
Relendo Down Below de Sofia Neto.
Sempre quis ter uns binóculos. Ser voyeur não tenho a certeza. Uma espécie de viagem marada. Com consequências. Não saímos incólumes, em especial se formos descobertos.
Este fanzine de cantos arredondados e bonito convida-nos a ver através dos binóculos da autora.
“Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara” diz Saramago.
A ser um mero espectador? A não ser?
Bom, Platão falava numa caverna e nas sombras projectadas por uma fogueira. Fora da caverna existe a luz do dia, uma outra realidade. Se contarmos muitas vezes uma mentira, ela torna-se verdade, uma realidade. Uma outra realidade. Existem, sem dúvida, realidades maiores, assertivas, corajosas. Talvez o ser e o parecer mostrem essa diferença. Talvez, descobrir.
A história de Sofia Neto, parece-me ser algo apocalítpitca. Parece-me ser…
Mas não sei. Um meio de transporte saído de um Mad Max: um triciclo flutuante. E é preciso descer, descer para dentro de um oceano. Talvez lá existam respostas. As expressões das personagens são algo psicóticas, de olhos abertos e fixos. Assustam.
Talvez o fim esteja mesmo aqui, a acontecer. Talvez não passe de mais um fim de ciclo. Mais uma volta. Talvez não fique tudo escuro, no fim. O mais provável é que fique.
Que seja escuro e frio. Que o sol se vá.
Down Below
Sofia Neto
Editora: Mundo Fantasma
Páginas: 16, em risografia
Depósito legal: 399067/15

Costumava desenhar de joelhos, com os braços em cima da cama quando era pequenita e mais tarde numa mesa de escola. Os joelhos agradeceram. Cresci com banda desenhada e criei o fanzine “durtykat” em 2001. Viajei quase à pala e fui colaborando e comunicando através de desenhos, nascendo assim as Nits, em 2014. Voltei a desenhar de joelhos mas eles não se têm queixado. A última exposição foi na Galeria Mundo Fantasma, no Porto, no ano de 2019.