Desvendando os nomes esquecidos de Potter’s Field.
Potter’s Field: O Cemitério dos Esquecidos é uma edição G. Floy, publicada em fevereiro de 2018. Mark Waid juntou-se ao astro em ascensão, Paul Azaceta, numa curta edição da Boom! Studios com 3 números em 2007 e um one-shot, lançado, mais tarde, em 2009.
O livro começa com uma introdução muito bem formulada e explicativa, escrita por Greg Rucka. Diria mesmo que a introdução é, por si mesma, uma resenha muito boa, tendo analisado resumidamente o que se passa com o argumento e arte da obra e as sensações que dela são passadas.
Começo por um dos aspetos que achei menos positivos na apresentação das páginas. Obviamente me poderão chamar picuinhas por isso, mas a questão a que me refiro é a falta de espaço nas margens. Esta não é uma questão da versão portuguesa e, fiz a minha pesquisa, concluindo que as páginas foram projetadas dessa forma originalmente. Tal aspeto implicou em mim uma certa sensação, não diria de sufoco, mas de aperto, talvez. Sensação essa que foi estranhamente contrariada no diálogo.
Ou seja, as páginas que à primeira vista me pareciam apertadas, com pouco espaço nas margens, tornaram-se estranhamente bem pausadas e com um ritmo compassado à medida que ia lendo.
John Doe é o nome atribuído ao misterioso protagonista desta obra. Um detetive que procura trazer justiça e dignidade aos anónimos enterrados em Potter’s Field, que, por conta-própria, investiga os casos em busca de um nome para marcar nas suas campas.
As razões para tal procura não são justificadas e, apenas no final do one-shot, podemos tecer uma interpretação daquilo que possa ser a causa que levou o protagonista a esta demanda individual. Ainda assim, John Doe tem parceiros que o ajudam nos casos e mantêm a sua identidade e a sua demanda em secretismo. O que move estes seus “comparsas” também não é revelado durante o decorrer da obra, deixando apenas a especulação no ar.
John Doe é, como Greg Rucka menciona na introdução, uma espécie de vigilante justiceiro, que age entre as sombras da noite, pura e simplesmente em nome da justiça. Remonta até à era pré-super-heróis referida também por Rucka.
A arte de Paul Azaceta parece ter sido escolhida a dedo. Este artista terá tido, já antes, a sua participação em várias obras que transmitem uma sensação semelhante à pretendida. Não tendo sido este um dos seus trabalhos que mais me fascinou, é sempre impossível ficar indiferente à arte de Azaceta.
Quanto a Nick Filardi nas cores, o seu trabalho também não está nada mau, mas de alguma forma não senti a sinergia que esperava entre artista e colorista, apesar da imagem escura e misteriosa que procuravam ter sido passada de forma eficaz. A obra acaba por conseguir até captar o ambiente de thriller noir que lhe é recorrentemente atribuído e é-lhe dada uma nova tonalidade, aplicando a temática ao século presente.
Embora a leitura de Potter’s Field seja fluente e, inclusivamente, rápida, parece que Waid começa a agarrar-nos nos momentos finais e nos tira o doce, logo quando ainda mal o tínhamos provado. John Doe ficou com muitas questões em aberto e passa-nos a sensação de que ainda tinha muito que mostrar, mas que fica por ali. Atrevo-me até a pensar que poderia ter sido uma série com continuação se se tivesse proporcionado a situação.
Não diria que se torna uma desilusão e, para quem leu, possivelmente entenderá o que quero dizer com as minhas palavras, mas Potter’s Field fica a saber a pouco e tendo ou não sido essa a intenção do autor, parece que nos deixou uma história mal acabada. Embora a conclusão seja prudente, parecem ficar alguns nós por atar. Não que fossem imperativamente necessários, mas que teriam certamente alimentado o enredo de outra forma… Confuso? Pois…
Aproveito o último parágrafo para esclarecer que nunca fui muito fã de bandas desenhadas de género policial, mas posso apreciá-las e devo fazê-lo. Em suma, não há nada como um bom livro, independentemente do género. Para os fãs deste género literário, não dispensem as vossas próprias conclusões quanto a esta obra.
Rafael Marques tem 24 anos durante o ano de 2020. É músico em Lisboa e faz disso a sua profissão. A restante parte do seu tempo é dedicada ao sono, ao gaming e à leitura de banda desenhada, que terá descoberto como uma das suas maiores paixões entre 2018 e 2019, quando se envolveu numa relação com uma artista/ilustradora. Rafa é um apaixonado por tudo aquilo em que trabalha. Em segredo, escreve argumentos para banda desenhada, que são executados em belas pranchas pela sua companheira. Ainda sonha um dia vir a ser mordido por uma aranha radioativa…