Criminosos para Todos os Gostos

Criminosos para Todos os Gostos

Duplo mérito no primeiro livro de Criminal.

Após um ano da publicação nacional do primeiro livro de Criminal, a G. Floy conseguiu já editar os primeiros três livros da série (compilando os seis primeiros volumes, originalmente editados pela Icon) e ainda Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados (one-shot da série, neste caso, editado originalmente pela Image Comics).

A quantidade de histórias que Ed Brubaker e Sean Phillips nos vão fazendo chegar desde 2006 (ano em que começaram a publicação da série) é bem generosa.

Os prémios falam também por si e, se a série tem sido tão bem recebida pelos leitores e pela crítica, o trabalho de Brubaker e de Phillips não tem como passar despercebido. Nos EUA, Criminal garantiu aos autores seis prémios Eisner e dois prémios Harvey, tendo estes sido os maiores galardões alcançáveis naquele país. E em Portugal, foi galardoada com o Prémio Bandas Desenhadas 2019 para Melhor Série.

Hoje falamos do primeiro livro da série. Este compila os primeiros 10 números, consistindo em dois arcos diferentes, Cobarde e Lawless.

Criminal tem mostrado o seu potencial crescente, que não parece ver forma de abrandar e, em Portugal, tem sido uma forte aposta da G. Floy, ganhando também a sua popularidade entre os leitores.

Ed Brubaker e Sean Phillips têm vindo a ser referidos inúmeras vezes como uma das maiores duplas atuais na banda desenhada. A verdade é que o duo parece, de facto, estabelecer uma naturalidade profissional muito fluída e capaz.

O traço de Phillips encaixa no estilo que, provavelmente, mais veremos associado ao género em que se insere. Claro que a banda desenhada não define uma regra quanto a estilo artístico para determinado género literário, mas em criminais ou policiais parece haver uma constante utilização do traço fotográfico, com uma grande aproximação ao realismo, inclusiva.

Phillips tem, todavia, uma abordagem bastante assente nos padrões da banda desenhada. Com isto quero dizer que, embora Criminal tenha o seu próprio ambiente, definido pelo artista, vamos sempre encontrar as habituais referências à banda desenhada mais “clássica”, como os efeitos sonoros, ou mesmo a forma como os disparos são ilustrados, entre outros. Neste ambiente sente-se, inclusivamente, uma forte presença cinematográfica, mas que, muito bem, nos mantém dentro das vinhetas graças à utilização das referências a me refiro.

Devo acrescentar ainda o esforçoso trabalho, de congratular, que Phillips tem ao não utilizar a repetição de ilustrações em vinhetas sequenciais, caso que acontece muito recorrentemente com grandes editoras e não só, como terei referido em artigos anteriores quanto à arte de Michael Gaydos em Jessica Jones: Alias, que encontra as suas semelhanças no traço. Poderei estar errado, mas não me recordo de ver uma única imagem “copia e cola” nas páginas de Criminal – Livro 1.

Em Criminal, Brubaker desenvolve um universo sombrio, visto do lado de dentro das redes criminosas. Os arcos não seguem o desenvolvimento duma mesma história ou dos mesmos personagens, embora estes sejam um elo de ligação entre os mesmos. Acabamos por reencontrar personagens de Cobarde no arco de Lawless, embora estes passam então a ter um menor destaque. O mesmo acontece com alguns dos locais utilizados. Com isto, refiro-me ao primeiro livro, não sabendo ainda o que me espera nos segundo e terceiro.

Apesar de se passar na época contemporânea, o ambiente do universo Criminal passa muito bem o sentimento de história “pulp noir” ambientada fora do seu tempo. Isto deve-se também em grande parte ao trabalho das cores por Val Staples.

Com Criminal, Brubaker e Phillips convenceram-me de que as séries policiais de BD podem ser bastante interessantes e menos monótonas. Parece-me que, afinal, também há espaço para este género na minha estante, um género do qual sou pouco apreciador, mas que o autor me convenceu a dar uma oportunidade. Isto poderá dever-se à originalidade das suas premissas, ao foco dado aos personagens e às suas relações pessoais, ao invés do puro e simples golpe criminoso. A exploração de arcos diferentes com personagens diferentes e ainda os finais que, embora não tenham de ser grandiosos ou chocantes, são sempre inesperados.

Brubaker consegue levar o género a novos lugares e a um novo público. Criminal não é uma série exclusiva a amantes do género policial, mas sim uma série para quem gosta de banda desenhada em geral.

Há muito mais que se lhe diga sobre este primeiro Criminal, muito a acrescentar, mas fico a guardar comentários para uma futura análise ao prosseguimento da série, cuja crítica ao segundo livro já pode ser lida. Para já, fica a sugestão de leitura para quem ainda não pegou nesta série por receio de não apreciar o género. O duo Brubaker e Phillips faz, certamente, valer a pena conhecer o trabalho criativo e profissional que apresentam em conjunto.

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