O deserto mal morto

O deserto mal morto

Relendo Carneiro Mal Morto.

Este fanzine foi criado em mil novecentos e noventa e oito. Por extenso fica ainda mais antigo. E sobreviveu, até hoje, no armário que era das costuras da minha avó e de cenas que já nem recordo bem. Quando o revejo, releio, tenho vontade de ouvir música e sei que este zine puxa para a música… Gótica. Sei? Sei porque o sinto. Não por ser verdade, mentira ou realidade. Como não conheço assim muita música refundida acabo por ouvir Peter Murphy e o seu belíssimo “Marlene Dietrich’s favorite poem”.

Também associo ao existencialismo. Pela solidão. Todavia, menos. Muito menos. Acho que é de amor que falam os autores. Pois…impossível falar de amor sem falar de solidão, se calhar. Por oposição. Não quer dizer que Camus não falasse de amor. Mas devo estar algo confusa porque O Estrangeiro de Camus faz-me associar ao Crime e Castigo de Dostoievski. Isto são tudo pontapés no deus dos livros. Como quando alguém mais antigo nos diz: “dás pontapés em Deus”. E é tudo menos o que queres fazer. Contudo, não tens culpa do teu cérebro fazer estas associações 🙁 .

Bom, voltando ao zine e ano de mil novecentos e noventa e oito. Ao deserto. Como é bom ler e ouvir alguém falar do deserto. E mais uma vez associo à existência de um limbo. Entre a morte e a vida. O amor e a Solidão. Recordo também uma paz estranha quando se fala nas coisas que doem ao encontrar um ouvinte. Um Bom ouvinte. Para uma boa história sobre o deserto. Sobre a possibilidade do milagre de estar vivo. E não, não é assim tão banal por esse universo fora.


Rafael Gouveia nasceu em 1972, em Lisboa. É desde 1996, autor e editor dos fanzines Carneiro Mal Morto e Dead Doll House. Instigador do projecto Eye Scream Magazine. Tem colaborado em diversas revistas e fanzines como autor de banda desenhada e artista gráfico (p.e., Bíblia, Mesinha de Cabeceira, Quadrado). Tem intervido em diversas exposições colectivas de banda desenhada e artes plásticas. Em 1999, publicou “O Manuscrito Durruti” para a colecção Lx Comics da Bedeteca de Lisboa. Participou nas antologias Futuro Primitivo Mesinha de Cabeceira #23: Inverno, bem como na letã š! #20: Desassossego.

Carneiro Mal Morto #2
Rafael Gouveia, Daniel Dias
Páginas: 20, preto e branco
Editora: Chili Com Carne (com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa)
Dimensões: A4
Data de edição: Março de 1988
Tiragem: 1000 exemplares

Deixa um comentário