Sexualmente Inatingíveis

Sexualmente Inatingíveis

De volta a Criminosos do Sexo.

Foi em abril de 2017 que a Devir lançou em versão portuguesa o segundo volume de Criminosos do Sexo, intitulando-o de Dois Mundos, Uma Polícia (originalmente: Two Worlds, One Cop). O volume, originalmente publicado pela Image Comics em fevereiro de 2015, compila os números 6 a 10 e continua do ponto em que ficara o anterior. Matt Fraction no argumento, Chip Zdarsky na arte, a dupla continua a sua cómica série erótica até aos dias de hoje, com previsão para o lançamento do sexto e último volume nos EUA em setembro de 2020.

O bom humor e a faceta mais “brincalhona” dos autores não faltam novamente neste volume. Desde as pequenas referências escritas às próprias dedicatórias, que podemos ver já no primeiro, Fraction e Zdarsky não falharam para com os fãs.

Após um primeiro volume de Criminosos do Sexo, que conclui com o falhanço de Suzie e Jon na tentativa de assalto ao banco onde o último é empregado, estes precisam agora de encontrar uma nova solução ou… Talvez assentar por uns tempos.

É esse o motor de arranque da segunda parte da série e, se durante o primeiro volume tivemos a fugaz chama amorosa e sexual bem acesa, agora temos um ambiente completamente diferente e, apesar de não haver falta de vinhetas e vinhetas de sexo, a vida sexual de Jon e Suzie abrandou e quase estancou.

Suzie perdeu a biblioteca para o banco, que recusou o empréstimo para a sua hipoteca, e Jon continua a viver o pesadelo dos seus problemas de autocontrole. Com isto, o casal decide dar um tempo de pausa, embora nunca tenham entendido muito bem se era isso que estavam realmente a fazer.

Os relatos dos dois são muito interessantes e, novamente, como no volume anterior, cá temos as relações pessoais, os diálogos e os pensamentos dos personagens a serem explorados maravilhosamente.

Como referi no artigo do primeiro volume, a premissa não é genial, mas suficientemente interessante para manter o leitor agarrado e, perante toda esta paródia, e mais os suspenses que Fraction nos dá em cada número, vai deixar o leitor a querer sempre mais. Dificilmente não revemos a nossa vida nas palavras e atitudes, quer de Jon, quer de Suzie, ou até de um outro personagem. No fundo, funciona quase como com uma novela, onde nos identificamos com as ações e isso, de certa forma, nos mantém agarrados e interessados para saber como se vai desenvolver. Má analogia? Talvez.

O que quero dizer é que, quer seja em relação à vida sexual, ao campo amoroso e os seus típicos enredos ou até ao passado da puberdade, certamente haverá algo com que o leitor se identificará, quanto mais não seja pelo humor. Quem não leu e ficou a pensar: “Eish, tal e qual!”?

Acredito que Fraction ganhou aqui muitos fãs pela empatia que demonstra pelos leitores. Um ponto fulcral na sua escrita e, sem dúvida, muito bem desenvolvido. Temos, ao fim de dois volumes, a certeza de que os autores conseguiram criar muito bem um ambiente capaz de nos envolver enquanto leitores e de nos deixar, quanto muito à espera de ver a resolução que lhe será dada.

Num volume que nos apresenta uma fase menos boa do relacionamento amoroso de Jon e Suzie, ficamos a aprender um pouco mais de cada um individualmente. Os seus receios, as suas procuras, as suas fraquezas e, acima de tudo, vemos onde está a maturidade e capacidade de ultrapassar problemas de cada um. Onde muitos falham no amor e na vida sexual, Jon e Suzie tentam dar-nos uma lição sobre o que é realmente importante.

Adivinhe-se só: afinal há mais pessoas com as mesmas capacidades dos nossos personagens principais… Mais do que apenas os polícias. Bastantes, na verdade. Jon e Suzie preparam-se para encontrar tantos quanto possam e convencer os mesmos a unirem-se para derrubar o “regime fascista” da polícia do sexo.

Criminosos do Sexo é uma série que não dispenso.

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