Ser Jovem no Médio Oriente (1987-1992)
Após a Teorema editar em Portugal anualmente a série O Árabe do Futuro entre 2005 e 2007, em 2008 – ano em que foi publicado no mercado francófono o quarto volume pela Allary Éditions – tal não aconteceria, tendo os leitores de aguardar até à presente data pela continuação da mesma.
Apesar de Sattouf ser um reconhecido autor de banda desenhada, não será de estranhar que o primeiro contacto com a sua obra em Portugal se tenha realizado através não da BD mas sim do cinema. Que Belos Rapazes, um filme deste também realizador de cinema, estreou no nosso país em 2009.
No que toca à BD, Sattouf estreou-se no nosso país com um dos seus dois álbuns que foram galardoados com a Fauve d’Or para o Melhor Álbum do Ano no Festival Internacional de BD de Angoulême. O Árabe do Futuro: Ser Jovem no Médio-Oriente (1978-1984) foi premiado em janeiro de 2015, tendo também no seu currículo o Grande Prémio RTL 2014 para o Melhor Livro de BD do Ano e o Prémio para a Melhor BD no Festival do Livro Saint-Étinenne 2014.
O primeiro tomo da série surgiu no nosso país num momento em que já apresentava o estatuto de bestseller em França e com tradução em 16 línguas, o que provavelmente facilitou a decisão da edição nacional.
Segundo o autor, a ideia para a concepção desta obra teve origem em março de 2011, com o início da guerra civil na Síria. Sattouf nasceu em França, sendo descendente de um pai sírio e uma mãe bretã. Em tenra idade, emigrou juntamente com a família para a Líbia e posteriormente para a Síria. E são as suas vivências infantojuvenis que são contadas neste livro, demonstrando o autor em pleno domínio da técnica narrativa, com uma elegante subtileza que confere aos livros uma leitura rápida, embora intensa. Provavelmente, estes são dois dos pontos do sucesso da obra, sendo o terceiro o olhar sociológico do estrangeiro e o quarto os países (e época) abordados.
Nesse sentido, a série aproxima-se mais das obras de Delisle do que Satrapi, com quem é com alguma frequência comparado. No entanto, se existe um olhar “estrangeiro” na obra de Satrapi, é algo que surgiu posteriormente às vivências narradas, ao contrário de Sattouf. Isso em nada enfraquece nenhuma das obras, obviamente. E talvez não as distinga assim tanto: em O Árabe do Futuro é também posterior às vivências a seleção do que contar e como contar.
Esta crónica é, na sua essência, familiar. Poderia ser estruturada de igual forma se a família tivesse emigrado para outro país, independentemente a que continente este pertencesse. Existiriam sempre diferenças socioculturais com o país de origem que permitiriam a comparação e necessidade de adaptação. Esse é o cerne da narrativa. O facto de se tratar da Líbia de Kadafi e da Síria de Hafez Al-Assad confere-lhe provavelmente mais interesse aos leitores ocidentais, prevenindo-se contudo que na obra encontrarão apenas pequenas pistas sobre as questões políticas da época, o que poderá despertar o interesse em aprofundar os conhecimentos com outro tipo de leituras.
A chave do livro para a questão política está provavelmente na abordagem que o Sattouf faz do seu pai. Apesar de ser o herói do autor em tenra idade, Sattouf expõe a visão que este tem do mundo, sendo a mesma frequentemente minada pelo autor. Afinal, como referi, a sua visão é de um estrangeiro, o que permite ao leitor também estranhar algumas decisões e comportamentos, empatizando com a criança (ledo engano, não é a criança que narra) que nos conduz pela história.
Projetado inicialmente como uma trilogia, O Árabe do Futuro viria a ser mais tarde apresentado como uma tetralogia e atualmente pensa-se que serão no total, pelo menos, 5 tomos, apesar de ainda não ter sido editado mais nenhum livro desde este quarto volume.
Este volume cobre os anos 1987 a 1992, o que corresponde sensivelmente à idade de 9 a 14 anos do autor, acompanhando o leitor da obra o seu adeus à infância e início da sua adolescência, na sua vida entre a Europa e o Médio-Oriente.
O livro tem a sua distribuição agendada no mercado livreiro para o dia 1 de setembro, mas já se encontra disponível na Feira do Livro de Lisboa.
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Eis a sinopse da editora:
Este 4.º volume da série mundialmente aclamada O Árabe do Futuro cobre os anos 1987-1992. Com 9 anos de idade no início da narrativa, neste tomo o pequeno Riad vai tornar-se adolescente. Uma adolescência tanto mais complicada quanto ele se sente completamente dividido entre as suas duas culturas – a francesa e a síria – e assiste à progressiva deterioração da relação entre os pais. O pai foi trabalhar sozinho para a Arábia Saudita e, após uma peregrinação a Meca, vira-se cada vez para a religião… A mãe, cansada de o seguir para todo o lado durante anos, não consegue suportar esta inclinação religiosa do marido e regressa a França com os filhos… Até que o marido aparece inesperadamente para levar de novo toda a família para a Síria.
RIAD SATTOUF
De origem franco-síria, Riad Sattouf nasceu em Paris em 1978. Passa a sua infância na Argélia, na Líbia e na Síria, onde recebe uma educação muçulmana. Regressa a França com 12 anos de idade, prosseguindo os seus estudos primeiro em Cap Fréhel e mais tarde em Rennes, onde cursa a Escola de Belas-Artes. É atualmente um autor de BD de grande sucesso, tendo assinado, entre outras obras, Retour au collège, Pascal Brutal (Fauve d’or 2010) ou La vie secrète des jeunes, que publicou semanalmente em “tiras”, entre 2004 e 2014, na revista Charlie Hebdo. Em Portugal, foi também publicado em dois volumes o primeiro álbum de O Diário de Esther (nomeado para os Prémios Bandas Desenhadas 2019). É igualmente um (re)conhecido cineasta, tendo realizado Les Beaux Gosses, galardoado com um César para o Melhor Primeiro Filme em 2010, e Jacky au Royaume des Filles, que estreou em França nos inícios de 2014.
O Árabe do Futuro 4: Ser Jovem no Médio Oriente (1987-1992)
Riad Sattouf
Editora: Teorema
Páginas: 280, a cores
Encadernação: capa mole com badanas
Dimensões: 17,1 x 24 cm
ISBN: 9789896608187
PVP: 23,90€
Fundador e administrador do site, com formação em banda desenhada. Consultor editorial freelance e autor de livros e artigos em diferentes publicações.