O 14.º Prix Asie de la Critique ACBD foi ganho por Sansuke Yamada com a obra Sengo.
Ao longo dos anos, temos vindo a acompanhar o olhar atento que a Association des journalistes et Critiques de Bande Dessinée (ACBD) dedica ao manga editado no mercado franco-belga. Em 2020, a obra galardoada com o Prémio Ásia da Crítica ACBD foi Sengo (Areyo Hoshikuzu / あれよ星屑), da autoria de Sansuke Yamada, editada no mercado francófono pela Casterman na sua coleção Sakka.
Em 1945, na cidade de Tóquio recentemente destruída pela guerra, dois soldados desmobilizados encontram-se. Eles tentam regressar a uma vida civil que, em última análise, só tem o nome de civil. É que o país, derrotado, vê-se esvaído em sangue, enquanto o ocupante americano se impõe em todos os lugares. Mas isso não impede que um deles, bon vivant, desfrute plenamente do que ainda está disponível para ele, e que o outro, desiludido, tente dar um sentido à sua existência. Deste modo, Sengo, para além destas duas trajetórias individuais, propõe momentos de vidas estilhaçadas em que os personagens tentam – e geralmente conseguem -, da melhor maneira possível, apanhar os bocados. Sansuke Yamada realiza um tour de force naquele local: de um panorama de ruínas, ele extrai a essência, a dimensão barroca. Os personagens picarescos, a terna exibição de imperfeições, a hábil mistura com o burlesco e a emergência trágica ou súbita de violência sempre no fundo de uma ação aparentemente leve e jovial: tudo isso contribui para o desenvolvimento de um fresco agridoce com uma precisão notável, onde o riso ocupa o seu lugar. Se a lacuna deixada pela guerra (e a derrota) assombra literalmente cada um dos personagens presentes, é do lado dos vivos, dos sobreviventes, e não dos mortos, em que se centra o ângulo da história. A edição da série – terminada no Japão em sete volumes – pela Casterman também oferece ao leitor uma imersão ideal graças a uma tradução de alta qualidade, onde o discurso colorido dos protagonistas desta escola de desencantamento anima constantemente as suas aventuras.
Esta série de 7 volumes foi inicialmente serializada na revista Comic Beam da editora Kadokawa Shoten, já tinha sido galardoada em 2019 com dois prémios, o Prémio Cultural Tezuka Osamu na categoria Novo Criador e o Grande Prémio dos Prémios da Associação de Autores de Banda Desenhada Japoneses.
Para além de atribuir o prémio vencedor, a ACBD deu o devido destaque às restantes 4 obras nomeadas para o prémio:
- Blue Giant, de Shinichi Ishizuka (Glénat)
- Mauvaise herbe, de Keigo Shinzo (Le Lézard Noir)
- Ma vie en prison, de Kim Hong-Mo (Kana)
- La Vis, de Yoshiharu Tsuge (Cornélius)
Por outro lado, extra competição, o comité da seleção das obras da ACBD elaborou uma lista alfabética de 15 séries e livros, que recomenda:
- En proie au silence, de Akane Torikai (Akata)
- Getter Robot, de Go Nagai & Ken Ishikawa (Isan Manga)
- Gigant, de Hiroya Oku (Ki-oon)
- Himizu, de Minoru Furuya (Akata)
- Hi Score Girl, de Rensuke Oshikiri (Mana Books)
- Intraitable, de Choi Kyu-Sok (Rue de l’Échiquier)
- Kamuya Ride, de Masato Hisa (Vega)
- Les Liens du sang, de Shuzo Oshimi (Ki-oon)
- Maladroit de naissance, de Yaro Abe (Le Lézard Noir)
- Ma Maman, de Li Kunwu (Kana)
- Origin, de Boichi (Pika)
- Peuple invisible, de Shohei Kusunoki (Cornélius)
- Un pont entre les étoiles, de Kyukkyupon (Akata)
- La Voie du tablier, de Kousuke Oono (Kana)
- Zenkamono, de Masahito Kagawa & Tohji Tsukishima (Le Lézard Noir)
Como é habitual com as seleções da Associação dos jornalistas e Críticos de Banda Desenhada francesa, nenhuma das obras contempladas conhece edição portuguesa, seja o vencedor, nomeados ou lista de séries extra concurso.
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.