Entrevista a Paulo J. Mendes

Entrevista a Paulo J. Mendes

Paulo J. Mendes viu o seu primeiro álbum de banda desenhada ser editado este ano pela Escorpião Azul. Realizamos esta entrevista, planeada inicialmente para fevereiro (a pandemia, a pandemia…), onde se aborda não só O Penteador mas também a sua iniciação nos fanzines e envolvimento em projetos e organizações associativas relacionadas com a banda desenhada, tais como a sua colaboração nas primeiras edições do Salão Internacional de BD do Porto.

Nuno Pereira de Sousa: A tua incursão no meio da BD deu-se através da Comicarte. Em que é que consistia este projecto?
Paulo J. Mendes: O projecto Comicarte nasceu sob a forma de um fanzine, criado por um bando de miúdos que adorava BD e queria pôr as mãos na massa, fosse desenhando ou escrevendo sobre o tema. Se a memória não me falha, o ano era 1982, tinha eu os meus 16 anos.

NPS: Qual era a relação da Comissão de Jovens de Ramalde (CJR) com a banda desenhada e como te associaste àquela?
PJM: Não me lembro exactamente em que ano o Comicarte, enquanto fanzine, se associou à CJR. Eu ia acompanhando as coisas mais como aspirante a desenhador e estes aspectos mais “administrativos” passavam-me sempre um bocado ao lado. Penso que havia pessoas de ambas as estruturas que já se conheciam, tinham interesses comuns e resolveram juntar esforços, dispondo assim de mais meios para levar a cabo iniciativas de maior vulto, nomeadamente o Salão Internacional de BD do Porto. Com o passar do tempo, a colaboração mútua foi-se estreitando e fizeram-se coisas muito interessantes, de que recordo por exemplo um Encontro Luso-Galaico de Banda Desenhada, a exposição itinerante “BD Portuguesa Hoje”, a criação da própria BDteca na sede da CJR, entre muitas outras coisas. A páginas tantas, o Comicarte já era menos o nome de um fanzine e mais uma “marca”, o núcleo de BD indissociável da CJR. Foram tempos muito bons, produtivos e enriquecedores, com pessoas excepcionais.

NPS: Apresenta-nos o fanzine Comicarte.
PJM: Foi o primeiro lugar onde vi desenhos meus publicados, algo que para um miúdo de 16 anos era uma coisa extraordinária, num tempo em que não existiam computadores e muito menos internet e redes sociais. Infelizmente, os exemplares de que dispunha foram-se perdendo em caixotarias e mudanças de casa, pelo que só posso evocar o que me ficou na memória. Cada número teria umas vinte e poucas páginas e trazia sempre bandas desenhadas de cinco ou seis autores, em vários géneros e estilos, alguns artigos de opinião ou críticas ao que ia saindo na época, um ou outro cartoon. Tudo a preto-e-branco e texto escrito à máquina, reproduzido com os meios rudimentares daqueles tempos em que a fotocópia era rainha e senhora. Em suma, um belo e extraordinário objecto, o “nosso” fanzine pelo qual dávamos o litro e que muitas vezes íamos vender para a rua. Cada número que saía era um acontecimento.

NPS: Participaste em 8 números do Comicarte com bandas desenhadas tuas. Que temáticas te interessava abordar então?
PJM: Não tinha interesses definidos, era um miúdo a experimentar e sem um registo coerente, quer em histórias, quer em estilo e materiais. As ideias surgiam em função daquilo que eu próprio ia vivenciando e conhecendo. A primeira história era quase infantilóide, ao estilo “guerra e aventuras”; depois comecei a fazer coisas mais dentro de um humor surrealista, género que entretanto começava a apreciar. Na primeira usava aparo e tinta da china, depois foram marcadores, mais tarde esferográfica Bic. Escusado será dizer que tudo era ainda muito limitado, tosco e incipiente. Estava ainda à procura de um registo próprio, que não cheguei a encontrar porque entretanto parei.

NPS: O Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto não é um evento conhecido entre as gerações mais recentes. Apresenta aos leitores mais novos em que consistia o SIBDP, incluindo alguns dos principais autores expostos, autores presentes e atividades realizadas.
PJM: Da primeira edição de 1985 até à sexta em 1991, a última em que participei (haveria mais cinco até 2001 e um “Salão Virtual” em 2005), houve uma enorme evolução. As primeiras três tiveram lugar na Casa D. Hugo, um espaço cultural que a Câmara do Porto tinha nas imediações da Sé. Depois, o crescimento trouxe a mudança para o Mercado Ferreira Borges, que ficou sempre como o espaço emblemático do Salão. Com mais ou menos variantes, em termos estruturais havia exposições temáticas, de autores específicos, de trabalhos a concurso, havia as incontornáveis bancas de venda de livros e produtos associados, os espaços de tertúlias e conferências, café, e outras coisas de que me esqueço… Lembro-me de algumas actividades exteriores ao próprio Salão, nomeadamente uma pequena feira do livro de BD na Avenida dos Aliados (numa altura em que chovia desalmadamente, inclusive dentro dos pavilhões) salvo erro na 3.ª edição, ou o “eléctrico da BD”, pintado com figuras alusivas, que circulou pelo Porto durante a 5.ª edição. No que toca a autores, tenho bem presente o primeiro Salão que teve como convidados o Arlindo Fagundes e um certo jovem galego, praticamente desconhecido mas muito prometedor, chamado Miguel Ángel (Miguelanxo) Prado. Nos seguintes, andaram por lá o José Ruy, José Garcês, Pedro Morais, Morris, Abulli, Bézian, Victor Mesquita, Eugénio Silva e tantos outros, entre veteranos e (ainda) novos, a quem peço desculpa de não mencionar por já não me lembrar… Depois da minha saída – e aqui já tive que ir ao Google – por lá passaram entre outros Schuiten e Peeters, Étienne Davodeau, Peter Kuper, Charles Berberian, Lewis Trondheim…

NPS: De que forma colaboraste na organização do SIBDP?
PJM: O meu trabalho era sobretudo “braçal”, uma vez que não tinha jeito para a parte de contactos, patrocínios, reuniões, parte essa que estava muito bem entregue. Nunca faltava o que fazer, desde alombar com coisas até pintar expositores, pendurar pranchas, etc. Fazia-se o que fosse necessário. Nas últimas edições em que participei estava mais alocado à pintura de cenários para algumas das exposições, os quais por vezes eram de dimensões generosas e para ficarem prontos a tempo obrigavam ao trabalho duma equipa que eu tinha que coordenar. A tarefa mais bizarra que alguma vez me calhou foi, ainda no primeiro Salão, quando fui incumbido de ir esperar o Arlindo Fagundes, que vinha de carro desde Braga, tendo eu que me posicionar de forma visível na entrada da cidade com uma tabuleta a dizer “Arlindo Fagundes”, para que ele me apanhasse e eu o pudesse encaminhar. Improvisos de um tempo em que telemóveis ainda eram ficção científica, mas a verdade é que funcionou.

NPS: Conta-nos outros episódios interessantes que tenham ocorrido no âmbito do Salão.
PJM: Aconteceram-me algumas coisas engraçadas, vou contar duas. A primeira, na Casa D. Hugo, durante o primeiro Salão, foi na noite que antecedeu a abertura, quando foram descarregados os livros para a área de vendas. Álbuns e álbuns de toda a banda desenhada que alguma vez quis ler, em quantidades copiosas e ali à disposição. Fui a casa buscar um saco-cama e passei a noite com mais uns quantos naquela verdadeira caverna de Ali-Babá, regalando-me com toda a leitura de que consegui empanturrar-me. A segunda, na sexta edição, foi também numa das noites que antecediam a abertura, quando a urgência em ter tudo pronto obrigava a longos serões, quando não mesmo noitadas inteiras.  Deviam ser umas duas da manhã, eu estava a pintar um cenário num dos cantos mais recônditos, e resolvi fazer uma pequena pausa para descansar. Sentei-me no chão e quase de imediato adormeci. Quando abri os olhos, o local estava às escuras e sem vivalma, toda a gente se tinha ido embora sem dar por mim… E para ali fiquei, fechado a sete chaves no Mercado Ferreira Borges até ao raiar do dia, altura em que as senhoras da limpeza apanharam um enorme susto.

NPS: Em que consistia o fanzine Düdü, cocriado por ti?
PJM: Não era um fanzine convencional. Tinha por base uma única história (chamemos-lhe assim, porque era um amontoado quase ininteligível de coisas feitas ao sabor do momento e por puro gozo), que se prolongava ao longo dos quatro números e em que cada um dos autores fazia uma prancha alternadamente. O personagem que dava o nome à coisa era um mercenário, espécie de versão efeminada do Rambo, uma vez que a ideia era gozar com esse tipo de filmes carregados de testosterona que estavam tão em voga na época. O resto era preenchido com passatempos deliberadamente idiotas, entrevistas ainda piores, pastiches de anúncios, cartas de leitores que a “redacção” tratava abaixo de cão, tudo num registo de total bandalheira a imitar vagamente uma revista infantil – na verdade, não lhe chamávamos “fanzine” mas sim “revista” – e com algumas tiradas politicamente incorrectas que hoje causariam arritmias aos puritanos das redes sociais. A própria ficha técnica não tinha pés nem cabeça, e nem os números das páginas eram convencionais. Foi publicado entre 1990 e 1991 e saía quando saía. O n.º 3, por exemplo, saiu na Páscoa de 91 e era um Especial Natal. Estava previsto um quinto e último número, em que todos os personagens morriam – Era um “Especial Morte” – mas nunca se finalizou. Os outros dois co-autores, o João Carlos e o João Ornellas, eram meus amigos na escola, e começou como uma brincadeira que fazíamos no café entre aulas, em folhas quadriculadas, que anos mais tarde transpusemos para o formato fanzine. Para nossa surpresa, saíram críticas bastante favoráveis, houve pedidos para subscrever, chegámos a ter um espaço no 6.º SIBDP, para não falar de um interessante intercâmbio com o Geraldes Lino, que achava um piadão e nos enviava em troca o seu Eros, acompanhado sempre de uma carta no mesmo teor jocoso do Düdü.

NPS: Em 1991, focaste o teu interesse na ferrovia e abandonaste a BD. Eram áreas de interesse que não podiam conviver? Ou tinhas realmente perdido o interesse pela BD?
PJM: Não perdi completamente o interesse pela BD, a questão foi ter aparecido outra coisa – a ferrovia – sob forma de avalanche, ocupando repentinamente todo o meu espaço e atenção ao reavivar um fascínio que me vinha da infância, quando na estação próxima de minha casa via circular e manobrar locomotivas a vapor, rebocando material de todas as cores e feitios, algo que uma criança jamais esquece. Mas isso acabou abruptamente de um ano para outro, ficando eu com uma enorme curiosidade por saciar. A oportunidade de o fazer apareceu em 1990 na visita a uma exposição sobre o tema na Casa do Infante, onde me apercebi que havia imensos registos fotográficos dessa época de ouro, e outras pessoas que gostavam da mesma coisa ao ponto de se associarem, sendo que de imediato quis fazer parte dessa tribo. Penso que a BD e a ferrovia podiam ter coexistido perfeitamente e até beneficiado uma com a outra, não fosse o facto de eu na altura ser um tipo sem grande juízo, sempre pronto a ceder aos impulsos e paixões do momento sem olhar para trás.

NPS: Até esta fase, a que principais bandas desenhadas tinhas dedicado a leitura?
PJM: Basicamente, tudo o que fosse franco-belga. Nunca me debrucei muito sobre coisas oriundas de outras escolas e latitudes, o que hoje lamento porque me poderia ter dado uma bagagem diferente, alargado horizontes e implantado o vírus da BD de forma mais sólida, dando-me mais incentivo para continuar a explorar e praticar.

NPS: Expressaste que foi com outro tipo de obras que retomaste o interesse pela BD em 2017. Mencionaste que descobriste as “novelas gráficas”. Como para nós, esse é um termo sem significado, que tipo de banda desenhada começaste então a ler que não lias antes?
PJM: Desconhecia por completo as especificidades e a discussão à volta do termo “novela gráfica”. Na minha visão de recém-chegado, quiçá demasiado simplista, foi sempre e apenas um formato distinto do álbum, sendo este último, a par com as revistas, o único que conhecia na altura do meu desligamento. Pela sua maior densidade, tanto na forma como no conteúdo, supostamente mais próximo da obra literária, achei que a “novela gráfica” permitia um usufruto mais demorado e substancial, uma vez que álbuns e revistas são algo que leio num ápice. Verifico agora com curiosidade que haverá “álbuns” que li nesse tempo e gostei muito, e que sob este prisma se podem considerar verdadeiras “novelas gráficas” (Silêncio do Comès ou Os Companheiros do Crepúsculo vol. 3: O último canto das Malaterre do Bourgeon…) enquanto certas “novelas gráficas” que tenho vindo a ler recentemente mais se aproximam do formato de álbum (Os Guardiões do Louvre do Taniguchi ou as Memórias de um Homem em Pijama do Paco Roca, por exemplo). Admito que isto seja tudo muito discutível, e espero ter no futuro uma ideia mais bem formada sobre o assunto. A partir de 2017, o meu interesse reacendeu-se com a leitura de algumas (e vamos continuar a chamar-lhes assim por agora) novelas gráficas, nomeadamente da colecção da Levoir que saiu com o Público e que um amigo me começou a emprestar, e é praticamente o que tenho lido. Adquiro uma coisa ou outra de vez em quando, tenho outras debaixo de olho para dias de melhor liquidez. A minha cultura literária de BD é muito escassa e tenho muita apetência para, também por aí, recuperar o tempo perdido.

NPS: E qual a razão de denominar O Penteador como uma “desnovela” em vez de uma novela?
PJM: Foi por brincadeira e para me demarcar da suposta cortina de seriedade que o rótulo implicaria, em conformidade com o desbragado teor da história. Aparentemente, funcionou muito bem em termos de “marketing”.

NPS: A pintura de azulejaria influenciou O Penteador?
PJM: Não influenciou de todo. Apesar de ter sido a minha actividade profissional ao longo de 16 anos, a  azulejaria é um acidente de percurso, uma página que estou satisfeito por ter virado.

NPS: E a pintura a aguarela que praticaste entre 2002 e 2013?
PJM: Aqui já é outra conversa. O tipo de pintura que fazia nessa altura tinha por tema a arquitectura tradicional, num registo bastante detalhado, inicialmente tendo por base fotografias que eu próprio tirava, e posteriormente criando lugares imaginários baseados nessas mesmas arquitecturas e nas paisagens nortenhas. As primeiras eram quase hiper-realistas, as segundas eram mais próximas da ilustração, com inclusão de figuras humanas e animais, num registo que algumas pessoas achavam já próximo da banda desenhada. Não só aprendi bastante com estas experiências, como fui buscar muito desse imaginário para os cenários d’O Penteador.

NPS: Concordas que as ilustrações de “O Penteador” seriam bastante diferentes se não te tivesses dedicado ao urban sketching nos últimos 3 anos?
PJM: Sem dúvida alguma: O Urban Sketching (USk) é a melhor ferramenta que poderia recomendar a qualquer desenhador, seja ou não de BD, sobretudo quando praticado com frequência e disciplina. Os desafios que apresenta sob a forma de “equações visuais” que é preciso resolver no momento e no local, desenvolvem como mais nenhuns a capacidade de observação, a memória, a agilidade mental e manual, o poder de decisão e a capacidade de lidar com o erro. As lições que se aprendem à própria custa sobre luz e sombra, cor, perspectiva, proporções, composição, são inestimáveis. Só tenho colhido benefícios e experiências boas da prática do USk e do convívio com outros praticantes, e posso dizer que mudou a minha vida numa altura em que já me começava a conformar com uma estagnação à qual me julgava condenado. Não consigo imaginar como seria O Penteador sem essa preciosa bagagem, ou mesmo se existiria de todo…

NPS: O Penteador, a nível de paisagem e arquitetura é uma pequena amostra de Portugal, com linhas arquitetónicas de várias regiões a fundirem-se num único local. Interessava-te que o leitor simultaneamente reconhecesse e estranhasse a sua presença?
PJM: O meu imaginário é composto do tipo de paisagens que ali aparece, e a história encaixava-se perfeitamente nele. Nunca pretendi criar especificamente uma amostra de Portugal, ou um Portugal paralelo, havendo até detalhes que remetem para outros lugares: Exemplo disso são os eléctricos que aparecem ao longo da história, mais inspirados em modelos que circularam no centro da Europa em meados do século XX, do que no típico eléctrico português que conhecemos de Lisboa ou do Porto. No fundo, senti-me à vontade para imaginar tudo o que me apeteceu atirar lá para dentro, e o facto de nunca ter viajado muito talvez ajude a que a maior parte desse todo seja visualmente bastante “aportuguesada”.

NPS: Concordas que a obra evoca uma nostalgia por tempos mais bucólicos e simples?
PJM: Arriscaria dizer que tenho por lá dois tipos de nostalgia. A de um tempo em que as paisagens eram bem menos estragadas do que são hoje, mas essa é uma nostalgia puramente visual e tem a haver com o meu próprio gosto, não se trata daquele saudosismo do “antigamente é que era bom”, porque sabemos muito bem que política e socialmente não o era de todo. Depois há também a nostalgia ancorada nas minhas vivências pessoais da adolescência, quando percorria com amigos os lugares recônditos na montanha ou do interior nortenho, gozando de uma liberdade hoje difícil de imaginar, e vivenciando experiências que dariam elas próprias uma interessante história, nostalgia esta que se reflecte em muito do comportamento, irreverência e companheirismo dos personagens de O Penteador.

NPS: A narrativa é pontilhada pelo absurdo, o nonsense. É uma técnica narrativa pela qual tens uma predilecção especial?
PJM: Desde sempre. Gosto de todo o tipo de humor não convencional, desde nonsense e absurdo ao simplesmente disparatado, seco, ou politicamente incorrecto. Não me consigo imaginar a fazer coisas sérias, embora nunca possa dizer desta água não beberei…

NPS: Concordas que a estrutura de O Penteador é semelhante à das ladainhas, na qual se vão repetindo umas partes para acrescentar um elemento novo e assim sucessivamente? Se sim, o que te levou a escolher tal formato?
PJM: Sim, concordo. É um pouco como na música, variações à volta de um mesmo tema; nesse aspecto, não há ali nada de realmente novo. Não foi algo planeado, à medida que ia criando a história, percebi que esta era a estrutura que se ajustava melhor ao desenrolar dos acontecimentos, tornando alguns pontos-chave da narrativa algo previsíveis, mas de uma forma em que o leitor quase ficaria desapontado se assim não fosse.

NPS: Que materiais utilizaste na elaboração da obra?
PJM: Para o traço utilizei as minhas adoradas Uniball Eye, uma esferográfica que se compra em qualquer lado e também utilizo no urban sketching. Gosto muito da forma leve e fluída como corre no papel. Para os cinzentos, utilizei um lápis de grafite aguarelável da Viarco, que depois diluía com um pincel de água. Como gosto de trabalhar depressa e não passar muito tempo à volta do mesmo, estas ferramentas serviram-me lindamente. O papel já foi outra história, apesar de ser um papel que adoro, de 220g da Winsor & Newton, muito suave, agradável de trabalhar e que permite alguns maus-tratos. Contudo, não é completamente branco e tem algum grão, o que acabou por ser uma dor de cabeça para quem teve que tratar as imagens posteriormente, pelo que para a próxima terei que considerar outra opção. Estou a pensar no “Bristol”, mas aceito sugestões.

NPS: Quando te perguntam de que trata O Penteador, o que costumas responder?
PJM: Copofonia. É uma história em que toda a gente passa a vida nos copos de uma ponta à outra. É mesmo isso que costumo responder, uma história em que é só copofonia.

NPS: O que podes revelar aos nossos leitores sobre a tua próxima obra?
PJM: Gostava de estar mais adiantado e tenho muito trabalho pela frente. Estou ainda na fase de desenvolver a história, com muitas arestas por limar, pontas soltas que ainda não resolvi e um final que já sei mais ou menos como vai ser, mas ainda não me está a sair como eu queria. Vai estar visualmente ambientada numa mistura dos anos 60/70 do século passado e novamente num território totalmente imaginário, desta vez uma vila à beira-mar. Também assentará em boa parte, mas não só, no humor absurdo, que aqui e ali acredito que possa vir a ser um pouco menos consensual. O factor nostalgia vai estar mais presente devido à especificidade do tema. Com um toque de realismo a misturar-se com o absurdo e a estranheza que daí resulta, vai ser uma história estranha sobre coisas estranhas. Está a sê-lo até mesmo para mim, uma vez que parece ter ganho vida própria e parece querer levar-me por onde lhe apetece, nem sempre pelos caminhos mais confortáveis.

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