Relendo a obra dupla de Francisco Sousa Lobo.
Ler o Nuvem | Deserto de Francisco Sousa Lobo, para mim, sabe a um bom documentário, onde aprendo e saio do sofá com a sensação de pousar, ali mesmo, alguma dor. Talvez existencial, mas nem vou muito por aí. Nem sei bem por onde vou, é justo. Se fosse criança, sabia a um sábado entre a catequese e a biblioteca e a sensação de procura onde pousar as futuras dúvidas que começam a saltitar na consciência.
Deserto fala sobre a vida na Cartuxa de Évora e pode, à partida, parecer uma grande seca, mas um bom domingo antecipa a segunda e pode dar para chorar. Assim como a vida de um monge. Fala de um lugar onde pousar a dor. Para mim, claro. Parece fácil mas poucas pessoas acham piada ao silêncio. Eu, incluída. Dá medo e insegurança. Para outros, talvez a verdade seja mais silenciosa que barulhenta. Verdade? O silêncio a ocupa e dá nisto, no Belo. Ou Deus. Contudo, lá estou eu a divagar. E falo no Deus, no lugar que incluiu o bem e o mal. Tudo e nada. O Diabo como Deus e vice-versa. Um no todo. E o todo num. O lugar que bem pode ser o Universo. Mas estou a divagar sobre a Nuvem e “uma Orelha que Vê”. Frase tão bonita como a escada que leva ao céu, ou às estrelas. Que bem pode “meter” medo.
Como o silêncio.
Mas para aliviar:
“os meus amigos dizem que não há deus.”
(…)
“e o silêncio não é não falar…isso não é silêncio”
Deserto / Nuvem
Francisco Sousa Lobo
Editora: Chili Com Carne
Coleção: LowCCCost n.º 6
Ano: 2017
Páginas: 64 páginas impressas a 1 cor e 124 impressas a 2 cores
Formato: split-book
Dimensões: 16,5 x 23cm
Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.