribuíram para as diferentes etapas da mesma na banda desenhada (p.e., desenho, arte-final, cor), bem como que as Publicações Estrangeiras referem-se às edições nacionais de material previamente publicado noutros países. A obra vencedora foi a campeã da primavera, A Morte Viva, com desenhos e arte-final de Alberto Varanda e cores de Olivier Vatine, sendo a edição nacional da Ala dos Livros. A exímia arte de Varanda conquistou os jurados.
Menção Honrosa – Argumento Estrangeiro
O Espírito do Escorpião: A Máscara do Genocídio de Srebrenica – Fernando Llor (Escorpião Azul)
O júri atribuiu uma Menção Honrosa na categoria de Melhor Argumento Estrangeiro a O Espírito do Escorpião: A Máscara do Genocídio de Srebrenica, escrito por Fernado Llor e editado em Portugal pela Escorpião Azul. É fundamental estar sempre presente o Genocídio em Srebrenica, bem como outros crimes de guerra e crimes contra a humanidade, para que a História não os repita. O facto de a obra denunciar também os charlatães que se dedicam à medicina alternativa é outra mais-valia.
Melhor Argumento Estrangeiro
Eu, Louco – Antonio Altarriba (Ala dos Livros)
Eu, Louco, a campeã de outono, escrita por Antonio Altarriba e editada no nosso país pela Ala dos Livros, foi a BD galardoada com o Prémio de Melhor Argumento Estrangeiro. Entre as diferentes BD nomeadas, a denúncia social de Altarriba às empresas farmacêuticas, conquistou os jurados.
Melhor Publicação Estrangeira
Eu, Louco – Antonio Altarriba & Keko (Ala dos Livros)
A banda desenhada Eu, Louco, o segundo volume da Trilogia do Eu, com argumento de Antonio Altarriba e desenhos de Keko, foi o livro galardoado pelos jurados para o Prémio de Melhor Publicação Estrangeira. Editada pela Ala dos Livros, esta banda desenhada apresenta um equilíbrio exemplar entre argumento e desenho, merecendo a distinção dos jurados.
Melhor BD de Autor/Coautor Nacional publicada originalmente no Estrangeiro
A Morte Viva – Alberto Varanda (Ala dos Livros)
Relembra-se que esta categoria é bastante abrangente quanto à definição de Autor Nacional, incluindo, entre outros, aqueles que nasceram em Portugal, tenham ou não trabalhado em Banda Desenhada no nosso país. Apesar de tal latitude, a edição nacional de obras de banda desenhada de autores nacionais originalmente publicadas no estrangeiro é extremamente modesta, o que contribuiu para que somente existissem 2 nomeações nesta categoria. No entanto, a atribuição do Prémio foi amplamente discutida, tendo os jurados decidido pelo minucioso trabalho de Alberto Varanda em A Morte Viva, a campeã da primavera, editada em Portugal pela Ala dos Livros.
Melhor BD curta editada em Antologia Nacional
“Nós” – Nuno Duarte & Rita Alfaiate (Legendary Horror Stories volume um – Legendary Books)
Para efeito destes Prémios, as categorias referentes a Antologias apenas contemplam a compilação de obras de autores distintos, sem um fio condutor entre as BD propostas. A BD campeã de verão, “Nós“, da autoria de Nuno Duarte e Rita Alfaiate, publicada na obra Legendary Horror Stories vol. 1 da Legendary Books, foi a BD curta vencedora desta categoria.
Melhor Antologia Nacional
Umbra n.º 1 (Umbra)
Num ano verdadeiramente rico em antologias repletas de bandas desenhadas de qualidade, os jurados tiveram em consideração duas grandes linhas mestras – por um lado, o equilíbrio das diferentes propostas em cada publicação e, por outro, a adequação das mesmas à linha editorial prevista, quando existente. A obra vencedora foi o número 1 da antologia Umbra, editada por Filipe Abranches e com bandas desenhadas da autoria de Filipe Abranches, Hugo Maciel, João Chambel, João Sequeira, José Carlos Joaquim, Pedro Moura, Sama e Sérgio Sequeira.
Melhor Ilustração Nacional
Mar de Aral – Roberto Gomes (G. Floy/ Comic Heart)
A nomeação extemporânea Mar de Aral, publicada no segundo trimestre de 2019, foi a vencedora do prémio para a Melhor Ilustração Nacional. Desenhada por Roberto Gomes, tendo sido então coeditada pela G. Floy e Comic Heart. O júri salienta a versatilidade de Gomes nas cinco narrativas de Mar de Aral, dado as mesmas se encontraram perfeitamente apropriadas a cada uma das bandas desenhadas.
Melhor Argumento Nacional
Toutinegra – André Oliveira (Polvo)
A nomeação extemporânea Toutinegra, com argumento de André Oliveira e editada pela Polvo no quarto trimestre de 2019, foi a obra galardoada com o Prémio de Melhor Argumento Nacional. A perda, a saudade e a solidão são algumas das temáticas abordadas pelo argumentista, pontilhadas por laivos de fantasia, na qual se destaca a estruturação da história que Oliveira quer contar.
Melhor Publicação Nacional com Distribuição Alternativa
Conversas com os Putos e os Professores Deles – Álvaro (Insónia)
Relembra-se que consideramos Distribuição Alternativa as publicações que não usam como canais de distribuição nem as livrarias nem os pontos de venda de periódicos. A técnica e mordacidade de Álvaro na campeã de verão, Conversas com os Putos e os Professores Deles, editada pela chancela Insónia, aliada à já referida crítica à sociedade portuguesa, contribuíram para a escolha da obra como vencedora da categoria de Melhor Publicação Nacional com Distribuição Alternativa. É também a prova de que o Humor tem a mesma possibilidade que os demais géneros de competir nas diversas categorias, sem ser empurrado para nenhum gueto.
Melhor Publicação Nacional com Distribuição Comercial
Einstein, Eddington e o Eclipse: Impressões de Viagem – Ana Simões & Ana Matilde Sousa (Chili Com Carne)
O Prémio de Melhor Publicação Nacional com Distribuição Comercial foi atribuído à campeã de outono de 2019, Einstein, Eddington e o Eclipse: Impressões de Viagem, da autoria de Ana Simões e Ana Matilde Sousa (aka Hetamoé), editada pela Chili Com Carne. Se o argumento e ilustrações de outras obras se distinguiram nas categorias respetivas, o conjunto do trabalho desenvolvido nesta obra é, sem qualquer dúvida, maior do que a simples enumeração dos elementos deste. Não só se trata de uma importante documentação histórica das expedições científicas a propósito do eclipse solar de 1919, como a BD revela um domínio absoluto quer na construção do argumento quer no planeamento e execução gráfica, apresentando ao leitor uma relato cativante com arte deslumbrante. De igual importância é que a constante experimentação gráfica, com utilização frequente de recursos fotográficos, não dificulta a leitura ao leitor pouco conhecedor dos signos de banda desenhada, cumprindo o propósito de cativar um público abrangente. É um vero exemplo!
Congratulamos todos os vencedores! Agradecemos ainda a todos os nomeados o trabalho e empenho que tornou tão rico o ano de 2019. Relembramos que, para além destas obras, muitas, muitas outras merecem a atenção dos leitores habituais e pouco habituais deste meio que é a banda desenhada, destacando o nosso site mensalmente um conjunto de dezenas de propostas onde constam as melhores leituras e releituras que a equipa nuclear do Bandas Desenhadas vai realizando ao longo do ano.
Quanto aos Prémios Bandas Desenhadas, em junho divulgaremos os Nomeados de Inverno de 2020 (obras publicadas entre 1 de janeiro e 31 de março de 2020).
Boas leituras!
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.