O primeiro semestre de edição de banda desenhada em Portugal em 2020.
As boas notícias são que se verificaram as expetativas de que junho fosse um mês com mais lançamentos de banda desenhada do que maio e abril, com a retoma económica após o confinamento.
No entanto, tal como referimos no final do mês passado, a região de Lisboa e Vale do Tejo viu adiada a 3.ª fase de desconfinamento devido aos surtos existentes na região, o que significa que um número significativo de livrarias continuou encerrado até o dia 15 de junho.
Se a abertura das mesmas, foi mais um passo no bom caminho, uma semana depois, essas mesmas livrarias e demais estabelecimentos comerciais viram o seu horário ser reduzido, passando a encerrar às 20h00, dada a incapacidade de contenção dos surtos.
A importância estratégica das livrarias da Grande Lisboa, para além do seu número, passa por, para algumas das editoras de banda desenhada, serem as responsáveis por grande parte das vendas. Por exemplo, no caso da G. Floy, José de Freitas refere que “representam certamente mais de metade das suas vendas, podendo chegar aos dois terços das mesmas.“
Entretanto, julho marca o início da silly season. Tendo muitas editoras visto os seus planos editoriais serem adiados, veremos se o singular julho de 2020 será um mês com mais ou menos edições do que junho.
Em junho de 2020, identificou-se a edição de 22 publicações de banda desenhada (publicações com BD em mais de 50% das suas páginas). Das publicações distribuídas em junho nos pontos de venda de periódicos, somente 2 têm ou terão como exclusividade este canal de distribuição. Todas as demais, têm concomitantemente ou terão posteriormente distribuição em livrarias.
Por outro lado, em junho foi identificada 1 publicação de BD com distribuição alternativa no nosso país, isto é, que não é distribuída no canal livreiro a nível nacional nem em pontos de venda de periódicos. Conclui-se então que 5% das publicações identificadas não teve distribuição para o grande público.
Em resumo, quanto ao canal de distribuição:
- Canal livreiro: 19 (alguns dos quais, só foram ainda comercializados por contacto direto com a editora ou distribuídos em bancas ou em eventos)
- Pontos de venda de periódicos, em exclusividade: 2
- Distribuição alternativa a livrarias e bancas, em exclusividade: 1
Eis o número de publicações identificadas, segundo o formato:
- Jornais: 0
- Livros: 22
- Revistas: 0
- Outros (brochuras, etc): 0
Dos 22 livros, eis a distribuição por tipo de encadernação:
- Capa dura: 14
- Capa mole: 8
E a distribuição das 22 publicações por cor de impressão:
- Cores: 19
- Preto: 3
Das 22 publicações de junho, o país de origem tem a seguinte distribuição:
- Bélgica: 2
- Espanha: 1
- EUA: 9
- França: 5
- Japão: 1
- Portugal: 4
A nível das 18 publicações de material estrangeiro, eis as editoras originais:
- Andrews McMeel: 1
- Astiberri: 1
- Canterbury Classics: 1
- Casterman: 1
- Dark Horse: 1
- Les Éditions Albert René: 2
- Éditions Blake et Mortimer: 1
- FLBLB: 1
- Glénat: 2
- Image: 5
- Scholastic: 1
- Shueisha: 1
Quanto ao quinquénio da edição original, as 22 publicações distribuem-se do seguinte modo:
- 1965 – 1969: 1
- 1975 – 1979: 1
- 2010 – 2014: 3
- 2015 – 2019: 13
- 2020: 4
No que toca à originalidade das obras sob o formato de papel no nosso país, das 22 publicações verifica-se a existência de:
- Inéditos mundiais: 4
- Inéditos em Portugal: 16
- Reedições: 2
Eis as editoras das publicações identificadas:
- Arte de Autor: 2
- ASA: 2
- Bubok: 1
- Devir: 3
- Escorpião Azul: 1
- G. Floy: 4
- Gradiva: 1
- Levoir: 1
- Nuvem de Letras: 1
- Planeta Tangerina: 2
- Salvat: 2
- A Seita: 1
- Vogais: 1
Eis as respetivas capas (ordenadas alfabeticamente por editora):
Para esta análise não são contempladas reimpressões. Também não fazem parte desta análise as revistas e livros importados em língua francesa e na norma brasileira da língua portuguesa, distribuídos nos pontos de venda de periódicos.
Quanto à forma como o nosso Observatório contabiliza as edições mensais, tem em conta a primeira forma de comercialização da obra, independentemente do canal utilizado. Deste modo, edições comercializadas através do site ou das redes sociais de uma editora, bem como num dado evento, num determinado mês, são contabilizadas como publicadas nesse mês, independentemente do mês em que venha a ocorrer a eventual distribuição generalizada nos pontos de venda de periódicos ou livrarias.
Por fim, uma breve nota quanto às edições sobre BD. Em junho de 2020, foram identificadas 3 edições, a publicação Revista do Clube Tex Portugal #12 (com duas versões com capas distintas) e o JuveBêdê #79 (que, apesar da data de capa de dezembro de 2019, foi publicado em junho de 2020).
BD PORTUGUESA EM DESTAQUE
Após abril ter sido um marco pela ausência da publicação de banda desenhada portuguesa e em maio terem sido editadas 3 BD nacionais, em junho torna-se a dar um ligeiro aumento.
Atendendo a que, em 2019, 64% da BD nacional publicada em formato físico que identificamos não foi distribuída nem em pontos de venda de periódicos nem em livrarias, a inexistência de eventos dedicados à banda desenhada e edição independente tem contribuído para que o material nacional não corresponda ao 1.º lugar de publicações mensais, distribuídas por país de origem, como frequentemente acontece.
Weak, da autora algarvia Kachisou, a obra vencedora do concurso “Universo Manga” Bubok-ptAnime organizado em 2019, foi finalmente editada, após vários adiamentos motivados pela pandemia de COVID-19.
Por seu turno, outra obra que foi finalmente editada foi Universo Negro, da autoria de Tozé Simões e Luís Louro, após dois planeamentos gorados ao longo de décadas distintas em duas editoras diferentes. A Escorpião Azul solucionou definitivamente a questão, tendo orquestrado o anúncio surpresa da edição no dia do aniversário de Louro.
A Planeta Tangerina regressa à edição nacional de banda desenhada com a publicação de Desvio, o primeiro livro de BD conjunto de Ana Pessoa e Bernado P. Carvalho.
Por fim, a série antológica TLS Series chega ao seu final com o quarto volume intitulado Raízes, pela primeira vez editada por A Seita. Neste último livro, constam trabalhos de Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira e Ricardo Cabral.
BD ESTRANGEIRA EDITADA EM PORTUGAL
Em junho, 4 editoras iniciaram 5 séries estrangeiras em Portugal. A Arte de Autor publicou o primeiro volume de O Castelo dos Animais, da autoria de Xavier Dorison & Félix Delep. A G. Floy iniciou a nova série de Kick-Ass (Image) de Mark Millar e John Romita Jr., bem como a série Sete para a Eternidade, de Rick Remender e Jerome Opeña (contando neste volume com a colaboração de James Harren). A Levoir publicou o primeiro volume da Trilogia do Homem de Pijama, de Paco Roca, embora ainda não tenha confirmado se editará os dois restantes volumes. E, por fim, a Nuvem de Letras começou a publicar a compilação de tiras de Big Nate, da autoria de Lincoln Peirce.
Para além deste lançamento, 6 editoras prosseguiram as suas séries: a Arte de Autor com o segundo álbum de Os Filhos de El Topo; a ASA com um hors série de Blake e Mortimer e o segundo volume de Stranger Things; a Devir com o 16.º volume de Assassin Classroom, o 3.º volume da série dedicada à autora Raina Telgemeier e o 3.º volume de Lazarus; a G. Floy com o 3.º volume de Gideon Falls; a Gradiva com o 4.º volume de Eles Fizeram História; e a Salvat com dois volumes de Astérix: Coleção Integral.
Paralelamente, a G. Floy publicou A Ordem Mágica, que compila a minissérie completa de Mark Millar e Olivier Coipel. Por seu turno, a Planeta Tangerina edita a multipremiada obra A Época das Rosas de Chloé Wary. Por fim, a Vogais publica A Arte da Guerra – novela gráfica, da autoria do britânico Pete Katz, baseada na obra homónima de Sun Tzu.
O ANO DE 2020, ATÉ AO MOMENTO
Adições a março
Apesar do nosso trabalho desenvolvido todos os meses, identificámos com atraso 3 edições de banda desenhada, publicadas em março de 2020.
Por um lado, tratam-se das edições em formato físico da editora Midori, nomeadamente Spectrus – Paralisia do Sono de Thiago Spyked, e Tropicária vol. 1 de Edson Masakiro. Por outro lado, a Polvo editou Aqui Já Houve Algo… do alemão Flix.
A adição destas obras à base de dados altera ligeiramente os dados previamente apresentados sobre o mês de março e do primeiro trimeste e quadrimestre editorial de 2020, pelo que os números totais relativos ao primeiro semestre do ano já refletem esta adição.
O primeiro semestre de 2020
Adicionámos os números identificados em janeiro, fevereiro, março, abril e maio aos números obtidos em junho, para caracterizar o ano editorial no primeiro semestre do ano de 2020.
Total:
- 122 publicações de BD
- janeiro: 24
- fevereiro: 31
- março: 21
- abril: 10
- maio: 14
- junho: 22
Subtotais:
- Livros de BD com distribuição no canal livreiro e/ou bancas: 109
- janeiro: 22
- fevereiro: 27
- março: 19
- abril: 9
- maio: 11
- junho: 21
- Revistas de BD com distribuição no canal livreiro e/ou bancas: 1
- janeiro: 1
- fevereiro: 0
- março: 0
- abril: 0
- maio: 0
- Publicações de BD com distribuição alternativa: 12
- janeiro: 1
- fevereiro: 4
- março: 2
- abril: 1
- maio: 3
- junho: 1
Distribuição:
- Canal livreiro: 96 (alguns dos quais, só foram ainda comercializados por contacto direto com a editora ou distribuídos em bancas ou em eventos)
- Pontos de venda de periódicos, em exclusividade: 14
- Distribuição alternativa a livrarias e bancas, em exclusividade: 12
Cerca de 10% das publicações identificadas não teve distribuição para o grande público.
Formato:
- Jornais: 0
- Livros: 115
- Revistas: 1
- Outros (brochuras, etc): 6
Os livros correspondem a cerca de 94% das publicações de BD. Dos 115 livros, eis a distribuição por tipo de encadernação:
- Capa dura: 77
- Capa mole: 38
A encadernação em capa dura está presente em cerca de 70% dos livros de banda desenhada.
Cor de impressão:
- Cores: 99
- Preto: 23
A impressão do miolo a cores está presente em 81% das publicações de BD.
País de origem:
- Alemanha: 2
- Bélgica: 7
- Brasil: 2
- Canadá: 1
- Espanha: 1
- EUA: 43
- França: 32
- Itália: 3
- Japão: 8
- Portugal: 23
No primeiro semestre de 2020, o país de origem mais representado são os EUA com 43 edições. Segue-se França com 32 edições. Caso se agregue França e Bélgica (39 edições), não superam as 43 edições de material norte-americano. Portugal fica em 3.º lugar, com 23 edições. Destas publicações de material nacional, 8 publicações (35%) não tiveram nem terão distribuição para o grande público.
Editoras originais das 99 publicações de material estrangeiro:
- Andrews McMeel: 3
- Astiberri: 1
- Barba Negra: 1
- Blue Ocean: 1
- Canterbury Classics: 1
- Carlsen: 1
- Casterman: 2
- Crás: 1
- Dargaud: 7
- Dark Horse: 3
- David Revoy: 1
- DC Comics: 15
- Les Éditions Albert René: 14
- Éditions Blake et Mortimer: 1
- FLBLB: 1
- Futuropolis: 1
- Gallery 13: 1
- Glénat: 5
- Hachette: 2
- Icon: 1
- IDW: 2
- Image: 8
- King Features Syndicate: 1
- Le Lombard: 3
- Lucky Comics: 2
- Marvel: 4
- McClelland & Stewart: 1
- McNaught Syndicate: 1
- Lo Scarabeo: 1
- Scholastic: 1
- Sergio Bonelli Editore: 2
- Shueisha: 8
- Tundra Books: 2
Do material estrangeiro, destaca-se a DC Comics com direito a 15 edições, Les Éditions Albert René com 14 publicações, a Image e a Shueisha, ambas com 8 edições, e a Dargaud com 7 publicações.
Quinquénio da edição original:
- 1945 – 1949: 2
- 1950 – 1954: 2
- 1960 – 1964: 2
- 1965 – 1969: 3
- 1970 – 1974: 1
- 1975 – 1979: 1
- 1980 – 1984: 1
- 1985 – 1989: 4
- 1985 – 1989: 2
- 1990 – 1994: 2
- 1995 – 1999: 4
- 2000 – 2004: 4
- 2005 – 2009: 5
- 2010 – 2014: 9
- 2015 – 2019: 55
- 2020: 25
As edições originalmente publicadas no quinquénio 2015-2019 correspondem a cerca de 45% das publicações de banda desenhada. Cerca de 20% foram originalmente publicadas este ano.
Originalidade:
- Inéditos mundiais: 20
- Inéditos em Portugal: 73
- Reedições: 29
As reedições correspondem a cerca de 24% das edições de banda desenhada no primeiro quadrimestre (no ano de 2019, as reedições corresponderam a 16% das obras editadas).
Publicações por editora:
- Ala dos Livros: 4
- Arte de Autor: 7
- ASA: 8
- Bertrand: 1
- Blue Ocean: 1
- Bubok: 1
- Calçada das Letras: 1
- Chili Com Carne: 2 ½ (3 publicações)
- Devir: 11
- Escorpião Azul: 3
- FA: 2
- G. Floy: 13
- Gailivro: 1
- Gradiva: 4
- Kingpin: 2
- Levoir: 16
- Libri Impressi: 2
- Liliana Maia (via Lulu): 1
- Lovers & Lollypops: ½ (1 publicação)
- Massacre: 1
- Midori: 2
- Nuvem de Letras: 7
- Oficina do Livro: 2
- Planeta: 1
- Planeta Tangerina: 2
- Polvo: 2
- Os Positivos: 1
- Renato Abreu: 1
- Salvat: 13
- A Seita: 5
- Serafim & Malacuéco Inc.: 2
- Tágide: 1
- Vogais: 1
Verifica-se então que, tal como nos 3 meses anteriores, a Levoir é o líder no segmento do mercado, com um total de 16 lançamentos. Quanto ao segundo lugar, é ocupado ex aequo pela G. Floy e Salvat, com 13 publicações cada. A Devir mantém o 4.º lugar, com um total de 11 lançamentos. Segue-se a ASA, com 8 publicações. Por fim, destacam-se ainda a Arte de Autor e a Nuvem de Letras, ambas com 7 edições.
Edições sobre BD:
- Câmaras Municipais: 0
- Edições de autor: 1
- Editoras especializadas em BD: 0
- Organizações especializadas em BD: 4
Do total de 5 publicações sobre BD, nenhuma teve distribuição para o grande público.
No próximo mês, verificaremos se existirá um acréscimo ou não do número de edições de banda desenhada.
nota: considerem-se os números apresentados neste artigo como pré-definitivos até à publicação do artigo referente ao ano de 2020.
imagem: Painel de personagens de BD em azulejaria no Parque das Nações, Lisboa (© Bandas Desenhadas, junho de 2020)
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.