Retrospetiva e análise à série completa de Alias.
Após ter redigido dois artigos, respetivamente referentes a análises do volume 1 e volume 2 de Alias, neste último terei uma análise abrangente à série como um todo, dando inclusão aos dois últimos volumes, 3 e 4.
Quatro volumes, com um total de 28 números, completaram a série da Marvel (linha MAX), editada em Portugal pela G. Floy. Apesar de ter chegado a um término com o quarto volume, Brian Michael Bendis, o autor, não se ficaria por aqui e continuaria a desenvolver a personagem, Jessica Jones, no universo “regular” da Marvel, já fora da linha MAX. Terá sido mais tarde publicada a compilação dos títulos que seguiram Alias, com Bendis sempre atrás do argumento, editada em Portugal também pela G. Floy, num livro com o nome de Pulsar, em 2018 (e que a Devir tinha batizado mais de uma dezena antes como O Pulsar da Cidade no primeiro e único livro publicado por aquela editora em Portugal, após o qual descontinuou a publicação da série).
Alias: Jessica Jones tornou-se, sem dúvida, uma série interessante, diferente e original, destacando novamente Bendis de entre a vasta equipa de autores da Marvel. A linha MAX trouxe uma maior abertura para a exploração desta personagem, o que lhe garantiu um toque especial e o que trouxe um sucesso imediato à mesma. O que teria sido de Jessica Jones sem esta versão de Alias? Certamente não teria associada a si a mesma imagem que tem hoje.
Entre estes 4 volumes, a história de Jessica Jones desenvolve-se de uma forma quase autoconclusiva em cada um, podendo este ser um aspeto positivo para muitos leitores. Mas, por outro lado, o volume seguinte não seguir o caminho do enredo anterior pode ser também um ligeiro entrave, rompendo em parte com a continuidade consequente da série.
Cada volume é um caso novo para as Investigações Alias, mas nem sempre estes casos contribuem para o desenvolvimento do motivo principal da série (que muitas vezes parece não ser concreto). No fundo, parece-me que Bendis não se quis focar apenas na personagem, mas sim nas investigações decorridas e daí que a série original se chame Alias, em vez de “Jessica Jones”.
Com este artigo, não idealizava fazer comparações diretas entre a série de BD e a sua adaptação à série televisiva, tal como não o fiz nos artigos anteriores. Portanto, deixo apenas em aberto, para quem viu a série e não leu a BD ou vice-versa, que, apesar da clara inspiração, são dois meios muito diferentes e com resultados, também muito diferentes. Não vou dar favoritismo a nenhum deles, mas se, por um lado, a série se foca mais em explorar o desenvolvimento dos personagens, por outro, a BD foca-se em trazer novidades à vida de Jessica Jones com novos casos, novas pessoas, etc. Em qualquer um dos meios, apesar das claras diferenças, as premissas e os diferentes pontos de vista sobre a personagem são igualmente interessantes e cativantes.
Quanto à arte de Michael Gaydos para Alias, poderei ter referido anteriormente algo como uma escolha muito bem feita e que dá à série um ambiente único, que parece transmitir exatamente o que Bendis pretendia. Todavia, terei referido, já no segundo artigo, que a reciclagem e repetição de painéis se vai começando a tornar um tanto desinteressante e, por vezes, até, mal-executada. Este é o estilo de arte de Gaydos, um desenho bastante fotográfico e que, se inicialmente parece interessante no ambiente da obra, vai aos poucos caindo em exaustão. A quantidade de arte reciclada ao longo dos quatro volumes é inacreditável e, bem sei que vai sendo algo já cada vez mais comum ao longo dos anos em algumas das obras da Marvel, mas sou daqueles leitores que procura a excelência máxima no artista e o facilitismo presente no trabalho de Gaydos para esta série não é prova da mesma.
Refiro ainda que, apesar da série não ser focada em momentos de pura ação, nos excecionais momentos em que estes momentos ocorrem, a arte não o consegue executar de forma expressiva, ficando muito aquém e passando uma imagem muito estática de um desenho sem movimento.
Bendis salva a série com a sua impressionante narrativa e com os diálogos, simples e rotineiros, mas interessantes, com uma certa mística associada à personagem Jessica Jones.
No final a série não deixa perplexidade, choque ou melancolia, não me deixou fervor por ler mais, porque, embora deixado em suspense, a conclusão não revela grande êxtase. Julgo que poderia ter havido um desenvolvimento diferente e Bendis poderia ter-nos apresentado o grande arqui-inimigo de Jessica Jones ao longo de todos os volumes de uma forma subtil, até chegarmos ao grande clímax. Em vez disso, parece ter sido apresentado de forma muito repentina e, no final, é-nos revelado um passado que nem nos havia sido levemente introduzido antes. Com isto, não estou a afirmar que esse arco terá ficado mal explicado ou com pontas soltas, até porque estamos a falar de um volume inteiro dedicado ao “Homem-Púrpura” e ao passado de Jessica, mas parece ser uma ligação à protagonista, que nos é completamente desconhecida e, praticamente, não terá deixado indícios até ao último livro, acabando por quase parecer apenas mais um caso de investigação e não tanto uma situação de grande impacto na vida da protagonista, se é que me faço entender.
Não vou deixar de ler Pulsar por isso e espero que me traga mais razões para gostar da série. Quero muito conhecer mais da personagem e, se em Alias nem tudo foi bom, Jessica Jones e o seu carisma são o ponto alto que Bendis nos deixa e, só por isso, já é uma série que vale a pena, com certeza.
Rafael Marques tem 24 anos durante o ano de 2020. É músico em Lisboa e faz disso a sua profissão. A restante parte do seu tempo é dedicada ao sono, ao gaming e à leitura de banda desenhada, que terá descoberto como uma das suas maiores paixões entre 2018 e 2019, quando se envolveu numa relação com uma artista/ilustradora. Rafa é um apaixonado por tudo aquilo em que trabalha. Em segredo, escreve argumentos para banda desenhada, que são executados em belas pranchas pela sua companheira. Ainda sonha um dia vir a ser mordido por uma aranha radioativa…